O Mundo É uma Bola

O Mundo É uma Bola - Luís Curro
Luís Curro

Ideia contra cera do goleiro é lançada, talvez sem a devida rigidez

Órgão responsável pelas regras do futebol quer punir lentidão na reposição da bola com escanteio; tenho sugestão mais severa

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Uma das coisas que me incomodam durante uma partida de futebol é a demora do goleiro em repor a bola depois de fazer uma defesa ou uma intervenção de outra forma, como ao interceptar um cruzamento.

A chamada cera acontece com certa frequência, e é mais comum quando o time do guarda-metas está em vantagem no placar.

A regra 12 do esporte estabelece que o goleiro, ao ter a bola nas mãos, precisa recolocar a redonda em movimento depois de no máximo seis segundos.

Se isso não acontecer, o árbitro deve marcar tiro livre indireto contra o time do infrator, no local em que o arqueiro estiver segurando a bola.

O goleiro Michael Zetterer, do Werder Bremen, deitado no gramado, de bruços, com a bola entre as mãos e junto ao peito
O goleiro Michael Zetterer, do Werder Bremen, sem pressa para repor a bola em jogo na partida contra o Stuttgart pelo Campeonato Alemão - Focke Strangmann - 21.abr.2024/AFP

Essa, entretanto, é uma regra que não pegou no futebol.

Goleiros repetidamente demoram muito mais que seis segundos para soltar a bola, chegando a 15, 20 segundos, ou mais, mas é raríssima a marcação da falta. A arbitragem descumpre a norma, é tolerante com esse antijogo.

De acordo com o Ifab (International Football Association Board), órgão que regulamenta as regras do jogo, os árbitros relutam porque o tiro livre, de dentro da área, é "uma vantagem grande demais, pois a probabilidade de fazer [um gol] é elevada, embora [o time] não tivesse chance de marcar quando a infração ocorreu".

Em seu último encontro, neste mês, membros do Ifab abordaram o tema, a fim de tentar desestimular de outra forma a lentidão dos goleiros na reposição da bola.

Definiu-se que, na temporada 2024/2025, haverá testes em algumas ligas ao redor do mundo. Quando o goleiro demorar mais que o tempo estipulado para mover a bola, o árbitro dará à equipe adversária um escanteio ou um lateral.

Os campeonatos que passarão por essas experiências não estão definidos. Geralmente, testes acontecem em torneios de categorias de base, não nos disputados por adultos.

Pode ser que funcione. Os goleiros, para o time não ficar sem a posse de bola em uma posição de risco (especialmente se for marcado um córner), tenderiam a ser rápidos na reposição.

Eu, porém, se legislasse e tivesse poder de decisão, faria diferente.

Implantaria uma solução com punição mais rigorosa e que não faria a arbitragem interromper o jogo para inverter a posse da bola –o futebol já tem paradas demais, muito devido às constantes intervenções do VAR, o árbitro assistente de vídeo.

Primeiro, determinaria que o tempo de sanção para a cera do goleiro passaria para dez segundos. Seis segundos considero pouco para raciocinar adequadamente, já que há casos em que ele pega a bola e há muitos jogadores em volta dele, prejudicando sua visão.

Isso feito, deixa-se a partida transcorrer normalmente. O goleiro estourou os dez segundos? Nada se faz na hora, continua-se jogando.

Encerrado o jogo, recorre-se às imagens. O cronômetro, que não mente, é acionado no lance em questão.

Constatou-se a cera? Ficou evidente que o goleiro prendeu a bola propositalmente, praticando o antijogo? A punição então é aplicada.

E precisa ser severa para funcionar: o goleiro fica fora da próxima partida. A equipe terá de atuar com o reserva, que teoricamente é inferior tecnicamente ao titular.

Caso uma norma assim seja colocada em vigor, a cera do goleiro estará muito perto de ser extinta, pois não há jogador (entre os que levam a sério o profissionalismo) que deseje ficar fora de um jogo.

Ademais, o goleiro, não raro, é peça-chave nas equipes. É atleta de confiança, ficar sem o "número 1" é problema grave. Técnico e colegas de time sempre estarão lembrando-o e estimulando-o a repor logo a bola, evitando que ele perca o embate seguinte.

Para a regra ter efetividade maior, deve valer também para o tiro de meta. Colocada a bola no local da cobrança, passam a contar os dez segundos para o goleiro chutá-la.

Pode ser que essa ideia possua defeitos que eu não tenha identificado e precise de ajustes. Contudo é preciso ser propositivo, indicar caminhos, estimular o debate.

Tudo para que o futebol se torne mais dinâmico, menos entediante, mais atrativo. Em uma palavra: melhor.

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