Cozinha Bruta

Comida de verdade, receitas e papo sobre gastronomia com humor (bom e mau)

Descrição de chapéu jornalismo

Bares com bebida à vontade criam a taxa do vômito

Nos Estados Unidos, casas com serviço infinito de drinques cobram até US$ 150 de quem não sabe brincar e faz caquinha

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Londres

O título deste texto poderia ter sido feito na esteira da série de TV "Notícias Populares" —jornal em que trabalhei por quase dez anos e cultivei a verve escrotinha que mora no meu âmago até hoje.

Mas não. É a tradução livre de uma manchete do Washington Post, diário que derrubou Richard Nixon, sério à beça.

Na Califórnia, restaurantes e bares passaram a multar em até US$ 150 os aloprados que vomitam à mesa no chamado "bottomless brunch". Taxa para cobrir danos ao patrimônio e à imagem da casa.

Parece que o bottomless —literalmente, "sem fundo"— está na moda no mundo branco rico. Quer dizer comida e/ou bebida à vontade.

Vi um monte de placas anunciando isso ou aquilo bottomless aqui na Inglaterra.

Fui, semana passada, a Camden Town. É uma área do norte de Londres que já viu dias melhores.

Camden, seu canal com barcos-casa, seus cafés e seus brechós tinham um tchan alternativo. Foi onde Amy Winehouse começou a cantar e a morrer.

Do espírito punk, sobrou só a imundície. Camden virou um fluxo incessante de turistas, pedintes, attenzione pickpocket e estabelecimentos que nem fazem questão de parecer bons.

Muitas dessas espeluncas anunciam promoções bottomless. Em geral, de margarita ‒drinque mexicano à base de tequila e limão. Beber margarita até cair. Ou beijar o vaso sanitário, convite irrecusável da tequila em excesso.

Salsão, limão e azeitonas: um Bloody Mary tradicional
Salsão, limão e azeitonas: um Bloody Mary tradicional - Divulgação

Gringos passam vexame quando caem no oba-oba, no ninguém-é-de-ninguém. Não estão acostumados, não é da cultura deles. Dão perda total no rodízio de carne e precisam do SAMU depois do bufê de feijoada.

Nos restaurantes, eles estão habituados a sentar e pedir tudo de uma vez. Então comem, bebem e pegam a conta rapidinho, sem enrolar na mesa, para não atrapalhar os próximos clientes.

O conceito bottomless rompe essa lógica e pira o cabeção do anglo-saxão.

Como o vale-tudo nunca é vale-tuuuuudo (há sempre um intervalo de tempo para o consumo dito ilimitado), os caras entram no modo invasões bárbaras.

O brunch traz um componente adicional de transgressão. Refeição diurna de sábados e domingos, é mais do que a fusão do café da manhã (breakfast) com o almoço (lunch).

É um salvo-conduto para beber álcool antes do meio-dia, inadmissível em outras circunstâncias para cidadãos funcionais e produtivos.

Bloody mary, drinque de suco de tomate e vodca, é algo que americanos bebem tão-somente em situação de brunch. A mimosa, de espumante com suco de laranja, também.

Beber de manhã, ficar inconveniente e passar mal na mesa antes do entardecer. Tem gringo que não consegue evitar.

Não creio que teríamos o mesmo problema no Brasil. Inventamos o rodízio de pizza, de carne, de sushi e de salgadinho de festa infantil. Brasileiro só passa mal em festa open bar quando é muito mirim, 22 anos para baixo (exceções confirmam a regra).

Aqui a banca precisa se preocupar com outro comportamento antissocial: encher a sacola de coxinha para viagem.

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