Jairo Marques

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Corpos e imagens de atletas paralímpicos testam profundidade do capacitismo

Os Jogos são uma festa de possibilidades humanas, uma festa que expõe maneiras surpreendentes de relacionar-se com os sentido

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O corpo por trás da primeira medalha de ouro do Brasil nas Paralimpíadas de Paris, do nadador Gabriel de Araújo, o Gabrielzinho, é prova de fogo para medir o capacitismo nosso de cada dia.

Ao lado das formas pouco comuns do campeão paralímpico, que exibe membros inferiores e superiores com desenhos que podem ser tidos como desarmônicos, surpreendentes ou únicos, há um desfile de ineditismos pelas arenas dos jogos.

A imagem mostra um atleta paralímpico brasileiro em uma cerimônia de premiação. Ele está vestindo um agasalho amarelo com detalhes em verde, representando o Brasil. O atleta, que não tem membros superiores e inferiores comuns, usa uma medalha de ouro em volta do pescoço. Ao fundo, há uma plateia aplaudindo, com várias pessoas em pé, celebrando a conquista do atleta.
O medalista de ouro brasileiro Gabriel Geraldo dos Santos Araujo, o Gabrielzinho, no pódio da natação; ele ganhou o primeiro lugar nos 100 metros masculino, na classe S2, no primeiro dia das Paralimpíadas de Paris-2024 - Franck Fife/AFP

São mulheres disputando partidas de vôlei sentadas na quadra, pessoas usando vendas nos olhos jogando em uma partida com uma bola em formato pouco conhecido, e com um guizo em seu interior, cadeiras de rodas que são conduzidas com os pés, próteses ocupando o lugar de pernas, braços, pernas e braços.

Todas essas manifestações de ser vivo, de ser humano, pode virar capacistismo quando se humilha pela suposta não conformidade com o padrão e se ridiculariza por usar a boca para segurar a medalha dourada, com o mesmo brilho da olímpica.

Torna-se também mentalidade capacitista quando em vez de tentar entender a dinâmica de movimentos tão precisos, sob uma condição tão desafiadora, que leva a um deslizar veloz sob a água, se faz galhofa por um trejeito desconhecido, se faz cara de espanto diante de pele e ossos incomuns.

Os Jogos Paralímpicos são uma festa de possibilidades humanas, uma festa que expõe maneiras surpreendentes de relacionar-se com os sentidos. No goalball, por exemplo, os atletas precisam de silêncio para acertar uma jogada, fazer um gol. A torcida, por sua vez, tem de treinar os momentos dos gritos para que os jogadores consigam se concentrar e ser precisos.

Nada disso é estranho, é bizarro. Isso é plenitude de aproveitar habilidades de estar vivo. É outro jeito de esportividade, de disputa. Tentar não ser capacitista é tentar entender a multiplicidade embutida no físico, nos sentidos e no intelecto.

É natural se admirar –com o devido zelo de não julgar— diante de um universo imagético que foge daquilo que se vê com frequência nas ruas, no trabalho, na escola, nos aplicativos de namoro, no clube, nas praias. Esse é o resultado da ausência social gerada a partir de barreiras do preconceito que dividem quem supostamente deve de quem não deve estar nos pódios.

As Paralimpíadas viram o jogo de inclusão. Na disputa mundial, são laureados, aplaudidos e exaltados justamente aqueles que se excluíram, que se apartaram, que não se respeitaram porque guardam diferenças. A chance de rever valores, conceitos e projeções a respeito de ser plural é rara, como são as feições de Gabrielzinho. Aproveite!

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