Dois anos depois de atropelar e matar a cicloativista Marina Kohler Harkot, o empresário José Maria da Costa Júnior segue em liberdade, sem um julgamento final pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP). A situação motivou a criação do Observatório da Impunidade no Trânsito Brasileiro (OITB), uma ferramenta que reúne dados de sinistros envolvendo pedestres e ciclistas e que pretende oferecer assistência a familiares de vítimas.
O anúncio do OITB foi feito por familiares de Marina e pelo Instituto Multiplicidade Mobilidade Urbana durante um ato que reuniu cerca de 100 ciclistas na avenida Paulo 6º (zona oeste da cidade de São Paulo), local do atropelamento, na manhã de domingo (6).
"O que nos move é a vontade de que ninguém mais passe pelo que passamos", disse Paulo Harkot, pai de Marina, ao comentar sua dor e as dificuldades de enfrentar os trâmites legais que sucedem sinistros desse tipo. Aos presentes no ato Paulo Harkot explicou que, além de dados estatísticos, o OITB pretende estimular a participação de uma rede de apoio à familiares de vítimas do trânsito.
"Depois de um telefonema onde te dizem que sua filha morreu atropelada, ninguém sabe o que fazer. Esperamos que ninguém passe por isso mas, aos que passarem, iremos oferecer apoio através do OITB", disse com emoção o pai de Marina.
Marcelo de Troi, analista de informações do Instituto Multiplicidade Mobilidade Urbana, explicou que o OITB é um projeto em fase embrionária e que espera o apoio do Estado e da sociedade civil para torná-lo uma instituição permanente. "O Observatório vai funcionar no site pedalecomomarina.org a partir de segunda-feira (7) e esperamos receber o apoio de advogados, psicólogos e outros profissionais que possam atuar numa rede de apoio às famílias de vítimas do trânsito", disse ele.
Marina Harkot tinha 28 anos, era socióloga, mestre em arquitetura e fazia um doutorado onde pesquisava justamente a mobilidade urbana (todos esses cursos pela USP) quando morreu atropelada enquanto pedalava.
Na ocasião ficou constatado pelos laudos periciais que o atropelador José Maria da Costa Júnior dirigia seu Hyundai Tucson a 95 Km/h na avenida Paulo 6º, quase o dobro da velocidade máxima permitida naquela via (50 Km/h). Além do excesso de velocidade, o atropelador é acusado de dirigir alcoolizado e não prestar socorro à vítima.
Apesar das provas, a defesa de Júnior nega o uso de álcool, mas o atropelador assume que não parou para prestar socorro. Pouco depois do atropelamento, o motorista foi flagrado sorrindo por uma câmera de elevador de condomínio residencial.
Em 29 de abril deste ano o TJSP, através de decisão da juíza Jéssica de Paula Costa Marcelino, entendeu haver indícios de crime doloso contra a vida, ou seja, quando há intenção de matar, e determinou o julgamento por júri popular. Contudo, após recurso do réu, o caso foi levado à segunda instância, onde segue em análise de três desembargadores.
Nesse período José Maria da Costa Júnior segue em liberdade e já teve restituído o veículo usado na ocasião do crime, o que, segundo a família e amigos de Marina Harkot, gera uma sensação de impunidade.
"É surreal que uma pessoa que tenha atropelado outra, que tenha matado outra, num estado alcoolizado e em alta velocidade, e que não a socorreu, continue solta", disse Maria Claudia Kohler, mãe de Marina.
O site do Observatório da Impunidade do Trânsito Brasileiro será lançado nesta segunda-feira (7), às 10h45, na sala de estudos interdisciplinares Marina Kohler Harkot da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da USP, localizada na avenida professor Luciano Gualberto, número 315, zona oeste da cidade de São Paulo.
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