Jairo Marques

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Descrição de chapéu G20 pessoa com deficiência

O recado da pira olímpica para o G20

Líderes globais vão receber documentação incômoda sobre necessidade de o setor público abarcar a diversidade

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Esses dias olímpicos têm me feito pensar que alguma nova engrenagem de entender a vida, que vem sendo construída por décadas, foi acionada e empurra a gente para novos tempos, finalmente.

Para ficar apenas no acendimento da pira francesa, atletas com e sem deficiência, negros e brancos, homens, mulheres e demais identidades de gênero e um velho em uma cadeira de rodas protagonizaram ao mundo o desenho de um óbvio e dificílimo valor a ser compreendido: o de que viver é plural.

Embora se invisibilize a ausência de diversidade em grandes eventos e se dê muito holofotes para uma polêmica vazia sobre uma suposta representação da Santa Ceia, cheia de gente variada, durante a abertura dos Jogos, para quem reza a ladainha dos diversos sente que o momento é decisivo.

Imagem mostra um evento festivo, com uma grande cúpula prateada ao fundo. No centro, uma pessoa está sentada em um vestido colorido, cercada por flores. Ao redor, um grupo de pessoas aplaude e observa, algumas levantando as mãos. O ambiente é iluminado por luzes penduradas
Para homenagear a moda francesa foi criado um desfile, na abertura dos Jogos Olímpicos de Paris, em que drag queens representaram uma paródia do quadro A Santa Ceia, de Leonardo da Vinci - The Olympic Games no X/The Olympic Games no X

Na TV, nas propagandas, nas discussões do bar e, evidentemente, nas competições, o clima é o de "ninguém fica de fora", agora é todo o mundo junto e de mudança na forma de olhar, entender e atuar diante manifestações multicoloridas.

Mas o que esse preâmbulo tem a ver com um dos maiores eventos financeiros da Terra, o encontro de líderes do G20, que acontece no Rio, em novembro?

É que a reunião de líderes globais irá receber do Estado brasileiro uma documentação incômoda a ser encarada e impossível de ser adiada, o poder público não abarca em seus quadros e em sua estruturação, de maneira olímpica e paraolímpica, a diversidade.

Um evento preparatório ao encontro das nações ocorreu dias atrás, promovido pelo Ministério da Gestão, que tem adotado o discurso de fazer uma transformação no serviço público. Encarar que muita gente está de fora da condução de um país na esfera pública, é um começo.

Em uma mesa com formato em U, no poderoso BNDES, vozes vindas de representantes de grupos subjugados de toda ordem se espremiam atrás de espaço para contribuírem com o futuro, para mostrar que da mesma forma como meninas negras e de comunidades conseguem medalhas inéditas, elas podem e devem premiar o Brasil desempenhando funções públicas.

Mesmo que demandas muito basilares tenham sido erguidas —e não diretamente ligadas ao centro da discussão de fazer o setor público mais diverso—, como a garantia de terras pelos povos originários, lei de proteção à mulher contra violências variadas e acesso a quem não consegue sequer chegar para discutir, o caldo gerado tem sustância para empurrar mudanças.

De alterações na forma como são conduzidos e preparados os concursos públicos a redefinições e ampliações para as cotas, a tônica do debate foi que há terreno vasto de possibilidades para contemplar justamente quem tem ficado de fora das entranhas dos Estados, dos pódios de tomar decisões coletivas.

O que foi uníssono no encontro é que não há desenvolvimento possível no mundo moderno sem que haja participação de corpos diferentes, ideias diferentes, manifestações diferentes. Também que o devido protagonismo a negros, LGBTQIA+, neurodivergentes e uma porção de outras gentes é urgente e que nada justifica a demora disso na esfera pública.

Oxalá o espírito olímpico de Paris embale o espírito público do Rio, que pode tomar decisões de medalhar milhares de pessoas.

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