Com a queda do dólar nos últimos dois anos, frequentemente recebo questionamentos de clientes perguntando se estaria na hora de comprar dólar. Usualmente, respondo à pergunta com outra: por que você quer comprar dólar? Explico por que a resposta usual não tem fundamento na matemática das finanças.
Tendo em vista nossa taxa de juros mais elevada, a maioria dos brasileiros investe prioritariamente em renda fixa. Apesar de já estarem em renda fixa, há um anseio por mais proteção. E quando se fala em proteção, comprar dólar surge como uma alternativa na mente de vários, principalmente, aqueles com mais idade.
A ideia de se proteger comprando dólar vem do passado. Antes da virada do século tivemos momentos de elevada inflação e naquela época não havia como se proteger desta. A solução era comprar moeda estrangeira. Algo parecido ocorre na Argentina há alguns anos.
É preciso entender que o que ocorre com a Argentina é diferente. A inflação está fora de controle e não há aplicações disponíveis para se proteger desta.
Entretanto, neste momento, no Brasil temos uma inflação controlada e amplos investimentos com proteção para a inflação.
A compra de dólares, portanto, com o motivo de segurança perde o sentido.
Abaixo, simulo a evolução do investimento de R$ 100 mil em 3 portfólios ao longo dos últimos 20 anos:
1 – Portfólio que investiu apenas em renda fixa referenciada ao IPCA de vencimento menor que cinco anos, o IMAB-5;
2 – Portfólio que aplicou apenas em dólar;
3 – Portfólio que dividiu a aplicação entre IMAB-5 e dólar.
O gráfico acima apresenta a evolução de cada um destes investimentos. Pelo gráfico, já é possível entender que a justificativa de proteção para a compra de dólar não é adequada para o investidor de renda fixa. Entretanto, vamos analisar os números.
Entre setembro de 2003 e setembro de 2023, o retorno médio anual do IMAB-5 foi de 12,1% ao ano. No mesmo período o retorno médio anual do dólar foi de 2,6% ao ano.
A valorização média do dólar foi inferior ao da inflação medida pelo IPCA, como era de se esperar pela teoria. Pela teoria, a moeda de um país deveria se desvalorizar o diferencial de inflação em relação ao outro.
Portanto, com o enfoque de retorno, a adição da moeda estrangeira não trouxe vantagem. Quando avaliamos a questão de risco, o dólar promove justamente aquilo que investidores estão desejando fugir, ou seja, mais risco.
A medida de risco utilizada em finanças, conhecida como volatilidade, destrói o argumento de proteção para a compra de dólar, quando o investidor aplica apenas em renda fixa.
Enquanto a volatilidade dos retornos do IMAB-5 é de apenas 3,1% ao ano, a do câmbio é de 15,4% ao ano. Portanto, 5 vezes mais arriscado.
Logo, quando se adiciona dólar a uma carteira de renda fixa, o retorno cai e o risco sobe.
Assim, investidores com carteira apenas de renda fixa devem afastar a ideia de investir em dólar como forma de proteção. Se expor à volatilidade elevada do câmbio só resultará em mais risco e menor retorno para estes investidores.
Reforço, que o raciocínio exposto é válido para os investidores de renda fixa. Entretanto, o mesmo argumento não vale para investidores de ações. Neste caso, vou mostrar na próxima semana que a moeda pode ser usada com o argumento de proteção.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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