Se você já investiu em fundo multimercado, de ações ou algum produto de risco, já ouviu o termo volatilidade. Ele é frequentemente usado como uma medida de risco. Sabemos que quanto maior a volatilidade, maior é o risco. Entretanto, muitos têm dificuldade para relacionar o nível da volatilidade com o possível impacto no portfólio. Vou simplificar essa relação.
Quando falamos de volatilidade nos investimentos, estamos nos referindo às oscilações nos preços dos ativos. Fazendo uma analogia, imagine que você está em um barco em alto mar. A volatilidade seria o tamanho das ondas que balançam seu barco. Algumas ondas são pequenas e quase não sentimos, enquanto outras são grandes e podem nos fazer sentir desconfortáveis ou até nos derrubar.
No mundo dos investimentos, essas "ondas" são as variações nos preços dos ativos: ações, moedas, commodities, entre outros. Assim, sabemos ondas grandes podem causar mais danos. Entretanto como medir o possível impacto de cada onda em nossa embarcação para podermos melhor escolher quão longe podemos adentrar no mar dos investimentos?
Para entender melhor o impacto da volatilidade no seu portfólio, podemos usar uma medida chamada Value at Risk (VaR), ou Valor em Risco. Ela é uma ferramenta amplamente utilizada por investidores institucionais.
O VaR é uma forma de dizer "com base no que sabemos até agora, aqui está o máximo que podemos esperar perder em um determinado período". É como se estivéssemos dizendo: "Considerando o tamanho das ondas (volatilidade), qual é o pior impacto que uma onda, ou seja, resultado podemos esperar com uma certa confiança?"
O VaR é uma maneira simples de calcular esse risco. Ele depende de três fatores principais: a volatilidade do investimento (quão grandes são as ondas) e a média dos retornos (a direção geral para onde o barco está indo) e de um multiplicador que está relacionado à confiança que você deseja ter no número.
Vamos falar primeiro sobre o multiplicador. A escolha do multiplicador está relacionada à confiança que se deseja que haverá menores ou maiores probabilidades de perdas piores que a identificada.
Por exemplo, se você deseja ter 95% de confiança no número, só haverá 5% de probabilidade de haver perdas piores que a calculada. Já para 90% de confiança, há 10% de probabilidade de ocorrerem perdas piores que a encontrada. Assim quanto mais conservador, maior o grau de confiança a ser usado.
A prática em investimentos é se utilizar um número de 95% de confiança.
Suponha que você tenha um investimento com uma média de retorno de 1% ao mês e uma volatilidade de 6% ao ano. Concorda que fica difícil dizer o que representa a volatilidade?
Primeiro, precisamos transformar esta volatilidade anual em uma medida mensal. Para isso, basta você dividir por raiz de 12. Assim, uma volatilidade de 6% ao ano, equivale a 1,7% ao mês (= 6%/(raiz(12)).
Usando o VaR, queremos saber: "Qual é o pior resultado que podemos esperar em um mês, com 95% de confiança?"
Para 95% de confiança, o valor do multiplicador é de aproximadamente 1,65. Para 90% de confiança, o multiplicador seria de 1,28.
A fórmula para o VaR é: VaR = retorno médio - multiplicador * Volatilidade
Portanto, aplicando os números do nosso exemplo: VaR = 1% - 1,65 * 1,7% = - 1,8%
Isso significa que, com 95% de confiança, o pior que podemos esperar de resultado em um mês qualquer é perder 1,8% do valor do nosso investimento. Vamos ver mais um exemplo para fixar.
Avaliando de forma anual e usando outro exemplo, imagine que você tem uma carteira com volatilidade de 3% ao ano e você tem um retorno médio próximo do CDI, ou seja de 11,15% ao ano.
Com 95% de confiança, seu pior resultado em um ano seria de 6,2% positivo (= 11,15% - 1,65 * 3%). Ou seja, com 95% de confiança, em um pior caso esperado, seu portfólio renderia apenas 56% do CDI.
Também é possível usar o VaR para entender a possibilidade de impacto positivo. Nesse caso, seria necessário somar o produto na fórmula em vez de subtrair.
Usando o mesmo exemplo anterior, com 95% de confiança, seu portfólio poderia render em um ano até 16,1% (= 11,15% + 1,65 * 3%), ou seja, 144% do CDI. Esse seria o melhor resultado esperado com 95% de confiança.
Entender o VaR é crucial porque nos dá uma visão clara do pior cenário possível (dentro de um certo nível de confiança).
Também pode nos ajudar a interpretar o lado positivo para entendermos qual ganho em excesso podemos ter e se estamos dispostos a enfrentar um determinado risco para poder obtê-lo.
Pelo exemplo utilizado, se você sabe que, no pior caso, pode ter um retorno de até 56% CDI em seu investimento em um ano, isso pode ajudá-lo a decidir se esse nível de risco é aceitável para você e seus objetivos financeiros.
Para investidores, essa é uma ferramenta valiosa. Ela permite avaliar o risco de forma mais concreta, ajudando a tomar decisões mais seguras sobre onde colocar seu dinheiro. Lembre-se, entender o risco é o primeiro passo para investir de maneira inteligente e segura.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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