Descrição de chapéu forças armadas

Brasil agora quer 50 caças Gripen e acordo da Embraer com Suécia

FAB reduz plano de frota de 66 aviões para fazer compra no atual contrato, com KC-390 no negócio

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São Paulo

O governo brasileiro reduziu seu plano de expansão da frota de caças Saab Gripen de 66 para 50 unidades, a fim de acelerar a compra com um aditivo ao atual contrato de compra do avião da Suécia. Além disso, negocia como contrapartida a venda de até quatro modelos de transporte militar Embraer KC-390 para o país nórdico.

O arranjo vem sendo discutido no âmbito do Ministério da Defesa e ainda não foi apresentado oficialmente aos suecos. Nesta terça (26), o titular da pasta, José Mucio, afirmou no Rio que irá a Estocolmo no mês que vem para discutir a venda dos KC-390, mas não mencionou detalhes da proposta.

Caça Gripen e o avião de transporte KC-390 da FAB na Base Aérea de Anápolis, em Goiás
Caça Gripen e o avião de transporte KC-390 da FAB na Base Aérea de Anápolis, em Goiás - Johnson Barros - 22.out.21/Força Aérea Brasileira

Segundo a Folha ouviu de pessoas que participam das conversas entre as partes, a ideia brasileira é a de usar a provisão do contrato assinado pelos dois países em 2015, um ano depois da formalização da escolha do Gripen como caça padrão da FAB (Força Aérea Brasileira).

Segundo o acordo, os brasileiros podem aumentar o pedido atual de caças, 36 unidades, dentro dos parâmetros já estabelecidos, como um aditivo equivalente a no máximo 25% do valor inicial da compra —39,3 bilhões de coroas suecas, que equivaleriam se trocadas numa casa de câmbio hoje a R$ 17,7 bilhões.

Numa conta simplificada, já que os valores são desembolsados aos poucos e ainda serão abatidos do financiamento junto ao governo sueco por 25 anos, isso equivale a um gasto potencial de mais R$ 4,5 bilhões pelo Estado brasileiro.

No começo do ano passado, o então comandante da FAB, brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior, disse à reportagem que o plano era chegar a uma frota de 66 aeronaves. Só que isso implicaria um novo contrato, algo de intrincada negociação. Daí o estudo pelo aditivo de um pedido menor.

Já chegaram ao Brasil seis Gripen E, para um piloto, dois a menos do que o previsto pela FAB, um atraso por ora considerado normal.

Para viabilizar o aditivo, cortes de custo adicionais podem ser necessários, e isso ajuda a explicar a mudança de planos na construção de 15 dos 36 aviões no Brasil. Em princípio, ao menos 8 deles seriam do modelo F, de dois lugares, que está sendo desenvolvido em parceria pela Saab criadora do caça e a brasileira Embraer.

Só que ficou acertado neste ano que a linha de produção, inaugurada por Lula (PT) em maio, só produzirá o menos complexo modelo E —além de peças para a montagem na Suécia. Pessoas envolvidas na decisão dizem que, economicamente, não fazia sentido escalar a operação brasileira para a produção de um avião que ainda não tem compradores externos além do Brasil.

A Suécia encomendou 60 modelos E, número que deve ser aumentado dada a mudança do ambiente de segurança europeu com a Guerra da Ucrânia, mas ainda não pediu o biposto F. Todo o treinamento para operar essa nova geração é feita em aviões com dois lugares da anterior, a D, e simuladores de voo.

Há vários outros itens que podem ser renegociados, envolvendo sistemas embarcados, armamentos, pacotes de serviço e programas de offset (compensação industrial), por exemplo.

O governo quer casar toda essa negociação com a venda de KC-390 para os suecos. O avião tem tido uma boa aceitação no competitivo mercado europeu, dominado por cerca de 140 cargueiros americanos C-130 Hércules em estágios diversos de envelhecimento.

Na semana passada, a Embraer acertou a venda de talvez quatro aviões para a Áustria. Antes, Portugal havia comprado cinco, mesmo número anunciado pela Holanda, e a Hungria adquiriu duas unidades. Em comum, todos os países ou são da Otan (aliança militar liderada pelos EUA) ou, caso austríaco, próximo dela.

A Suécia está na fila para aderir ao clube, enfrentando por ora restrições da Turquia e da Hungria por motivos políticos diversos. Em abril deste ano, a porta para o KC-390 foi aberta no país por um memorando entre a Saab e a Embraer para oferecer o modelo ao governo sueco.

Como a Saab é a principal indústria aeroespacial sueca, enfrentando dificuldades na Europa pela enxurrada de contratos vencidos pelo americano F-35, a aposta numa parceria mais robusta com o Brasil faz sentido. Serão menos caças do que o previsto inicialmente, mas se a venda for acelerada, a sinalização de vitalidade ao mercado e outros eventuais clientes, como a Colômbia.

Estocolmo hoje opera seis Hércules, um deles com capacidade de reabastecer caças. Na configuração KC-390, o avião da Embraer faz isso e leva mais carga. Ele também é vendido sem a funcionalidade, sendo aí chamado de C-390 para fins de identificação —K significa avião-tanque, C, de transporte.

O que Múcio tentará fazer na Suécia é amarrar todas essas pontas, que facilitariam politicamente a vida do governo por embutir numa despesa alta um ganho potencial para o país —além do fato de que a FAB bancou parte do desenvolvimento do KC-390 e tem direito a 3,2% de royalties a cada exportação.

Os valores vão depender do pacote de equipamentos, manutenção e pós-venda. No caso holandês, a previsão estimada vai de R$ 5 bilhões a R$ 13 bilhões, segundo o governo informou ao Parlamento. Já os húngaros, com uma encomenda mais modesta, pagaram R$ 730 milhões por avião.

O jogo combinado entre FAB e Embraer parece selar a paz entre as partes, abalada pela traumática revisão dos termos do acordo de compra dos KC-390, que tiveram a encomenda reduzida de 28 para 19 aeronaves no ano passado. Nenhum dos lados saiu muito satisfeito do processo.

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