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Ciclocosmo - Caio Guatelli
Caio Guatelli

Investigação mostra que prefeitura de São Paulo manipula dados sobre tamanho da malha cicloviária

OUTRO LADO: Prefeitura reitera que a cidade tem 699,2 Km de espaços dedicados às bicicletas

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Desde que o Ciclocosmo começou a questionar a prefeitura de São Paulo sobre o tamanho da malha cicloviária da cidade, há cerca de um ano, a resposta apresentada tem sido sempre a mesma: "a cidade conta atualmente com 699,2 km de vias com espaços dedicados às bicicletas".

Por si só, o fato já provoca. Como pode a cidade mais rica, cosmopolita e com o pior trânsito do país passar tanto tempo sem ampliar sua malha cicloviária?

O problema, por incrível que pareça, é ainda maior. São Paulo não está apenas estagnada há um ano. São Paulo, na verdade, deu marcha ré. A estrutura cicloviária encolheu, e ninguém sabe ao certo o quanto.

Mosaico de imagens que fazem parte de investigação feita pelo cicloativista George Queiroz, que denuncia o desaparecimento de ciclofaixas do mapa da cidade de São Paulo

Buscando escancarar o absurdo, George Queiroz, um cicloativista e editor de vídeo que mora na zona oeste da cidade, achou um jeito de provar que a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) tem manipulado os dados sobre a estrutura cicloviária paulistana.

Usando uma ferramenta que possibilita a comparação fotográfica de ruas e avenidas ao longo do tempo, oferecida pela plataforma Google Maps, Queiroz juntou pelo menos 31 exemplos de ciclofaixas que desapareceram do mapa.

Comparando o antes e o depois através de dípticos (duas fotos homólogas apresentadas lado a lado), o resultado foi publicado nas redes sociais do projeto "Bicicleteiros" e do coletivo de cicloativistas Bike Zona Oeste. Nas composições, as fotos do alto mostram o estado antigo, com as estruturas evidentes, em anos que variam entre 2014 e 2021, e, nas fotos de baixo, o estado mais recente que a ferramenta do Google foi capaz de entregar, onde as estruturas desaparecem.

Queiroz não consegue indicar com precisão quantos quilômetros de estruturas cicloviárias apagadas sua investigação encontrou, mas diz que depois de divulgar os resultados começou a receber diversas sugestões de novos locais para incluir em futuras buscas. "Já posso fazer uma parte 2", disse.

"Hoje chegou essa, da avenida Juntas Provisórias [zona leste]", diz ao mostrar uma foto. "A ciclofaixa ficou um tempão apagada e agora estão refazendo assim [estreita]". Na imagem é fácil notar que a largura da ciclofaixa desrespeita as dimensões mínimas do manual da CET (Companhia de Engenharia e Tráfego), o mesmo problema que aconteceu na avenida Rebouças há duas semanas, e que, após pressão de cicloativistas, foi corrigido.

Foto recebida pelo cicloativista George Queiroz mostra a ciclofaixa da rua Juntas Provisórias (zona leste) repintada fora dos padrões de segurança da CET, mesmo problema que aconteceu com a ciclofaixa da avenida Rebouças (zona oeste)

"Uma coisa muito ruim é que essas ciclofaixas desaparecidas ainda são contadas oficialmente como parte da rede cicloviária da cidade, o que é mentira", disse Queiroz.

O cicloativista disse que foi motivado pelos resultados da pesquisa Auditoria Cidadã, realizada pelo Instituto Ciclocidade em junho do ano passado e que indicou que 81% da malha cicloviária da cidade era considerada boa. Segundo ele, parte da imprensa interpretou isso como uma aprovação, sem dar importância para os 19% que em parte nem existia: "As notícias davam a ideia de que estava tudo bem, enquanto os cicloativistas da periferia reclamavam de várias estruturas sumindo".

De acordo com Queiroz, muitas dessas estruturas apagadas são repetidamente reportadas à prefeitura durante as reuniões mensais da Câmara Temática da Bicicleta (espaço onde representantes da prefeitura dialogam com os cicloativistas), mas são raras as atitudes positivas tomadas pela atual gestão.

Uma das reclamações mais recorrentes, segundo Queiroz, é a ciclofaixa da avenida Cândido Motta Filho, na zona oeste. "Estava apagada há muito tempo, até que atropelaram um cicloentregador. Só depois disso correram para refazer", disse se referindo a uma ação feita às pressas pela prefeitura na semana passada.

Além das ciclofaixas apagadas, Queiroz ressalta que a prefeitura age com desprezo mesmo onde ciclistas foram mortos pela violência do trânsito. "Fizeram uma placa, botaram faixa na avenida, quebraram um pedaço de calçada e sumiram", comentou indignado sobre a obra de ciclofaixa iniciada há duas semanas e abandonada em seguida, na avenida Corifeu de Azevedo de Marques, onde em 2022 o jovem cicloentregador Claudemir Kauã foi morto por motorista embriagado.

Outro lado

Por nota, a prefeitura de São Paulo disse que "a cidade conta atualmente com 699,2 km de vias com espaços dedicados às bicicletas" e que "A Secretaria de Mobilidade e Trânsito (SMT) informa que o processo licitatório para manutenção de toda a malha cicloviária existente foi realizado no dia 2 de maio. No momento, estão sendo analisados pela área jurídica os recursos apresentados. A licitação em fase final de conclusão prevê manutenção permanente em toda a malha cicloviária, incluindo a recuperação do piso, sinalização horizontal e vertical, além de elementos de segregação para a segurança dos ciclistas".


Expansão cicloviária é exigência da lei

A expansão cicloviária em São Paulo é exigência de ao menos duas leis municipais e uma federal: Plano de Mobilidade Urbana de São Paulo, Plano de Ação Climática do Município de São Paulo e Política Nacional de Mobilidade Urbana.

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