Cozinha Bruta

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Nas Olimpíadas, França fracassa em seu esporte nacional: comida

Atletas reclamam da alimentação, refeitório faz racionamento de ovos e britânicos mandam vir um chef do outro lado do canal

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São Paulo

Muitos estereótipos negativos rondam os franceses e, em especial, os parisienses

São antipáticos e arrogantes. Não são muito amigos do chuveiro. Incendeiam carros por qualquer coisinha.

De uma coisa, porém, pouca gente fala mal: a comida francesa. É consenso quase universal que se come muito bem na França.

O presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach (em primeiro plano), serve-se de tomatinhos em refeitório da Vila Olímpica de Paris
O presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach (em primeiro plano), serve-se de tomatinhos em refeitório da Vila Olímpica de Paris - David Goldman/Xinhua/Pool

Por isso, surpreendem as reclamações dos atletas em Paris, a respeito das refeições servidas na Vila Olímpica.

Os franceses, como presumido, anunciaram de peito estufado o esquema de alimentação para os jogos –ou "o maior restaurante do mundo", como o define a página oficial das Olimpíadas.

Montaram uma boulangerie na entrada da Vila Olímpica, que em tese produzirá diariamente 2.000 unidades de baguete, croissant e outros pães.

Alardearam que os cardápios dos restaurantes estaria sob a responsabilidade de quatro chefs detentores de estrelas Michelin.

Prometeram uma alimentação saudável e sustentável, com o dobro de comidas plant-based do que as últimas edições dos jogos.

Talvez tenha sido um movimento errado. Esportistas precisam ingerir muita proteína –é nos ovos e na carne que esse nutriente mais abunda.

Já na quarta-feira (24), a demanda por ovos superou a oferta, o que levou a organização a fazer racionamento nos refeitórios.

Claro que não é simples planejar a alimentação de 13 mil atletas, vindos de 204 países e competindo em 32 modalidades, cada uma com necessidades dietéticas específicas.

Entram ainda na equação a cultura alimentar de cada delegação e as diretrizes traçadas pelos nutricionistas das equipes.

A França, em sua soberba, achou que tiraria de letra o desafio. Deu ruim.

A delegação brasileira já chegou cornetando. Foram se queixar ao bispo ou, no caso, ao COB (Comitê Olimpico Brasileiro). Eles têm, como alternativa, a feijoada e o estrogonofe servidos na base brasuca em Saint-Ouen.

Mais repercussão global teve o veemente protesto dos britânicos. Justo eles, rivais históricos do país vizinho e donos de uma das piores reputações culinárias do mundo.

Andy Anson, executivo-chefe do comitê da Grã-Bretanha, declarou ao The Times que a alimentação fornecida por Paris "não é adequada".

No que pode ser interpretado como desaforo pelos franceses, os britânicos convocaram emergencialmente um chef do outro lado do canal da Mancha.

A acusação mais grave de Anson: estariam servindo carne crua ao atletas.

Aí temos algumas possibilidades. Pode ser que os esportistas, não muito versados em gastronomia, estivessem com frescurite diante de uns bifes grelhados corretamente.

Mas pode ser também que os cozinheiros franceses, que levam ao extremo o conceito de malpassado, tenham servido filé de boi mugindo. Ou ainda steak tartare, especialidade nacional em que a carne vem realmente crua.

Nas duas últimas hipóteses, há de fato uma inadequação. Atletas de alta performance não podem ser submetidos a nenhum risco de intoxicação alimentar numa Olimpíada.

Em qualquer caso, um bandejão é sempre um bandejão, no Butantã ou em Paris. São enormes as chances de que o rango da Vila Olímpica seja mesmo "une merde".

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