Tradicional destino turístico de Natal, a avenida Paulista tem neste ano uma decoração modesta porém espalhafatosa. O trecho decorado é de apenas 2 quarteirões —280 dos 2.500 metros de sua extensão total— e conta com 20 pequenas guirlandas luminosas, 8 sopradores de neve artificial (espuma de sabão), música e um singelo presépio.
Os quase imperceptíveis adornos se perdem em meio ao excesso de poluição emitida pela estrutura de apoio. Para fornecer energia elétrica às lâmpadas, às máquinas e aos alto-falantes usados na decoração, 19 barulhentos geradores a gasolina ficam ligados em suas potências máximas por cerca de 6 horas, todos os dias.
Além do elevado nível de ruído e da fumaça emitida pelos geradores —soprada quente na altura dos pés de quem caminha ou pedala— a estrutura de proteção gera uma poluição visual que compete (e ganha de goleada!) com o econômico chamariz decorativo.
No total são dez anteparos adversários à paisagem da mais famosa avenida paulista, posicionados bem no meio da ciclovia. Com 5 metros de comprimento, 1,5 metro de largura e 65 centímetros de altura, o tapume zebrado em amarelo e preto ocupa boa parte da ciclovia, deixa o caminho do ciclista ainda mais estreito e chama muito mais atenção que o tímido brilho das 20 pequenas guirlandas que o tal trambolho visa proteger.
Os 8 sopradores de neve e o único e tímido presépio ocupam cerca de 25 metros quadrados cada um, são posicionados em recuos da calçada e funcionam de forma intermitente, arremessando espuma de sabão por 10 minutos a cada meia hora, entre as 18h30 e 23h30.
Moradores e usuários da avenida Paulista se dividem entre elogios e críticas à nova instalação natalina.
O fotógrafo Ignacio Aronovich mora na Paulista há 11 anos, bem perto da nova instalação de Natal. Apesar de considerar necessária a organização da festividade, Aronovich considera a decoração atual muito tímida e a estrutura de apoio desproporcional em relação ao efeito dos atrativos. "Esse tapume zebrado enorme chama muito mais atenção que aquelas guirlandas minúsculas, instaladas muito altas nos postes. Além disso, o som dos alto-falantes fica abafado pelo ruído dos geradores. A poluição sonora incomoda os moradores da avenida até a meia-noite e meia, bem além do que a legislação permite", reclama o fotógrafo.
O professor de teatro Gabriel Diogo notou os anteparos que protegem os geradores no meio da ciclovia, mas não havia notado as guirlandas: "Não faz sentido tudo isso para fornecer essa decoração tão pequena. É insustentável", comentou o professor.
João Vitor de Jesus tem 19 anos, é ciclo-entregador e usa a ciclovia da Paulista diariamente para trabalhar. "Tem gasolina vazando do gerador na pista de bicicleta, um barulhão ensurdecedor, e a gente nem vê para que isso serve. Revoltante!", comenta indignado o entregador.
Já a pedagoga Daiane Lira, mãe das meninas Laura e Sofia, de 6 e 8 anos, ficou muito feliz em ver as filhas se divertindo: "tem neve na Paulista, que lindo isso!". A mesma reação pôde ser observada em outras famílias que passeavam na região do evento.
OPINIÃO
Proporcionar uma boa festa de Natal, segura e inclusiva, nessa nova fase de arrefecimento da pandemia é tão importante quanto estar atento às questões básicas de sustentabilidade, ecologia e respeito ao espaço público.
O evento, que começou no dia 3 de dezembro, seguirá ativo até o dia 27 de dezembro. Até lá os 19 geradores, ligados 6 horas por dia, devem queimar cerca de 10 mil litros de gasolina, emitir 23 toneladas de CO2 e azucrinar os já sofridos ouvidos paulistanos.
Fica o aviso para as empresas que patrocinam a festa: Sadia e SmartFit, um Natal bom, é um Natal feliz, seguro, inclusivo e sustentável.
OUTRO LADO
Procurada, a São Paulo Turismo (empresa municipal que encomendou o projeto) informou que "atuou com os outros órgãos para minimizar o impacto no trânsito de ciclistas, pedestres, e garantir segurança geral, dentro da Lei Cidade Limpa e ligação da energia das estruturas de forma correta".
Playcorp e Point Comunicação, empresas que executaram e mantem a festa, informam que, ao contrário do relato de moradores da Paulista, os geradores barulhentos são desligados às 23h30. (A lei determina fim desse tipo de ruído às 22h).
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