Andanças na metrópole

As camadas de história encobertas em construções, ruínas e paisagens

Andanças na metrópole - Vicente Vilardaga
Vicente Vilardaga

Projeto inicial de ampliação da Raposo Tavares é uma aberração

Plano do governo aumenta tráfego na rodovia e prevê viaduto em Alto de Pinheiros

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São Paulo

O projeto inicial de ampliação da rodovia Raposo Tavares, na zona oeste da cidade, é uma aberração e está causando revolta entre os moradores dos bairros que serão afetados pelas obras, como o Butantã e o Alto de Pinheiros. Há uma grande mobilização em andamento e foi criada uma frente ampla chamada "Nova Raposo, Não", que reúne cem entidades sociais e ambientais.

O governo estadual diz que "o objetivo do projeto é melhorar o tráfego local e entre cidades da Grande São Paulo, com soluções voltadas para resolver os gargalos no trecho urbano da Raposo Tavares", algo necessário. Mas para levar adiante sua obra eliminará milhares de árvores da paisagem, reduzirá o tamanho de vários parques, fará viadutos em áreas residenciais e piorará a qualidade de vida de uma grande população.

Vista aérea do rodovia Raposo Tavares, que ganhará mais uma pista de cada lado e terá marginais - Bruno Santos/Folhapress

A reação popular tem sido vigorosa e o projeto, elaborado em 2014, precisará mudar para virar realidade. Várias ações do "Nova Raposo, Não" estão previstas para as próximas semanas para informar os moradores da região sobre o impacto da obra. Carros de som percorrerão os bairros que serão afetados conscientizando a população do estrago que se anuncia e panfletos serão distribuídos pela região,

Também está prevista uma manifestação contra o projeto em vários trechos da rodovia no dia 9 de junho, um domingo. Além disso, foi acionada uma rede de contatos com vereadores e deputados estaduais para aumentar a pressão para a mudança dos planos. Até o começo dos próximo semestre será feito um leilão para concessões rodoviárias, que inclui o trecho da Raposo entre Cotia e São Paulo. O resultado sairá em outubro e a empresa vencedora ficará responsável pela revisão do projeto e a realização das obras.

Playground da Longevidade: equipamentos esportivos para idosos no Parque da Previdência - Andre Vicente/Folhapress

Na discussão do atual projeto aconteceram duas audiências públicas, convocadas pelo Diário Oficial, uma no município de Vargem Grande e outra na sede do DER (Departamento de Estradas de Rodagem). Houve também 1888 contribuições pela internet, mas isso parece insuficiente para os membros do movimento. O governo diz que as contribuições pertinentes serão incorporadas ao projeto.

Para resolver o problema do trânsito, a Nova Raposo cria muitos outros, como, por exemplo, um viaduto sobre o rio Pinheiros, que vai da avenida Valentim Gentil, no Butantã, até a avenida Antônio Batuira, no Alto de Pinheiros, devastando uma região residencial. A ampliação da rodovia também vai mutilar a comunidade dos Piemonteses, onde vivem 900 famílias.

Rua do bairro de Alto de Pinheiros, que será desfigurado se o governo levar o atual projeto adiante - Adriano Vizoni/Folhapress

"O mais estranho é que a cidade acabou de passar por um processo intenso de elaboração do Plano Diretor e da Lei de Zoneamento, com uma grande luta para preservar as áreas verdes do Butantã, e agora vão passar por cima de tudo isso", diz a ativista Fabíola Lago, conselheira do Parque da Previdência, que vai ser retalhado. Ela diz que "sete parques municipais vão sofrer alterações com a obra".

Em nota, a Secretaria de Parcerias em Investimentos do governo do estado afirma que as questões relacionadas à parte ambiental e à mobilidade urbana do projeto serão tratadas oportunamente por órgãos competentes, no nível estadual e municipal. "Posteriormente, o projeto Nova Raposo receberá novas audiências públicas para tratar especificamente da parte ambiental, assim como ocorre em todos os projetos do governo", diz.

Altura do quilômetro 18 da rodovia Raposo Tavares, que completou 100 anos em 2022 - Ronny Santos/Folhapress

O projeto polêmico, que abrange o trecho da rodovia entre Cotia e São Paulo, vai ampliar as duas pistas da Raposo, colocar seis pedágios e instalar avenidas marginais não pedagiadas dos dois lados da estrada. Também se prevê a instalação de viadutos, acessos e túneis. A obra custará R$ 9 bilhões e impactará uma área de 1 milhão de metros quadrados na cidade.

Para Maria Helena Bueno, presidente da (Saap) Sociedade Amigos do Alto de Pinheiros, o projeto é uma "desgraça total". Segundo ela, é absurdo nessa altura priorizar automóveis. "Além disso, não é possível colocar um viaduto numa ZER (Zona Exclusivamente Residencial)", diz. "Tenho esperança que a próxima concessionária faça um projeto decente e convoque a população para dar sua opinião."

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