Jairo Marques

Assim como você

Jairo Marques - Jairo Marques
Jairo Marques
Descrição de chapéu pessoa com deficiência

Aos 100, Disney finalmente coloca deficiência em filme de princesa

Por outro lado, produção nacional usa cadeirante fake em papel principal

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O filme não engajou, por enquanto, e as crianças não cantarolam suas músicas em todo lugar. Talvez você nem tenha conhecimento de que a Disney estreou, há poucos dias, Wish: O Poder dos Desejos. Isso tudo, porém não muda um feito que passa quase desapercebido na animação comemorativa dos cem anos dos estúdios californianos, a presença de uma personagem com uma deficiência marcante no núcleo principal da história.

Dahlia é uma confeiteira carismática e esperta do reino. Embora tenha uma característica relevante de mobilidade, usa uma muleta como apoio para o lado esquerdo do corpo, sua condição é posta com tanta naturalidade que o espectador demora a se dar conta que ela tem uma diferença, inclusive, durante as cenas, ela anda de maneira peculiar.

Um desenho de duas mulheres, em frente a um armário cheio de louças de cozinha. Uma delas, do lado esquerdo da imagem, usa vestido vermelho, óculos e uma muleta de apoio no braço esquerdo. Ela está com o braço direito estendido e tem uma colher; do lado direito uma mulher negra, de cabelos longos, usando um vestido lilás
A personam Dahlia, de vermelho, do lado esquerdo da imagem, ao lado da protagonista Asha, na animação Wish, da Disney - Reprodução / Walt Disney Studios BR no youtube

Amiga de Asha, a protagonista da história —que não é uma princesa, mas, segundo os conhecimentos de minha filha biscoita, deve ganhar o título por ter praticado um "ato heroico"—, Dahlia vai ao encontro de um anseio latente de pessoas com deficiência: está presente ao longo do filme, é como é, sem subterfúgios ou com a realidade atenuada, suavizada.

"Ah, mas e os anões da Branca de Neve, o Capitão Gancho, o Corcunda de Notre Dame?". As diferenças na abordagem são enormes em todos esses casos. As condições desses personagens eram exploradas por seus supostos exotismo, como as caminhas dos anões, os jeitinhos, os diminutivos tão fofos e tão capacitistas.

Além do mais, não é explorado na personagem de Wish as causas que levaram a sua condição nem mesmo existe a cena típica de outros filmes, que é chororô pelo que lhe faltaria ter, pela desgraceira humana que vive. Ela simplesmente tem uma deficiência e está ali, trabalhando, enfrentando seus perrengues, pensando em maneiras de enfrentar o rei "macho escroto".

Desennho com vários personagens de tipos diferentes, em pé, com fisionomia de tensão. Eles olham para a frente, como se esperassem algum acontecimento
Dahlia, à frente, de vestido vermelho, e outros personagens de Wish, em cena de tensão - Reprodução / Walt Disney Studios BR no youtube

Em dado momento tenso da animação, mais uma vez, roteiristas e desenhistas da Disney propõem uma abordagem muito nova a respeito da deficiência em desenhos animados. Todos os personagens precisam adotar uma postura de fé e de coragem e se ajoelham. Dahlia não é cortada da cena e se vê claramente como ela "deu seu jeito" de participar da comoção coletiva. Não é nada frugal. É inclusivo!

Só com representatividade pra valer, em todos os cantos, é que as crianças vão reconhecer com mais propriedade e pertencimento que a vida é plural e cheia de manifestações multicoloridas. Só dessa forma a gente vai conseguir diminuir os embates pelo direito de existir, de se manifestar e de ser feliz.

Aqui no Brasil, um contraexemplo que preciso pontuar. Não assisti, mas antecipo que já não gostei de "Chama a Bebel", cuja protagonista é uma garota cadeirante, interpretada por uma atriz sem deficiência.

Por melhor que sejam as intenções da película em debater inclusão e acessibilidade, por mais que haja outros atores com deficiência na trama, esse debate está vencido e consolidado. Nada sobre nós, sem nós.

Há jovens atores cadeirantes às pencas em busca de oportunidades, de espaço e de trabalho. Qualquer argumento que os tirem do jogo é menor do que a legítima urgência de assumirem posições de protagonismo em sociedade.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.