Andanças na metrópole

As camadas de história encobertas em construções, ruínas e paisagens

Andanças na metrópole - Vicente Vilardaga
Vicente Vilardaga
Descrição de chapéu sustentabilidade

Mulheres do GAU dão aula de agricultura urbana

Coletivo de São Miguel Paulista vence barreiras e alcança autossuficiência

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São Paulo

A cidade de São Paulo tem hoje 444 hortas urbanas comunitárias, listadas pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho da Prefeitura, das quais 291 ocupam espaços públicos cedidos pelo município. Boa parte delas está prosperando com o plantio de pancs (plantas alimentícias não convencionais) e ervas medicinais, além de hortaliças e frutas. Mas uma merece destaque pela infraestrutura e gestão exemplar. É administrada pelo coletivo Mulheres do GAU (Grupo de Agricultura Urbana) e funciona no bairro União de Vila Nova, em São Miguel Paulista.

Trata-se de um espaço organizado por sete mulheres, todas imigrantes nordestinas, que cuidam de duas áreas de 0,2 hectares (2 mil metros quadrados) cada, onde há uma produção diversificada e cada vez mais abundante. Uma das partes se chama Polo de Alimentação Saudável, onde, além do cultivo de vegetais, existe uma cozinha coletiva. A outra é o Polo de Educação Ambiental, criado há três anos, no qual se planta e se transmite os segredos da agricultura biológica para crianças.

Joelma dos Santos
Joelma dos Santos, coordenadora do polo de educação ambiental das Mulheres do GAU - Vicente Vilardaga

"O polo de educação, além de servir como escola, atende a comunidade que compra os produtos e ajuda a fortalecer nosso coletivo", diz a coordenadora Joelma dos Santos, 51 anos.

"Temos uma horta comunitária que segue os princípios da agricultura urbana, em que a gente faz o plantio orgânico sem veneno, agrotóxico e fertilizante, usando apenas o que a terra nos ensinou", afirma Vilma Martins, 53 anos, diretora-executiva do GAU. "A gente trouxe isso dos nossos familiares: o conhecimento de lidar com a terra e de resgatar uma alimentação saudável."

Atualmente, além das sete mulheres que comandam o projeto, há outras sete participantes agregadas que trabalham na horta comunitária. Contando todos os trabalhadores, há 25 pessoas, inclusive homens que cuidam da segurança e funcionários trazidos pelo Programa Operação Trabalho (POT), que tem uma frente voltada para atividades agrícolas dentro do projeto Sampa+Rural, da Secretaria de Desenvolvimento Econômico.

Estufa das Mulheres da GAU
Antiga estufa que hoje abriga o espaço de convivência e a administração das Mulheres do GAU - Vicente Vilardaga

Vilma conta que as Mulheres do GAU sobrevivem com os rendimentos obtidos na horta e que só duas delas contam também com uma renda paralela. "Hoje temos autossuficiência", diz. Seus alimentos são distribuídos para escolas do bairro e também adquiridos por visitantes e moradores de União de Vila Nova. Além disso, o coletivo conta com o projeto Horta para a Mesa, que serve almoços e cafés da manhã agroecológicos.

A história da horta comunitária começa há mais de 20 anos, quando o bairro ainda se chamava Jardim Pantanal. Era uma várzea do Rio Tietê que foi aterrada em uma ocupação, mas passou vários anos sofrendo com enchentes regulares. Depois de uma grande mobilização popular, o grupo de moradores conseguiu o compromisso de urbanização da localidade.

Vilma Martins
Vilma Martins, diretora-executiva das Mulheres do Gau, ao lado da nova caixa d'água da horta - Vicente Vilardaga

Surgiu também a ideia de fazer uma primeira horta comunitária num local que servia para descarte de entulho. O local foi limpo pela Prefeitura e a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), do governo do estado, instalou uma estufa que existe até hoje. Esse projeto durou quatro anos e depois foi substituído por outro chamado Quebrada Sustentável, que se esgotou por falta de financiamento. "Mas aí já tínhamos tomado gosto pela agrofloresta e pela educação ambiental e decidimos criar o GAU", lembra Vilma.

O que se vê hoje, mais de dez anos depois, é um espaço verdejante e incrivelmente bem estruturado. Há cozinha, várias salas de trabalho, caixa d’água, além da grande estufa. Planta-se de tudo naquela terra fértil. Desde plancs, como taioba, caruru, almeirão roxo e peixinho; temperos, como orégano, tomilho, hortelã e frutas, como abacate, banana, araçá, cereja do rio grande e maria pretinha.

Há dois anos, o GAU se converteu em uma associação, o que lhe deu autonomia para participar de concorrências e licitações. A principal reivindicação das mulheres agora é que os dois espaços da horta, hoje pertencentes à CDHU, sejam cedidos em regime de comodato para elas ganharem, realmente, total autonomia.

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