Raquel Lyra coloca empresário que financiou sua campanha no comando do PSDB em PE

Escolhido por governadora tucana é visto como inexperiente politicamente, o que gera insatisfação interna

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Recife

A governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, indicou o empresário Fred Loyo para sucedê-la na presidência do PSDB no estado. Ele foi um dos financiadores da campanha da tucana nas eleições de 2022.

A governadora confirmou na segunda-feira (20) a troca de comando em reunião com os três deputados estaduais do partido. Fred Loyo é um dos principais empresários do setor de hotéis em Pernambuco.

Ele foi candidato a primeiro suplente de senador na chapa do candidato derrotado Guilherme Coelho (PSDB) em 2022, quando declarou à Justiça Eleitoral um patrimônio de R$ 6,6 milhões, um dos maiores dentre candidatos majoritários no estado.

Raquel Lyra durante discurso na Câmara Municipal de Caruaru (PE) - @Raquel Lyra no Facebook

Na campanha de 2022, Fred Loyo doou R$ 70 mil para a campanha de Raquel Lyra, de acordo com a plataforma DivulgaCandContas, do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Foram dois repasses: um de R$ 50 mil, em 2 de setembro, e outro de R$ 20 mil, em 16 de setembro, ambos via transferência eletrônica.

As doações de pessoas físicas e de recursos próprios são legais atualmente para campanhas eleitorais, obrigatoriamente com o CPF do doador identificado.

Os negócios de Fred Loyo, 52, se concentram, sobretudo, na região de Porto de Galinhas, o principal balneário e destino turístico de Pernambuco, localizado na região metropolitana do Recife.

A posse do empresário no comando do PSDB pernambucano não está marcada. Uma convenção do partido está prevista para a próxima semana, mas não há confirmação se haverá a definição do novo presidente nesta reunião.

A nomeação de Loyo para comandar o partido também tem efeitos políticos. Há insatisfação entre deputados estaduais do partido por se tratar de um nome inexperiente politicamente.

Fred Loyo em pé segura um microfone com a mão e com a outra gesticula. Sentados, Raquel Lyra e o ex-senador Armando Monteiro
O empresário Fred Loyo, que foi um dos financiadores da campanha de Raquel Lyra ao Governo de Pernambuco - Janaína Pepeu/Divulgação

Um dos que ficaram contrariados é o presidente da Assembleia Legislativa, Álvaro Porto, com quem Raquel tem uma relação tensa e de desconfianças ao longo do ano, mesmo sendo também do PSDB. Álvaro tem buscado a marca de independência do Legislativo, o que desagrada a correligionária.

A principal queixa de Álvaro, segundo interlocutores, é de falta de diálogo por parte da governadora sobre a escolha de Loyo. O presidente da Assembleia disse a Raquel Lyra, no encontro, que cerca de 15 candidatos a prefeito do seu grupo político para as eleições de 2024 não vão se filiar ao PSDB.

Também sinalizou a Raquel que poderia assumir o comando do PSDB caso tivesse o aval da governadora, o que não aconteceu.

Álvaro Porto foi reeleito para a presidência da Assembleia na semana passada, com 40 votos favoráveis dentre os 49 parlamentares. O placar folgado foi visto como um recado do Legislativo.

A votação, que estava prevista apenas para 2025 e vale para o biênio 2025/2026, foi antecipada, o que desagradou a tucana. Os deputados querem melhoria na articulação política e mais diálogo do Executivo em votações de projetos.

O líder do governo na Assembleia Legislativa, Izaías Régis, porém, avalia positivamente o futuro presidente do PSDB. "Ele é um empresário bem-sucedido, preparado e novato. Temos que renovar como um todo. Ele participou da campanha de Raquel em 2022", afirma.

"Não é que ela vai sair do partido, é que ela está sem tempo [para presidir o PSDB]", completa o líder do governo.

Outros aliados da governadora reservadamente não descartam que a troca no comando do PSDB, atualmente presidido por ela própria, tenha relação com uma possível futura mudança partidária.

A leitura dessa ala é que a governadora poderá em breve comandar outro partido, enquanto mantém um aliado de primeira hora, Fred Loyo, no comando do PSDB-PE.

Os principais fatores para eventual troca de partido são a perda de musculatura política do PSDB e o movimento para se aproximar do presidente Lula (PT). Os tucanos são adversários históricos do PT no plano nacional.

Mesmo com o PSDB sob fragilidade, comandar o partido no estado interessa a Raquel para garantir mais tempo de propaganda eleitoral no rádio e na televisão em 2026.

O PSD, que tem três ministérios no governo Lula, é o partido mais cotado no atual momento, mas não há tratativas concluídas nem portas fechadas a outras legendas de centro.

O partido entrou na base aliada de Raquel em setembro, após romper com o prefeito do Recife, João Campos (PSB), e é comandado no estado pelo ministro da Pesca de Lula, André de Paula.

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