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Companheiro Mário Gomes, aprenda com a cenoura

Bolsonarista espalhador de fake news, ex-galã teve a reputação e a carreira sabotadas por um esquema de mentiras

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São Paulo

Mário Gomes, ex-galã da Globo, ex-chapeiro, atual bolsonarista, tinha medo da volta do comunismo.

Acreditava em fake news e espalhou, recentemente, uma mentira bem cabeluda: disse que, na Colômbia, a esquerda recém-empossada estava socializando imóveis com mais de 65 metros quadrados.

Mário temia que o PT, o Guilherme Boulos ou o bicho-papão colocasse um mendigo para morar com sua família, numa bela casa envidraçada em frente ao mar, no Rio de Janeiro.

O ex-ator Mario Gomes, de camiseta regata branca
O ex-ator Mário Gomes, cuja casa foi leiloada para o pagamento de dívidas trabalhistas - Divulgação/Record TV

Eis que tomaram a casa do Mário, coitado. Mas foi a Justiça. O ex-ator tinha quase R$ 1 milhão em dívidas trabalhistas de uma confecção que foi à bancarrota.

Mário Gomes deveria ter aprendido algo com o episódio da cenoura.

Ele foi vítima de fake news quando a expressão ainda não tinha sido inventada. Chamavam-na de fofoca, de boato. De mentira, simplesmente.

Bonito e carismático, Mário Gomes era uma das grandes promessas das telenovelas em 1977, quando estourou a história da cenoura. Disseram que o ator havia dado entrada em um hospital com o legume entalado no ânus.

É o próprio Mário quem atribui a trama ao diretor Daniel Filho, então marido da atriz Betty Faria, com quem o jovem galã tinha um caso flamejante.

A narrativa colou tanto que eu, uma criança no ensino fundamental, sabia do novo apelido de Mário Gomes: Cenourinha.

Numa época em que não existia internet, a propagação da mentira atingiu proporções surreais, graças à rede de contatos de quem lançou a lebre –além de Daniel Filho, o poderoso Carlos Imperial estaria por trás do esquema.

O lance da cenoura foi muito mais que mentira, muito mais que fofoca, muito mais que boato. Foi uma ação coordenada para triturar a reputação de Mário Gomes com uma história implausível, mas tão martelada e disseminada que acabou aceita como verdade.

Exatamente como as fake news de agora, nos tempos do telefone de disco.

Mário que não se iluda: as consequências do "cenouragate" não se limitaram aos risos de estranhos que o viam na rua. Se o que ele diz é verdade, sua carreira de ator foi sabotada por gente muito importante na empresa em que trabalhava.

Não fosse a cenoura, Mário Gomes poderia ter se tornado um Tony Ramos. Acabou fritando hambúrguer na praia para conseguir uns trocados.

Mário Gomes se transformou no típico pobre de direita. O roceiro de mandioca que tem pavor das invasões do MST. O caminhoneiro que defende a privatização da Petrobras. O funcionário público que aplaude a plataforma liberal de Guedes –Brasília está cheia deles, é um assombro.

Mário Gomes certamente culpa o excesso de direitos trabalhistas pela dívida que contraiu e não pôde pagar. Um liberaloide meritocrata poderia dizer que ele não trabalhou duro o bastante para ganhar mais dinheiro. Eu não. Mário Gomes é vítima, mas se recusa a entender isso.

Mario Gomes espalha fake news sem se dar conta de que as fake news estraçalharam seus sonhos.

Companheiro Mário Gomes, ouça a voz da razão. Aprenda o que o episódio da cenoura tem a lhe ensinar.

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