Na última sexta-feira vimos os mercados brasileiro e americano de ações apresentando forte desvalorização. Os principais agentes de mercado justificaram esta desvalorização pela perspectiva do Federal Reserve (FED, Banco Central americano) subir os juros mais forte que anteriormente esperado. Mas, por que a simples alta dos juros afetaria tanto os mercados?
Podemos elencar pelo menos quatro fatores que fazem com que os mercados de ações sejam afetados pelas taxas de juros.
O primeiro é a própria forma de se calcular o valor justo de uma ação. Usualmente, se calcula o valor pelo método do fluxo de caixa descontado. Nesta metodologia, os fluxos de caixa da empresa seriam trazidos a valor presente por uma taxa de juros.
De fato, ao contrário do que muitos imaginam, os analistas não usam a taxa Selic ou os Fed Funds (taxas de juros de curto prazo americanas) para precificação das ações. A taxa de juros utilizada pelos analistas, usualmente, é a taxa dos títulos de 10 anos. No entanto, a taxa de juros básica da economia, definida pelos Bancos Centrais, tem papel fundamental na construção de toda a curva de juros.
De forma simplificada, neste método, divide-se um fluxo da empresa, por exemplo, os dividendos, por uma taxa de juros. Assim, como a taxa de juros na avaliação está no denominador, quanto maior esta taxa, menor será o valor justo para a empresa hoje.
A segunda razão está relacionada ao custo de oportunidade dos investidores. Com uma taxa de juros maior, investidores exigem um maior retorno para correr risco. Portanto, considerando o mesmo valor justo que o preço da ação convergiria em um ano, o valor a se pagar por uma ação hoje deveria ser menor para que se ganhe mais no investimento.
A taxa de juros maior, também afeta os resultados das empresas em pelo menos duas formas.
Primeiro, com maior taxa de juros, as despesas financeiras das empresas sobem. Logo com uma maior despesa financeira, o lucro cai. Assim, como os dividendos são uma proporção dos lucros, estes caem.
Por último, as vendas das empesas podem ser afetadas, ou seja, podem cair, pois o custo do crédito para as pessoas consumirem se eleva. Com maior custo para consumo, elas podem adiar suas compras. Os indivíduos também podem adiar suas compras, pois com retornos maiores em títulos de renda fixa, ficam mais atraídos por estes trocando consumo por investimento no curto prazo.
Por estes motivos, não é à toa que os analistas explicam que as taxas de juros são o elemento formador de todos os preços no mercado financeiro.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor
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