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De Grão em Grão - Michael Viriato
Michael Viriato

Três consensos entre os gestores internacionais que visitei nesta semana

Foco em empresas de qualidade pode explicar por que investidores estrangeiros estão deixando Brasil

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Como mencionei ontem, nesta semana, estou em Nova Iorque em um evento chamado Imersão Wall Street organizado pelo Samuel Ponsoni da Outliers Advisors. Estamos visitando uma série de gestoras para aprender sobre suas estratégias, obter suas visões e entender como eles estão investindo pelo mundo. Estes gestores que visitamos são responsáveis por administrar um montante que somado representa cerca de duas vezes o PIB brasileiro. Entender o que eles estão fazendo é fundamental para antecipar para onde essa montanha de dinheiro está migrando e de onde ela está saindo.

Foco em empresas de qualidade pode explicar por que investidores estrangeiros estão deixando Brasil.
Foco em empresas de qualidade pode explicar por que investidores estrangeiros estão deixando Brasil. - Samuel Ponsoni

Um ponto me deixou muito contente, pois o maior consenso que observei entre os gestores de ações foi antecipado por mim aqui nesta coluna em 2020, ou seja, há quatro anos. Veja o que escrevi naquele ano.

O maior consenso entre as gestoras que visitamos é que o foco deve ser em empresas de qualidade.

Lógico que o que define qualidade muda para cada gestora, mas alguns critérios são comuns: elevado retorno sobre o capital, baixo endividamento, estabilidade de resultados, baixa necessidade de investimento em capital, investimento em pesquisa e desenvolvimento (inovação), produto com barreira competitiva, cultura empresarial, dentre outros.

Óbvio que o preço que se paga em uma ação também importa. Entretanto, antes de perder tempo calculando se uma empresa está barata, eles primeiro filtram apenas as empresas qualificadas como de qualidade. E esse critério tem gerado bons resultados.

O quadro abaixo apresenta o desempenho de diversos índices de ações segmentados por fatores, como, por exemplo: dividendo, valor, crescimento, qualidade e outros.

Esses índices de ações são calculados e montados pela MSCI que é uma das mais renomadas empresas no mundo na criação de índices. A tabela mostra na cor verde aquele indicador com desempenho mais positivo e em vermelho o pior.

Perceba como o fator qualidade é o mais positivo em quase todas as janelas de observação, principalmente, nos prazos mais longos.

Foto do site da MSCI que apresenta o desempenho histórico de índices de ações globais segmentados pelos diversos fatores que investidores acompanham. Fonte: https://www.msci.com/factor-index-scorecard
Foto do site da MSCI que apresenta o desempenho histórico de índices de ações globais segmentados pelos diversos fatores que investidores acompanham. Fonte: https://www.msci.com/factor-index-scorecard - MSCI

Outro consenso entre os gestores que visitamos é o fato de ninguém falar em empresa pagadora de dividendo, ou justificar investimento por causa de dividendos. Diferente disso, é comum entre brasileiros o foco em dividendos. Vou justificar a seguir porque, talvez, esse seja um foco de muitos investidores brasileiros.

Antes, vou explicar por que a montanha de dinheiro não está interessada em dividendos. Não é por acaso. Empresas pagadoras de dividendos, usualmente, são empresas maduras, que possuem baixo retorno e não possuem produtos inovadores. Não parece ser o tipo de empresa que atrai o desejo de ser sócio no longo prazo.

O fator valor foi comentado, mas de longe é um foco. Essa é outra coisa que nós brasileiros estamos atrasados. Muitos investidores brasileiros focados em valor ainda justificam citando o Warren Buffett do século passado. Como alguns gestores aqui comentaram, até o Warren Buffett já mudou o foco dele de valor para qualidade há um certo tempo.

O terceiro consenso é de que o investimento em ações no Brasil, decididamente, não é a bola da vez para os estrangeiros. E não é por causa da política. Como explicou um dos gestores: "o mandato de políticos é transitório, uma empresa de qualidade dura muito mais tempo".

Já ouvi muitos gestores brasileiros falando recentemente em podcasts que o Brasil seria desejado por investidores estrangeiros porque muitos países emergentes estavam em pior situação como Rússia. Não acho que podemos contar com a montanha de dinheiro internacional tão cedo.

Não é à toa que o fluxo de investidores estrangeiros esteja tão negativo no ano. Segundo dados da B3, o volume de saída de estrangeiros de nossa Bolsa alcançou R$ 22,3 bilhões neste ano até o dia 11/mar.

Uma das razões é simples. Não temos empresas de qualidade. Nossas empresas não passam nos duros critérios dos gestores que visitamos.

Não por acaso, muitos brasileiros se contentam com empresas pagadoras de dividendos. Na ausência de empresas realmente de qualidade, melhor ficar com algo mais certo que é o dinheiro do dividendo na mão.

Para os estrangeiros, acho que estamos na categoria do value trap (armadilha do valor em inglês). Ou seja, nossa Bolsa pode até estar barata, mas eles não vêm que essa situação vá mudar tão cedo e as empresas não possuem qualidade o suficiente para sustentar a espera.

Sem dúvida, a viagem foi muito rica de aprendizado e de mudança de percepção. Mas, vou deixar para comentar sobre as mudanças de percepção em próximos artigos.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

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