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O primeiro aniversário do telescópio espacial James Webb

Uma retrospectiva do maior telescópio espacial da história

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Thiago Gonçalves

Foi um ano e tanto para a pesquisa astronômica internacional: em 25 de dezembro de 2021, após um longo período de esperanças frustradas, o telescópio espacial James Webb foi finalmente lançado. Passados mais de 30 anos do advento do Hubble, havia uma enorme expectativa em relação às imagens que o novo dispositivo seria capaz de produzir.

Doze meses mais tarde, verificamos que ele disse a que veio. Um grande alívio, claro, e agora estamos apenas esperando a enxurrada de novos dados e observações que estão por vir. Como já dizia Ronaldinho Gaúcho, "eles estão deixando a gente sonhar."

Arte ilustra uma mão segurando um rosto azul, à frente dele está a figura do telescópio James Webb, que se assemelha a uma colmeia, com raios saindo dele
Ilustração: Clarice Wenzel - Instituto Serrapilheira

Para começar a entender sua importância, primeiro precisamos saber como ele difere de seus antecessores. Antes de mais nada, ele é o maior telescópio espacial da história, com um diâmetro de 6,5 metros (contra 2,4 metros do Hubble, por exemplo) e um espelho capaz de captar os mais fracos sinais de luz de objetos distantes.

Além disso, ao contrário do Hubble, ele enxerga no infravermelho, radiação característica de estrelas mais frias, ou de nuvens de gás no espaço, e também a energia que chega até nós das galáxias mais distantes, após sua luz ser modificada pela expansão do universo ao longo dos bilhões de anos de viagem. A capacidade de captar o infravermelho faz dele um companheiro tecnicamente mais avançado de seu antecessor, que detecta a luz visível: juntos, os dois oferecem uma visão mais completa dos fenômenos físicos em ação nos corpos celestes.

Felizmente, seu lançamento e o chamado período de comissionamento — fase de operações para determinar a correção de seu funcionamento — obtiveram êxito. Temia-se o momento de abrir o espelho, que por ser muito grande viajou dobrado no interior do foguete, o que nunca havia acontecido com um instrumento tão delicado.

Agora, dizer que tudo ocorreu num céu de brigadeiro seria uma inverdade. Havia uma enorme preocupação quanto ao possível desgaste no mecanismo da roda de filtros de uma das câmeras. Com medo da fricção que poderia danificar seu funcionamento, o James Webb suspendeu as observações dessa câmera por algumas semanas, até que se constatasse que estava tudo sob controle.

O problema mais persistente foi a calibração dos dados, que, embora não seja algo inesperado, gerou bastante dor de cabeça entre administradores e usuários do observatório.

Para garantir a qualidade das imagens, um observatório astronômico dedica grande parte do tempo à obtenção de dados auxiliares de calibração, que permitem aos cientistas remover possíveis fontes de ruído, como o brilho de fundo do céu ou a própria eletrônica dos aparelhos a bordo. Todos se preocuparam, portanto, quando não se verificou a previsão de funcionamento feita no solo, e as primeiras medidas de brilhos dos astros apresentavam um desvio de até 20%. Mas já foram efetuadas muitas correções, e estamos em um bom caminho para uma operação sem mais transtornos.

Um dos principais objetivos desse telescópio já foi alcançado: a detecção das galáxias mais distantes do universo. Como ele permite observar uma luz emitida há mais de 13 bilhões de anos, podemos vislumbrar o universo em sua infância, quando tinha apenas 200 milhões de anos. Ou seja, ele nos possibilita entender muito melhor a formação das primeiras estrelas e galáxias.

Logo depois do lançamento, assistimos a uma enxurrada de candidatas a essa condição de astros primordiais, digamos. Pena que boa parte dessas possíveis galáxias distantes tinham uma estimativa de distância equivocada devido aos erros de calibração. Recentemente, porém, um trabalho liderado pela dra. Emma Curtis-Lake, da Universidade de Hertfordshire, no Reino Unido, confirmou a descoberta da galáxia mais distante já observada.

O James Webb também detectou pela primeira vez a presença de dióxido de carbono na atmosfera de um planeta fora do sistema solar, a cerca de 600 anos-luz de distância. O telescópio aproveitou o momento em que o planeta se colocou na frente de sua estrela hospedeira, e, analisando como a luz da estrela se modificava pela atmosfera planetária, pôde determinar a composição química dos gases ao redor dele. Pesquisas dessa natureza são fundamentais para entender a evolução química de atmosferas planetárias e as possíveis condições que podem ter dado origem à vida no universo.

Nas primeiras semanas, as observações se concentraram em garantir o funcionamento do aparelho. Concluída essa etapa, podemos atacar projetos mais ambiciosos. Quais? O que mais vem por aí? Essa é a melhor parte: ainda não sabemos. Com novos olhos infravermelhos perscrutando o espaço, podemos esperar observar fenômenos até então desconhecidos, e quem sabe entender um pouco melhor a origem desse nosso pequeno planeta dentre tantos no universo.

*

Thiago Gonçalves é astrônomo no Observatório do Valongo/ UFRJ e divulgador de ciência.

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