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De Grão em Grão - Michael Viriato
Michael Viriato
Descrição de chapéu Selic juros

O ativo reconhecido como de menor risco no mundo se desvaloriza mais de 42% em 3 anos

Existem duas características que definem um ativo como livre de risco

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Você consideraria um ativo que perdeu mais de 42% de seu valor nos últimos três anos como um ativo livre de risco? O conceito do que é um ativo livre de risco não é algo natural, principalmente, para nós brasileiros. Explico os dois fatores que caracterizam um ativo como livre de risco e o que ocorreu com o ativo livre de risco mencionado no título.

Existem duas características que definem um ativo como livre de risco. REUTERS/Dado Ruvic/Illustration/File Photo ORG XMIT: FW1 - REUTERS

Para a maioria dos brasileiros, um ativo é reconhecido como livre de risco quando ele sempre sobe e oscila pouco. Entretanto, isso não é como a teoria define.

Ficamos mal-acostumados com o CDI e a Selic e nossa compreensão do que é risco mudou.

De fato, o título público federal que remunera a taxa Selic também pode ser caracterizado como livre de risco. Entretanto, isso ocorre dentro de uma certa condição. E é sobre essa condição e outra que vou falar agora.

Conforme descrito pelo renomado professor da Universidade de Nova Iorque, Aswath Damodaran em seu artigo "What is the riskfree rate? A Search for the Basic Building Block", os dois fatores que definem um ativo como livre de risco são:
1 – Ausência de risco de crédito;
2 – Ausência de risco de reinvestimento.

São dois fatores, mas se resumem a uma declaração expressa por Damodaran. Um título é livre de risco quando seu retorno realizado é igual ao retorno esperado. Ou seja, você recebe quanto esperava receber.

Por exemplo, se você empresta R$ 100 e espera receber 10% em 1 ano, o ativo é livre de risco se com probabilidade de 100% você recebe R$110 de volta neste prazo.

Vamos voltar aos fatores. O primeiro dele diz respeito a não se ter risco de crédito. Então, quem não teria risco de crédito?

Dado o poder de tributação e do controle da oferta de dinheiro, a única entidade que não tem risco de crédito, como explica Damodaran, é o governo de um país, mas apenas sobre as dívidas em sua própria moeda.

Assim, o governo americano tem total capacidade de pagar as dívidas em dólar, pois ele tem pode emitir moeda e pagá-la. Também o governo brasileiro tem a mesma capacidade quando se trata de títulos em Reais.

Assim, quando se fala em livre de risco, deve-se considerar uma moeda e um título emitido pelo governo federal.

O segundo fator, a ausência de risco de reinvestimento, determina que para ser livre de risco, o título precisaria ser para um prazo certo equivalente à necessidade de caixa do investidor.

Portanto, um investidor com horizonte de investimento de cinco anos, que invista em um título de um ano, corre risco, pois não sabe quanto vai receber de juros em cinco anos. Afinal, quando o título de um ano vencer, ele não sabe a que taxa vai reinvestir.

Da mesma forma, um investidor com horizonte de um ano que aplica em um título de 20 anos, também corre muito risco, pois não sabe quanto vai ter em um ano. Lembre-se, os títulos são marcados a mercado. Logo, se as taxas de juros sobem, esse título de 20 anos se desvaloriza e o investidor pode sair com menos do que ele colocou.

Nestes casos, a declaração única não se torna verdade, ou seja, o retorno real não é igual ao esperado.

A grande confusão dos investidores brasileiros de renda fixa está nesta questão. Muitos mentalizam seu horizonte como de 30 dias, quando de fato deveria ser de 10 ou 30 anos, pois estão investindo para a aposentadoria.

O desafio está em definir o prazo de investimento e procurar coincidir este com o vencimento do título investido. Assim, o investidor aplica em um título sem risco.

O título reconhecido como de menor risco no mundo são os títulos públicos federais americanos. Lógico que para cada prazo há investidores que o qualificam como sem risco dentro de seu horizonte.

Estes títulos sofreram uma expressiva queda nos últimos 3 anos.

Os títulos com 7 a 10 anos de vencimento perderam em média 21,2% de seu valor desde o final de 2020. Lembre-se, eles são reconhecidos como sem risco apenas para o investidor com o horizonte de investimento equivalente ao vencimento do título. No vencimento, o investidor receberá seu capital, acrescido do juro contratado no início.

Já os títulos com mais de 20 anos de vencimento, perderam 42,8%, no mesmo prazo.

Voltando à taxa Selic, ela é uma taxa diária. Portanto, só é livre de risco por um dia. O investidor de longo prazo que aplica nesse título tem risco de reinvestimento.

Portanto, um título como o Tesouro Selic, para um investidor que aplica para a aposentadoria em 10 anos, é mais arriscado que um título de 10 anos que sofre maior variação pela oscilação das taxas.

Não ter risco de oscilação não é uma característica de um ativo livre de risco. Você pode se livra da oscilação, mas recai em um risco ainda maior que é o de não saber quanto vai ter no futuro.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

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