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De Grão em Grão - Michael Viriato
Michael Viriato
Descrição de chapéu juros Selic copom

Diferente do S&P500, o investimento no Ibovespa não compensa em janelas de longo prazo

Estudo mostra que Ibovespa perde do CDI em quase 70% das janelas de 120 meses desde 1995

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Todos já ouviram falar que, ao investir na Bolsa, o horizonte deve ser de longo prazo. Entretanto, diferentemente dos resultados da Bolsa americana, essa abordagem não tem funcionado quando o investimento é no Ibovespa.

Operador de Bolsa acompanhando o mercado. REUTERS/Brendan McDermid - REUTERS

Quando falo com investidores sobre investir na Bolsa brasileira, muitos logo pensam nos ETFs que replicam o Ibovespa ou em fundos passivos no índice. Atualmente, há vários negociados na B3: BOVA11, BBOV11, BOVX1, IBOB11, BOVB11, XBOV11 e BOVV11.

Muitos preferem estes ETFs e fundos passivos de Ibovespa devido a baixa taxa de administração. Entretanto, os resultados abaixo mostram que essa economia em taxa pode ter um alto custo.

Como qualquer ativo de risco, a compensação pelo risco deve vir por meio de um retorno acima da taxa básica de juros, por exemplo, Selic e CDI para o caso brasileiro.

Todos compreendem que a volatilidade de curto prazo pode levar a resultados desfavoráveis para ativos de risco. Entretanto, seria de se esperar que, em janelas de longo prazo, por exemplo, de 10 anos, o Ibovespa superasse o CDI mais de 50% das vezes.

No entanto, uma pesquisa que elaborei aponta que quando avaliamos o longo prazo no Brasil, o investimento no Ibovespa não se mostra vantajoso.

Desde dezembro de 1995, ocorreram 222 janelas de 120 meses, ou seja, de 10 anos. Em apenas 70 dessas janelas o Ibovespa ganhou do CDI, ou seja, em apenas 31,5% das vezes.

Ao contrário do que a teoria determina, o Ibovespa se sai melhor em janelas de mais curto prazo. Desde 1995, em janelas de 1, 3 e 5 anos, o Ibovespa superou o CDI em 49,7%, 41,5% e 42,6% das janelas, respectivamente. Entretanto, sempre abaixo de 50% das vezes. Ou seja, na maioria das vezes, perde-se para o CDI.

No mesmo intervalo de tempo e seguindo os mesmos prazos, comparei o retorno do S&P500 com o dos Fed Funds, ou seja, o principal índice da Bolsa americana versus a taxa básica de juros americana. Os resultados são bem distintos do índice brasileiro. Desde 1995, em janelas de 1, 3, 5 e 10 anos, o S&P500 superou a taxa dos Fed Funds em 73,3%, 72,8%, 63,8% e 77,9% das janelas, respectivamente.

Perceba que, em todas as janelas, o investimento de risco para o americano compensa o risco em probabilidades maiores que 50%. No longo prazo, ou seja, 10 anos, as chances convergem para quase 80%.

Enquanto o Ibovespa perde do CDI em quase 70% das janelas de 120 meses, o S&P500 ganha dos Fed Funds em quase 80% das janelas no mesmo período. Esta é uma dura realidade que o investidor brasileiro de Bolsa tem enfrentado.

Esta diferença de resultados entre as Bolsas dos EUA e do Brasil pode ter duas justificativas básicas. Primeiro, as taxas de juros no Brasil são elevadas o suficiente para não compensar correr risco. Por várias vezes argumentei aqui nesta coluna que um investimento em renda fixa com retorno de IPCA+6% ao ano isento é quase imbatível no longo prazo.

A segunda razão que muitos atribuem a essa diferença de resultados é a ponderação do Ibovespa. Muitos analistas culpam o grande peso que o principal índice de ações brasileiro tem em setores e empresas que não possuem perspectiva favorável de longo prazo.

Mesmo com esses resultados, ainda acredito que existam oportunidades na Bolsa brasileira. Entretanto, é importante que o investidor entenda dois pontos. Primeiro, claramente o balanço de retorno por risco é menos favorável aqui do que no exterior. Segundo, se optar por investir na Bolsa no Brasil, pense duas vezes antes de investir por meio dos ETFs de Ibovespa citados acima ou em fundos passivos de Ibovespa, pois as probabilidades se mostram desfavoráveis quando avaliamos os dados históricos.

Também, antes de investir, assegure-se de que seu perfil de investidor está adequado ao risco do investimento em ações.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

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