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Gripen vence F-16 e é escolhido como novo caça da Tailândia

Primeira vitória externa desde venda para o Brasil é boa notícia para FAB, mas pode impactar entregas

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São Paulo

A Tailândia selecionou a nova geração do caça sueco Gripen para renovar sua frota de aviação de combate, na primeira vitória externa do modelo desde que foi comprado pelo Brasil em 2014. A aeronave derrotou o americano F-16.

A escolha é boa notícia para a FAB (Força Aérea Brasileira), pois amplia o mercado do avião que só ela e a Suécia compraram, o que gera uma expectativa maior de sobrevida do modelo. Por outro lado, pode haver impacto no ritmo de entrega dos 36 caças comprados pelo Brasil, que pelo plano inicial deveriam estar todas voando em 2023.

O Gripen E de matrícula 4101, o primeiro em uso pela Força Aérea Brasileira

Inicialmente, deverão ser comprados entre 12 e 14 aviões do modelo E, para um piloto, e futuramente o F, para dois aviadores. Hoje a Tailândia tem uma das mais versáteis frotas do Sudeste Asiático, com 11 Gripen da geração anterior, C/D, comprados em dois lotes, em 2008 e 2010.

Os são apoiados por uma frota maior de 50 F-16 antigos, comprados em várias etapas de 1988 a 2003 —em 2005, Singapura doou 7 caças do tipo para Bangkok. Essas são as aeronaves que deverão ser aposentadas primeiramente.

O anúncio é um alívio para a Saab. As duas primeiras gerações do Gripen, A/B e C/D, foram compradas pela Suécia e exportadas para Hungria, República Tcheca, África do Sul e Tailândia, além de algumas unidades operadas no Reino Unido para treinamento.

Mas o Gripen E/F, que tem 60 encomendas de Estocolmo, até aqui só havia sido vendido no Brasil, vinha perdendo concorrências importantes —em especial na Europa, onde o americano F-35 tem se tornado o caça padrão dos países da Otan (aliança militar ocidental).

A Hungria até anunciou uma nova compra de talvez 12 Gripen, mas são do modelo anterior, que já operava. Com o estrangulamento do mercado europeu, um processo acelerado pela percepção de risco da Guerra da Ucrânia, os suecos passaram a olhar para outras clientelas.

Na América do Sul, a Colômbia é seu foco, com impacto direto no Brasil: se vencer o F-16 por lá, a Saab provavelmente irá ampliar a sua linha de produção na fábrica da parceira Embraer em Gavião Peixoto (SP), que está na fase final de montagem do primeiro modelo E. Dos 36 Gripen da FAB, 15 em tese sairão de lá.

Já a Tailândia deverá ser abastecida pela matriz sueca. O avião a ser comprado pelos asiáticos já tem elementos brasileiros, como seu painel de visor único. Se adotar o modelo de dois lugares, comprará uma aeronave que teve boa parte de seu desenvolvimento feito por engenheiros brasileiros.

Mas há outras considerações, a começar pelo impacto no fornecimento ao Brasil. Até aqui, foram entregues 7 aviões, 1 deles sendo usado na campanha de testes. A FAB esperava fechar o ano com 11 Gripen para um piloto. No ano que vem, o cronograma previa 4 aviões, 2 deles para dois pilotos. O restante da encomenda viria de 2026 a 2027.

Isso dificilmente será alcançado, e quando foi questionada pela Folha sobre o tema em junho, a Saab preferiu não se comprometer com prazos.

Os problemas passam pelos diversos atrasos orçamentários durante o desenvolvimento do avião. Apesar de o valor do contrato, que em valores de hoje ronda os R$ 20 bilhões, ter sido financiado, o Brasil tem de desembolsar parcelas antecipadas para fazer o Gripen voar.

No ano passado, foi o programa militar mais dispendioso do país, com R$ 1,2 bilhão executados no Orçamento. Agora, com a faca dos cortes da Fazenda mirando verbas militares, os temores de novos atrasos voltaram a circular.

Além disso, há a questão geopolítica. A Suécia abandonou 200 anos de neutralidade militar e aderiu neste ano à Otan para se proteger do risco de um enfrentamento com os russos, que invadiram a Ucrânia em 2022. Isso levou a pressões para aumentar o ritmo de entrega dos primeiros 60 Gripen E por lá.

A Força Aérea do país nórdico pretende colocar em operação os primeiros novos aviões no ano que vem, ao lado dos 96 Gripen C/D que já opera.

A perspectiva de atraso levou a um movimento inesperado pela FAB, que abriu consulta sobre a eventual compra de um lote usado de F-16 americanos no mercado. Na prática, a medida visa pressionar os suecos com prazos e também a melhorar as condições de uma negociação que pode trazer mais 14 caças para o país.

Procurada, a fabricante sueca ainda não respondeu questionamentos sobre o impacto da venda tailandesa no Brasil. Afirmou em nota que o negócio "é obviamente muito positivo para a Saab e para a Suécia, mas, neste momento, não há contrato ou pedido formalizado". A empresa diz que "está focada em continuar as discussões sobre as futuras capacidades de caça para a Tailândia".

Cada cliente molda o caça às suas necessidades. No caso tailandês, por exemplo, os Gripen atualmente em uso foram modernizados e tem uma capacidade de ataque marítimo ampliada, com o míssil antinavio RBS-15, da própria Saab. O Brasil, por sua vez, prioriza capacidades ar-ar com o míssil europeu Meteor, o mais sofisticado do tipo na América Latina.

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