Darwin e Deus

Um blog sobre teoria da evolução, ciência, religião e a terra de ninguém entre elas

Darwin e Deus - Reinaldo José Lopes
Reinaldo José Lopes
Descrição de chapéu dinossauro

Estudo explica visão única do dente-de-sabre-marsupial argentino

Dentição que não parava de crescer levou bicho a desenvolver gambiarra anatômica

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Havia algo de lisérgico, ao menos do nosso ponto de vista moderno, na fauna sul-americana anterior a uns 3 milhões de anos atrás, quando a nossa parte do continente não passava de uma gigantesca ilha. Por conta do isolamento da América do Sul, espécies de mamíferos que hoje consideramos típicas destas terras, como as onças, os porcos-do-mato e os veados, ainda não tinham aparecido por aqui. Em vez disso, havia uma grande variedade de marsupiais. Entre eles, o aterrorizante sujeito aí embaixo: o dente-de-sabre-marsupial Thylacosmilus atrox.

Para um predador do topo da cadeia alimentar, como ele, havia algo de muito esquisito com o T. atrox. Seus olhos estavam posicionados de forma muito espaçada, cada um voltado para cada lateral da face. É um padrão mais típico de herbívoros, como vacas e cavalos, enquanto outras espécies caçadoras normalmente possuem ambos os olhos voltados para a frente (como os gatos e cães de hoje). É o tipo de disposição anatômica muito útil na hora de caçar, por proporcionar a chamada visão estereoscópica (ou em "3D"). Como é que o bicho se virava para capturar suas presas sem isso? Um novo estudo, que acaba de sair na revista Communications Biology, pode ter resolvido o enigma.

Reconstrução de dente-de-sabre marsupial
Reconstrução de dente-de-sabre-marsupial que viveu na América do Sul há 3 milhões de anos - Jorge Blanco/Divulgação

O crânio do dente-de-sabre-marsupial não tinha esse formato esquisitão à toa. O bicho, que pode ter chegado aos 100 kg, precisava lidar com o fato de que seus caninos gigantescos eram de crescimento contínuo. As raízes dos dentões chegavam a se projetar pelo alto do crânio da criatura. Daí não haver espaço para que a disposição dos olhos fosse semelhante à dos carnívoros atuais.

No novo estudo, assinado por Charlène Gaillard, Analía Forasiepi (ambas do Instituto Argentino de Nivologia, Glaciologia e Ciências Ambientais) e Ross MacPhee (do Museu Americano de História Natural), a charada é resolvida com a ajuda de tomografia computadorizada e modelos de computador em 3D. Em resumo, os olhos do bicho tinham órbitas que se projetavam para a frente e com uma orientação quase vertical. Assim, a disposição lateral dos olhos acaba sendo compensada, e o bicho ganha uma visão estereoscópica, afinal de contas.

Funcionava bem para ele? Tudo indica que sim, embora os predadores não marsupiais (placentários, como nós) tenham suplantado o grupo do T. atrox depois que se formou uma ponte de terra entre a América do Sul e as regiões do continete ao norte. Mas, nesse caso, fatores diferentes da mera habilidade como predador podem ter contribuído.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.