Jairo Marques

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As profundezas da mina de ouro paralímpica brasileira

É comum na realidade do 'mineradores paralímpicos' ter convivido com a pobreza, com dificuldades de inclusão e de reabilitação

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O discurso da vitória do velocista Júlio César Agripino, campeão paralímpico em Paris nos 5.000 metros para pessoas com deficiência visual, com direito à quebra no recorde mundial, ajuda a entender um pouco a profundidade da mina de onde brotam os ouros que tanto tem alegrado os brasileiros.

Agripino disse assim: "isso [a vitória] mostra, mais uma vez, o quanto a força da periferia e quanto um cidadão periférico sabe que sua hora vai chegar. Que nossas crianças tenham um futuro brilhante. Que essa medalha seja exemplo pra elas, que é possível você sofrer com tantos altos e baixos e conseguir dar a volta por cima".

A foto mostra um atleta vestindo um uniforme esportivo predominantemente azul e verde, com detalhes que parecem formar padrões dinâmicos. Ele está envolto em uma bandeira do Brasil, com o brasão visível. O atleta tem barba, está de óculos e faz um gesto de "número um" com a mão direita, apontando o dedo indicador para cima. Ele está ao lado de um grande sino, que parece ser um marco ou símbolo de alguma competição atlética. Ao fundo, é possível ver um estádio cheio de espectadores.
O campeão paralímpico Júlio Cesar Agripino na comemoração da medalha de ouro, com quebra do recorde mundial nos 5000 metros T11, para atletas com deficiência visual, nas Paralimpíadas de Paris - Ian Rice/AFP

O campeão fala ainda: "não tive ajuda nenhuma da minha cidade, da minha prefeitura. Espero que agora eles arrumem aquele campinho e apoiem os moradores." Ele nasceu em Diadema, no interior paulista.

É comum na realidade desse mineradores ter convivido com a pobreza, com dificuldades de inclusão, de reabilitação de suas condições e precisando muito de apoio de programas sociais e institucionais ao longo da vida.

Mesmo aqueles que já logram resultados contundentes, são premiados, parte maior só resiste no esporte por força de incentivos como a bolsa atleta. O patrocínio para eles é coisa de conta-gotas. É preciso expor um brilho bem maior que uma ou duas sacolas de ouro. Para os que já precisam planejar a saída da vida nas competições, a insegurança é frequente.

Das agruras com as quais um atleta com deficiência tem de conviver, a mais cruel talvez seja o dilema de, embora exponha um óbvio valor esportivo, tenha vontade, se dedique muito e mostre marcas, a luta contra a invisibilidade e contra a falta de apoios efetivos leva décadas para ser vencida ou para ganhar uma trégua. Grande parte dessas figuras é abatida sem premiações.

Um ex-laureado com ouro paralímpico na boccha, por exemplo, vendia balas no farol em uma cidade no interior de São Paulo, até sua vida adulta. Vários campeões passaram e passam por perrengues para conseguir chegar ao local de treinamento, para conseguir equipamentos de acessibilidade e para driblarem imposições de suas condições físicas, sensoriais ou intelectuais.

A também medalhista em Paris no atletismo, a pernambucana Fernanda Yara da Silva, que tem formação diferente da convencional no braço esquerdo, já deu declarações pedindo mais "carinho" aos atletas com deficiência, pois cada um deles guarda uma história enfrentamento digna de adornar com diamantes qualquer premiação.

Tem muita gente acendendo candieiro nessa mina, que cada vez reluz mais. Torçamos para que se rendam glórias merecidas a esses garimpeiros de felicidade.

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