Cannabis Inc.

Notícias de saúde e negócios

Cannabis Inc. - Valéria França
Valéria França

Marcelo D2 critica regulação brasileira de Cannabis

Como empresário, ele se diz decepcionado com 'retrocesso' imposto ao mercado

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo
Marcelo D2, rapper brasileiro e agora empresário da Cannabis: "subestimei o retrocesso que podíamos viver". - Rodrigo Ladeira

Todo empreendedor busca o máximo de segurança jurídica para investir em um novo negócio. Sem uma legislação específica, o setor da Cannabis medicinal é um dos mais vulneráveis do mercado – se não for o mais frágil. Isso porque, apesar de ter evoluído muito na última década, está sob a regulação da Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária), que pode alterar qualquer resolução da diretoria colegiada, se assim achar necessário. Foi o que aconteceu, por exemplo, em julho, quando proibiu a importação de flores in natura, para o uso medicinal.

As flores são essenciais nos tratamentos pois concentram os canabinoides, substâncias terapêuticas como o CBD (Canabidiol) e o THC (Tetrahidrocanabidiol). Em geral esses componentes são vendidos diluídos em óleo e em extrato. Mas há pacientes e médicos que preferem as flores in natura, que quando vaporizadas têm ação mais rápida no organismo que as demais formas. A proibição da Anvisa trouxe polêmica e prejuízo para quem acreditou que o mercado estava de fato tomando outro caminho ou que simplesmente encarou o risco como o Rapper Marcelo D2. No início de julho, ele anunciou um novo empreendimento, uma startup com mais dois sócios, batizada de The Hemp Complex, com sede no Rio de Janeiro.

O objetivo era oferecer um cardápio mais variado de produtos de Cannabis, entre eles, flores importadas da Califórnia, nos EUA, para o uso medicinal. A fama do músico somada a um slogan bem vendedor e dúbio – "bora ficar legal" – fez o negócio decolar rapidamente. Em poucos dias a plataforma da empresa teve 100 mil acesso, 10 mil novos clientes cadastrados, e mil consultas marcadas com os médicos da empresa.

Os sócios começavam a comemorar o sucesso da inauguração quando veio a proibição da Anvisa. A empresa teve de dispensar funcionários, encolher as operações, e se readequar. Tudo isso em menos de 20 dias de funcionamento. "Sabia que podia acontecer, mas acreditava que não aconteceria", diz D2 na entrevista abaixo sobre o mercado da Cannabis.

O setor vive a insegurança jurídica, onde tudo pode mudar a qualquer hora?
Como empresário eu lamento ter que fechar vários postos de trabalho e deixar de abrir tantos outros previstos. Essa insegurança jurídica está impedindo o desenvolvimento de uma indústria para a qual o Brasil é privilegiado por natureza, tanto para a produção, quanto para o consumo. É uma oportunidade para o agronegócio, para a indústria de processamento, de cosméticos e de saúde. Pode gerar milhares de empregos, gerar impostos, enfim..... Só posso esperar que isso se reverta o quanto antes.

Você já esperava essa reviravolta na regulação?
Sabia que podia acontecer, mas acreditava que não aconteceria. Vivemos um período recente onde o negacionismo e o preconceito pautaram o país e achei que caminhávamos em direção oposta, mas parece que subestimei o retrocesso que podíamos viver. A proibição da maconha foi fruto do racismo estrutural, da xenofobia e da ignorância. A comprovação científica de que a maconha é segura e benéfica para a saúde está em todo o mundo: Estados Unidos, Portugal, Canadá, Alemanha, Holanda, Uruguai....enfim. Foi mais um retrocesso para provar que continuamos sendo o país do atraso e tendo discussões já superadas no resto do mundo há décadas....Triste.

A decisão, ao que parece, vem depois de uma série de anúncios de importação das flores pela Anvisa, mas com finalidade recreativa.Na sua opinião os importadores deram um tiro no próprio pé?
Acho que os poucos que se comportaram de forma irresponsável deram um tiro no pé e no peito das milhares de pessoas que estavam se beneficiando de um uso terapêutico, seguro, controlado e legal da Maconha. Mas os reguladores têm sua parcela de culpa por ir na contramão da ciência e das tendências de regulação do resto do mundo. Nossa luta é pela total liberação do uso adulto, seguro e responsável, mas sabemos que existe um embate cultural, político e social a ser travado e é preciso trabalhar dentro dos limites da Lei. Não me conformo, como cidadão, em ter minha liberdade de escolha regulada pelo lobby da indústria farmacêutica internacional, que viu numa das plantas mais antigas do planeta uma ameaça aos lucros com óleos processados. Se uma pessoa maior de idade, com a recomendação e acompanhamento de um médico, deseja utilizar uma substância que, segundo o próprio usuário e médico, fazem bem a saúde, quem tem o direito de proibir isso? Quem lucra com o cerceamento da liberdade de escolha das pessoas e o cerceamento do exercício da medicina?

Quais são os planos agora para a empresa?
Nossa empresa é forte e resiliente estamos há 4 anos no mercado. Tenho certeza que vamos continuar a conquistar um público cada vez maior para os benefícios medicinais da planta. Focamos na flor porque sabemos que é um lance de disrupção social e política. Achamos ridículo o estado proibir pessoas 100% legalizadas, que pagam impostos e geram empregos e renda sejam empurradas para a ilegalidade pelo próprio Estado, sem argumento plausível, exceto preconceito. Vamos trabalhar para reduzir o atraso do país, criar oportunidades profissionais e levar produtos de alta qualidade, que melhoram a vida de milhares de pessoas. Nem um passo atrás, nem um direito a menos!

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.