Áudio vaza e expõe crítica de deputado a Raquel Lyra; governadora fala em violência política

Governadora esteve na sessão de abertura do ano Legislativo após entrar com ação no STF

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Recife

O presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco, Álvaro Porto (PSDB), criticou a governadora Raquel Lyra (PSDB) em fala vazada na transmissão da sessão de abertura dos trabalhos do Poder Legislativo em 2024.

Raquel esteve presente na cerimônia e fez um discurso, assim como o presidente da Casa, o vice-líder do governo, Joãozinho Tenório (PRD), e a líder da oposição, Dani Portela (PSOL).

governador raquel lyra cumprimenta com a mão o presidente de assembleia
O presidente da Assembleia de Pernambuco, Álvaro Porto, com a governadora Raquel Lyra - Lucas Patrício/Divulgação

Após o discurso, Raquel Lyra cumprimentou os integrantes da Mesa Diretora e deixou o plenário. Enquanto a governadora cumprimentava os deputados, o presidente da Assembleia conversou com auxiliares com o microfone aberto.

"O discurso de Dani [Portela] e da governadora deu uma hora [de duração]", diz um interlocutor. Em seguida, Álvaro responde: "E o dela eu não entendi nada, conversou merda demais e não disse nada".

Outro interlocutor diz na sequência: "Podia ter perguntado onde é esse estado" ao qual a governadora se referiu. "Eu também queria saber, está aberto aqui [o microfone]. Posso até perguntar", disse Álvaro, em tom irônico. Durante discurso, Raquel Lyra elencou ações do governo em 2023 e fez promessas para 2024.

Em entrevista à Rádio Transamérica do Recife sobre o episódio, a governadora disse que o ato foi uma violência política e que ele revela o que mulheres sofrem na política.

"É algo lamentável a ser dito pelo presidente de um Poder. É um ato de violência política o que se passou, às vezes é em gestos, em atitudes, em ações e hoje foi em voz. Lamento porque isso não está à altura do que Pernambuco representa, um diálogo fora de propósito, e revela o que uma mulher sofre nos espaços de poder."

Em nota após o áudio vazado, Porto disse que "usou uma expressão não condizente com o contexto e local". Argumenta ainda que não fez referência "à pessoa da governadora, mas ao discurso proferido por ela".

Adiciona ainda que, apesar de admitir que não deveria ter usado a palavra que usou, reafirma que considera o teor do discurso da governadora desconectado com a realidade vivida em Pernambuco e que sua reação é fruto de indignação em relação ao que vê como falta de resultados do governo.

Após a repercussão das falas vazadas, o canal oficial da Assembleia Legislativa retirou do ar o vídeo no YouTube. A prática não é comum, já que outras sessões de 2023 seguem na plataforma do Legislativo estadual.

Apesar de serem do mesmo partido, Álvaro Porto e Raquel Lyra têm relação turbulenta desde o ano passado. Ele, inclusive, já foi reeleito antecipadamente para a presidência da Assembleia até 2026, a contragosto do Poder Executivo.

Em nota, a Comissão Executiva Nacional do PSDB manifestou solidariedade a Raquel e repudiou "comentários agressivos contra ela emitidos pelo presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco, Álvaro Porto".

"Nosso partido luta incessantemente para que as mulheres sejam protagonistas de verdade na política e em todos os espaços de poder. Nós, tucanos, temos muito orgulho de termos eleito uma jovem e competente mulher como governadora de Pernambuco e não podemos tolerar manifestações agressivas contra ela, venha de quem vier. Muito menos de um deputado do próprio PSDB", diz a manifestação.

O PSDB nacional ainda diz que o Conselho Nacional de Ética e Disciplina do partido "está pronto para avaliar eventuais medidas disciplinares contra o deputado Álvaro Porto" e a legenda "está à disposição da governadora Raquel Lyra também para apoiá-la em eventuais medidas jurídicas que se fizerem necessárias".

A interlocutores a governadora de Pernambuco disse que vê machismo no episódio e que a fala de Álvaro Porto teria deixado claro que ele age no campo pessoal nos embates com o Executivo. Raquel Lyra também teria dito a pessoas próximas que não tem mágoa pessoal com Álvaro Porto, mas que está insatisfeita com atitudes políticas dele.

Como mostrou a Folha, o entorno da governadora acredita que o deputado tucano quer assumir o Executivo no futuro, derrubando Raquel e a vice-governadora Priscila Krause (Cidadania). Álvaro Porto nega a intenção a seus assessores e colegas de Parlamento.

A reportagem procurou a Assembleia para saber a posição do Casa e de seu presidente após o episódio desta quinta (1º).Também foi procurada a governadora Raquel Lyra, por meio da assessoria do Governo de Pernambuco, para se manifestar oficialmente. Ambos não responderam aos contatos.

A ida da governadora à Assembleia nesta quinta (1º) aconteceu em meio à nova tensão gerada após o governo de Pernambuco entrar com ação no STF (Supremo Tribunal Federal) para defender a derrubada de trechos da lei do Orçamento aprovada pelos deputados em 2023.

A ação do governo gerou repercussão negativa na Assembleia. Nem os aliados próximos da governadora, minoria na Casa, foram a público defender o governo. Os trechos suscitados foram vetados pela governadora e depois derrubados pelos deputados por 30 votos a 10, em derrota que expôs a fragilidade da base governista na Casa.

A nova crise envolve ainda o Poder Judiciário e outras instituições. Isso porque um dos pontos questionados pelo governo no Supremo é a necessidade de partilha de sobras do Orçamento de 2023 com outros órgãos.

Na divisão do excesso de Orçamento, devem receber verbas extras das sobras a Assembleia (R$ 71 milhões), o Tribunal de Contas (R$ 51 mi), a Defensoria Pública (R$ 18,9 mi), o Ministério Público (R$ 65 mi) e o Tribunal de Justiça (R$ 177 mi). Ao todo, o Tesouro estadual terá que destinar R$ 384 milhões a mais aos Poderes, segundo o governo.

Em reação ao governo, Álvaro ligou para os presidentes dos órgãos que poderão ser impactados no Orçamento repudiando a ação do governo no Supremo. Na terça (30), a Casa publicou uma nota em que tece críticas ao Executivo estadual.

A Assembleia afirmou que a governadora deveria "encontrar soluções para os problemas que afligem o povo pernambucano nas áreas de saúde, segurança, educação e tantas outras".

Em manifestação nesta quinta (31) ao STF, a Assembleia classificou a medida do governo como "inadmissível ataque ao Poder Legislativo" e defendeu a rejeição dos pedidos do Executivo.

A relação de Raquel Lyra com a Casa está desgastada desde 2023, quando foram aprovados dois conselheiros para o TCE a contragosto da governadora, incluindo um sobrinho de Álvaro Porto. Depois, Álvaro foi reeleito para a presidência até 2026 em eleição antecipada.

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