Cozinha Bruta

Comida de verdade, receitas e papo sobre gastronomia com humor (bom e mau)

Descrição de chapéu alimentação

Morto pelo bolinho de camarão

Comida pode nos mandar para o cemitério por alergia, intoxicação, envenenamento, hemorragia e sufocamento

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Brasília

Brendo Yan, rapaz de 27 anos residente em Natal, morreu após comer um bolinho de mandioca recheado com camarão. Ele era alérgico ao crustáceo e mandou para dentro o quitute –cortesia de um vizinho– sem saber nem perguntar o que tinha no recheio.

Costumamos a associar a morte por comida a maus hábitos perpetrados durante anos a fio. O colesterol que entope veias, os aditivos amigos do câncer, a gordura que ataca o fígado.

Dá uma sensação de extrema impotência perceber que apenas um petisco pode mandar uma pessoa para o túmulo. Você cai no Bracarense, pede um chope, um bolinho de aipim e, meia hora depois, está na gaveta do IML.

Porção de bolinhos de camarão com copo de chope ao fundo
Imagem meramente ilustrativa de bolinhos de mandioca com camarão - Ricardo Moraes/Folhapress

Verdade seja dita, as alergias não são tratadas com a seriedade que merecem. É comum a reação "olha o fresco" quando alguém diz que não pode comer castanha, amendoim ou qualquer outra coisa.

O problema é que o desdém pode vir de pessoas que trabalham com alimentação. Restaurantes deixam rolar solta a contaminação cruzada e não dão a atenção devida às perguntas feitas por clientes com alergia.

Anos atrás, investigávamos se meu filho tinha alergia à proteína do leite –já vou dizendo: não tem. Fomos a um restaurante por quilo e perguntamos ao dono o que seria seguro servir ao menino.

Ele respondeu com segurança, apontando para o bufê: isto, isso e aquilo. Pusemos uma bela colherada daquilo no prato da criança, que comeu com gosto.

Aí fomos, eu e a mãe, provar aquilo que tínhamos dado ao rebento. Claramente continha queijo.

O dono do restaurante pediu desculpas, mas não pareceu perturbado demais com o episódio. Nem lhe passava pela veneta que alguém poderia ter uma reação alérgica severa em seu estabelecimento.

Alergia é apenas um dos modos possíveis de se morrer pela boca.

Você corre o risco de ter as vísceras perfuradas se engolir, de mau jeito, certas espinhas de peixe. O Valdemar Costa Neto, capo do PL, foi hospitalizado devido a uma peixada espinhosa que traçou no Maranhão.

A gente morre por intoxicação alimentar, por piriri de salmonelose, por envenenamento deliberado ou por sufocamento.

Quando apurei uma reportagem sobre campeonatos de comilança –essa palhaçada de bater recorde de hot-dogs ingeridos–, deparei-me com diversos acidentes letais na pesquisa.

Teve morte por salsicha, ovo cozido, bolo, croissant, bolacha recheada e queijo. Sempre a mesma história: no afã de comer rapidamente, o competidor acabou entupindo as vias aéreas.

É triste e meio ridículo constatar que tudo aquilo que nos mantém vivos também pode nos matar. Como já disse Magal: o fogo, a terra, a água o ar e a paixão.

A morte nos espreita o tempo todo em todo lugar. Podemos empacotar atravessando a rua, escorregando no box do chuveiro, pisando num fio desencapado, tomando na cabeça um vaso que alguém deixou cair da janela.

Aqui não tem moral da história, mas, se tivesse, seria algo assim: "Aproveite cada refeição como se fosse a última, pois pode ser mesmo".

E, se tiver algum tipo de alergia, busque saber o que está engolindo.

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