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De Grão em Grão - Michael Viriato
Michael Viriato

Diversificação: quando você faz demais, pode ter de menos

Diversificar não é simplesmente acumular ativos

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Quando se trata de montar uma carteira de investimentos, muitos se veem na dúvida sobre quantos e quais tipos de ativos incluir? Vários investidores se encontram nesse dilema, preocupados em não colocar todos os ovos na mesma cesta. Entretanto, muitos não percebem que ao diversificar demais podem complicar a compreensão do portfólio ou até mesmo ter retornos piores. A chave aqui é encontrar o equilíbrio certo.

Operador acompanha o movimento do mercado. REUTERS/Brendan McDermid - REUTERS

Essa semana conversei com um investidor que possuía 10 fundos multimercados em sua carteira. O resultado não estava bom. Com isso, ele questionava se para melhorar, deveria ter mais gestores. Mas, será que diversificar sempre é bom?

Diversificação é uma estratégia essencial na gestão de investimentos. Basicamente, significa dividir seus investimentos em diferentes ativos, setores ou mercados para melhorar o balanço de retorno por risco.

A ideia é simples: se um investimento falhar, outros podem se sair bem, compensando as perdas. Entretanto, esta divisão não pode ser de qualquer forma. Ou seja, diversificar não é apenas espalhar os investimentos.

Há um ponto em que a diversificação pode começar a trabalhar contra você. Isso é o que ocorria com o investidor que conversei. Já entendeu o porquê?

Imagine estas duas situações em que a diversificação pode atrapalhar.

Primeiro, considere o investidor de quem conversei. Quando se tem muitos gestores de fundos multimercados, pode ocorrer o caso em que, enquanto um gestor compra dólar, o outro vende; quando um compra ações na Bolsa, o outro vende; e enquanto um aposta que os juros vão cair, o outro aposta que vão subir. No fim, o investidor tem suas exposições neutralizadas entre os gestores e acaba ganhando apenas o CDI, menos a taxa de administração de 2%, comum nos fundos multimercados .

Era quase isso que ocorria com o investidor que conversei. Ter mais gestores como ele questionava não ajudaria. Não estou argumentando se vale ou não ter fundos multimercados, mas como diversificar se você optar por ter. Em seu caso, concentrar nos melhores gestores seria mais recomendado.

Segundo, existe o risco de ter tantos ativos que, quando um deles dispara em rentabilidade, o impacto no seu portfólio global é minúsculo porque cada ativo representa apenas uma pequena fração dele. Aqui, você realmente está diversificando demais.

Portanto, se diversificar demais, os custos de transação e manutenção podem começar a comer seus retornos, e a complexidade da gestão do portfólio pode te sobrecarregar.

Como disse Warren Buffett: "Achamos que a diversificação — como é praticada em geral — faz muito pouco sentido para quem sabe o que está fazendo. A diversificação é uma proteção contra a ignorância... Há menos risco em possuir três negócios maravilhosos e fáceis de identificar do que em possuir 50 grandes empresas bem conhecidas".

Então, onde está o limite?

Não há uma resposta única, mas o excesso é evidente quando se analisa. Por exemplo, no Brasil, ao se ter mais de 3 gestores de fundos multimercados ou 3 de ações, corre-se o risco de perder com a diversificação se eles não forem muito bem selecionados.

expliquei no passado a razão para o caso de gestores de fundos de ações. Não há ações o suficiente em nossa Bolsa. Portanto, se você tem mais de 3 fundos de ações ou está repetindo figurinha, ou está completando o álbum do Ibovespa, ou seja, vai ter o retorno do Ibovespa, mas pagando mais taxa que o necessário.

Para gestores multimercados, é muito importante que se avalie a estratégia perseguida por cada gestor. Ter dois gestores com fundos de mesma estratégia, mas que pensem diferente, podem prejudicar mais o retorno de sua carteira do que ajudar.

Em renda fixa, diversificar significa distribuir investimentos entre diferentes tipos de títulos, assim como, considerar diferentes prazos de vencimento e emissores. Aqui, você minimiza os riscos associados a cada tipo específico e a eventos que possam afetar um emissor ou setor econômico em particular.

O princípio da diversificação é muito importante quando se tem renda fixa de crédito privado. Pulverizando em vários emissores é a forma mais adequada de se diluir o risco específico de um emissor sofrer uma perda.

Em resumo, enquanto a diversificação é vital para qualquer estratégia de investimento, diversificar demais nem sempre é melhor. Ao considerar adicionar um novo ativo à sua carteira, pergunte-se como ele se encaixa na sua estratégia global e se o benefício de redução de risco que ele traz vale o custo e a complexidade adicionais. Lembre-se, o objetivo da diversificação não é simplesmente acumular ativos, mas sim maximizar seu retorno ajustado ao risco.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

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