Darwin e Deus

Um blog sobre teoria da evolução, ciência, religião e a terra de ninguém entre elas

Darwin e Deus - Reinaldo José Lopes
Reinaldo José Lopes
Descrição de chapéu quadrinhos

Obra analisa as influências judaicas na origem dos super-heróis

Superman, Batman e principais personagens da Marvel foram criados por judeus

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Foi uma grata surpresa topar, por acaso, com um audiolivro do quadrinista americano Danny Fingeroth. O título da obra fala por si só: "Disguised as Clark Kent: Jews, Comics and the Creation of the Superhero" ("Disfarçado como Clark Kent: Judeus, Quadrinhos e a Criação dos Super-heróis"). De fato, pouca gente se dá conta da influência gigantesca de membros da comunidade judaica americana na gênese de praticamente todos os personagens superpoderosos e mascarados que tomaram conta das telas do cinema nas últimas décadas.

Os fundadores das editoras DC e Marvel, respectivamente a "casa" do Superman e dos Vingadores nos quadrinhos originais que inspiraram os filmes? Judeus.

Jerry Siegel e Joe Shuster, criadores do Superman? Judeus.

Bob Kane e Bill Finger, os pais do Batman? Judeus.

Cena de "X-Men: Dias de um Futuro Esquecido", de 2014
Cena de "X-Men: Dias de um Futuro Esquecido", de 2014 - Divulgação

Stan Lee e Jack Kirby, que inventaram praticamente todo o panteão principal de super-heróis da Marvel, do Hulk aos X-Men, passando pelo Pantera Negra? Idem. (Stan Lee não criou o Capitão América, personagem que é "filho" de Kirby e outro quadrinista judeu, Joe Simon.)

A lista poderia continuar quase indefinidamente, mas vale a pena ao menos mencionar também figuras mais cult -- e extremamente influentes no ramo -- como Will Eisner, criador do personagem Spirit e de graphic novels antológicas.

O livro é, em parte, investigação sociológica, claro: afinal, por que diabos tantos membros da comunidade judaica foram parar nas HQs de super-heróis? A resposta, em parte, é que a cultura de massa barata e produzida em série era praticamente um equivalente criativo da alfaiataria na qual trabalhavam muitos judeus americanos: ajudava a ganhar a vida num país que ainda os via com desconfiança e na qual o acesso a meios mais prestigiosos de cultura era difícil para eles. Stan Lee, por exemplo, queria ser romancista, mas acabou tendo de se virar com a Marvel (a qual, no fim, é claro, rendeu-lhe um impacto tremendamente maior sobre a cultura dos EUA do que qualquer romance que escrevesse).

Outro elemento muito interessante explorado por Fingeroth é o lado utópico e rebelde dos judeus mais ligados à esquerda, que fez com que se interessassem por ficção científica mais que a média do público -- Isaac Asimov é outro grande exemplo -- e "transbordassem" esse interesse para os super-heróis.

Ainda nesse lado político, não é por acaso que o Capitão América foi retratado socando o queixo de Hitler antes mesmo que os EUA entrassem na Segunda Guerra Mundial. A busca do Superman por seu planeta perdido de Krypton traz ecos dos pogroms e do Holocausto, e isso aparece de forma ainda mais clara na lógica por trás dos mutantes perseguidos em X-Men. Os mutantes podem ser os judeus, mas podem ser também qualquer minoria que sofre perseguições.

Enfim, leitura recomendada para qualquer fã de quadrinhos -- infelizmente, por enquanto, só em inglês.

Reinaldo José Lopes
Reinaldo José Lopes

Repórter de ciência e colunista da Folha. Autor de "Homo Ferox" e "Darwin sem Frescura", entre outros livros

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