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De Grão em Grão - Michael Viriato
Michael Viriato
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Se você se interessa por ações pagadoras de dividendos, evite cair neste viés comportamental

Investidores se iludem ao construir estratégias baseadas apenas nos casos de sucesso

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Investir em ações pagadoras de dividendos pode parecer uma escolha segura e rentável, mas os investidores muitas vezes se enganam ao basear suas decisões apenas em históricos de sucesso. Depois de meu artigo de ontem, recebi um e-mail de um leitor que ilustra esta falha. Este erro é frequentemente exacerbado pelo viés de sobrevivência, um conceito psicológico que leva à superestimação das histórias de sucesso enquanto negligencia os muitos casos de fracasso.

Investidores se iludem ao construir estratégias baseadas apenas nos casos de sucesso. REUTERS/Brendan McDermid/File Photo ORG XMIT: FW1 - REUTERS

O viés de sobrevivência ocorre quando se dá atenção ou consideração em estudos atuais apenas às empresas que tiveram sucesso ao longo dos anos, ignorando aquelas que falharam ou tiveram desempenho inferior. No contexto do investimento em ações, isso pode levar a uma percepção distorcida sobre o resultado que se obtém no investimento e na construção de estratégias.

Foi exatamente isso que ocorreu com o leitor. Ele pediu para eu analisar a estratégia de investimento que ele montou em empresas pagadoras de dividendos. O resultado de sua estratégia era muito bom. Entretanto, ele selecionou apenas aquelas ações que apresentaram excelente desempenho no passado até hoje.

Mas este não é um caso isolado. Constantemente recebo questionamentos sobre portfólios formados apenas pelas reconhecidas vencedoras dos últimos anos.

Ressalto, ninguém ganha o retorno passado investindo a partir de hoje.

Muitas empresas que eram excelentes pagadoras de dividendos e apresentavam excelente desempenho, deixaram de ser interessantes com o passar do tempo. O mesmo pode ocorrer com a empresa que você selecionou e foi bem até hoje.

Vou citar duas clássicas mais recentes. Meus leitores das antigas podem ajudar nos comentários com outros exemplos.

Dois exemplos clássicos de ações que, muitas vezes, não são mais consideradas em portfólios de dividendos são os das empresas Cielo e Ultrapar.

Ambas eram vistas como escolhas sólidas, especialmente por serem consistentes no pagamento de dividendos, além de oferecerem retornos atraentes de ganho de capital. No entanto, essas empresas enfrentaram desafios significativos que impactaram seu desempenho, demonstrando que o sucesso passado não é uma garantia para o futuro.

Lembro de em 2017 conversar com um amigo investidor e ele falava que a Cielo seria sua aposentadoria. Realmente, a empresa pagava uma taxa de dividendo absurda. O investimento na Cielo representava mais de 50% da carteira daquele investidor naquele momento.

Naquele momento, quem olhava para o passado, imaginava que investir em Cielo era como comprar uma máquina de gerar dinheiro, algo certo. Entretanto, mudanças regulatórias que elevaram a competição no setor transformaram os resultados da Cielo.

Daquele instante para hoje, não só a ação da Cielo despencou 80% como o lucro e a taxa de dividendos caíram. Tenho receio de perguntar para meu colega o que ele fez. Se ele não vendeu logo, sua aposentadoria ficou mais distante.

Assim como o investidor que me escreveu não incluiu Cielo e Ultrapar em sua simulação, muitos cometem o mesmo erro excluindo as ações perdedoras de suas simulações. Ou em considerar nas simulações a média ou o índice como eu costumo fazer. Até mesmo o índice sofre do viés de sobrevivência. Mas, pelo menos, várias empresas perdedoras constavam do índice por vários momentos enquanto perdiam até serem expulsas do índice.

Outras ações no Brasil, que também eram conhecidas por serem boas pagadoras de dividendos, sofreram quedas, reforçando a importância de não se basear apenas em históricos de sucesso.

A escolha de ações pagadoras de dividendos deve ser cuidadosa, considerando uma análise abrangente que inclua a saúde financeira atual da empresa, suas perspectivas de mercado e o contexto econômico em geral. A análise deve ser feita não só no momento do primeiro investimento, mas continuamente revisitada.

Em resumo, ao selecionar ações pagadoras de dividendos, é crucial evitar o viés de sobrevivência e a falácia de acreditar que é fácil prever o futuro com base no passado. Uma abordagem mais equilibrada e bem fundamentada pode ajudar a mitigar riscos e melhorar as chances de sucesso no investimento em ações.

Como expliquei ontem, com as altas taxas de hoje, muitas vezes, quem investe em títulos de renda fixa da empresa, pode se sair melhor do que quem investe nas ações para ganhar parte do lucro. Lembre-se, as despesas financeiras de uma empresa vêm antes do dividendo. Ou seja, primeiro a empresa paga os credores e os acionistas ficam apenas com o que sobra.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

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