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Descrição de chapéu Obituário João Barros Hoche (1964 - 2020)

Motorista não acreditou na letalidade da Covid-19 e continuou a trabalhar

João Barros, 55, trabalhava com aplicativo, gostava de física e do Flamengo

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Brasília

Era com uma cerveja na mão e apreciando um churrasco na piscina de plástico no domingo que João Barros Hoche, 55, costumava reunir família e amigos no subúrbio do bairro da Penha, zona norte do Rio de Janeiro. Torcedor fanático do Flamengo, dividiu-se na adolescência entre idas ao Maracanã, passos em discotecas e aventuras com a física.

Gabava-se de ter acertado um exercício complexo da disciplina na escola. Contava aos filhos que tentara por três vezes solucionar uma questão e só se deu por satisfeito quando um professor admitiu que havia errado na correção.

Prestou vestibular para física, sua paixão, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) nos anos 1980. Não foi aprovado, mas chegou a dar aulas particulares da matéria. O sonho de cursar uma universidade não se realizou, mas o apreço pelos estudos foi transmitido aos filhos, o engenheiro Rafael Hoche, 37, e a professora e mestre em história Aline Hoche, 32.

Era filho de Hanna, um comerciante refugiado sírio, e da brasileira Jurema, dona de casa. Para sustentar a família, João foi vendedor de roupas, lingeries, montou um negócio de embreagens, trabalhou como motorista particular e de aplicativos.

João Barros Hoche, motorista conversador carioca - Arquivo pessoal

Terceiro de seis filhos, João teve o que considerava o primeiro grande baque afetivo quando seu pai morreu de câncer em 2011. A partir dali, se tornou uma espécie de porto seguro para a família. Transformou sua casa em ponto de encontro, reunia todos os irmãos sempre que podia. Adorava pregar apelidos, sorria e estressava-se com a mesma facilidade, mas não guardava rancor.

No tempo livre, gostava de assistir a filmes clássicos, como Ben-Hur, e ouvir músicas românticas. “Me and Mrs Jones”, de Billy Paul, era a sua preferida. João era conversador. Alegrava-se em contar os elogios que recebia no app de transporte para o qual prestava serviço. Via as notas que recebia dos passageiros como uma avaliação pessoal.

Ele morreu em 3 de abril, um mês após uma festa em família, oito dias antes de completar 56 anos. Diabético desde 2015, nunca parou de fumar e beber. Quando começou a sentir falta de ar, não acreditou na letalidade da Covid-19. Tratou-a como uma gripe e continuou a trabalhar. Além dos filhos Rafael e Aline, deixa uma neta, Beatriz, 4, e Rosemary Hoche, 54, com quem foi casado por 40 anos.

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