Andanças na metrópole

As camadas de história encobertas em construções, ruínas e paisagens

Andanças na metrópole - Vicente Vilardaga
Vicente Vilardaga

Aeroporto de Congonhas desperta memória afetiva dos paulistanos

Segundo mais movimentado campo de aviação do país guarda resquícios do passado

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São Paulo

"Triste comédia/A família paulistana/Não tem fim de semana/Não tem praia nem montanha/No aeroporto de Congonhas/Passa todos os domingos/Só pra ver avião descendo/Só pra ver avião subindo."

A música do grupo Joelho de Porco, gravada em 1978, faz referência a uma época em que Congonhas era uma importante opção de lazer dos paulistanos, que iam lá só para contemplar as máquinas potentes e vê-las decolando e aterrissando.

Hoje, os terraços que permitiam acompanhar a movimentação das aeronaves não existem mais e o aeroporto foi privatizado e completamente modernizado. Os aviões também se banalizaram e não são mais objeto de culto tecnológico.

Hangar em Congonhas tombado pelo Conpresp que se tornará uma sala de embarque até 2028 - Reprodução Google Maps

Segundo campo de aviação mais movimentado do país, superado apenas pelo de Guarulhos, Congonhas está hoje sob responsabilidade da espanhola Aena, maior empresa aeroportuária do mundo. Sua estrutura interna foi toda modificada e ele ganhou novas áreas de embarque e desembarque, além de fingers, espaços de escape no sistema de pista, mais esteiras para restituição de bagagens, além de outras inovações.

Em meio a toda essa modernização ficaram, porém, resquícios do passado, bens tombados pelo Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental), que ainda despertam a memória afetiva de passageiros e visitantes. São pelo menos 12 monumentos e lugares que resistiram à passagem do tempo.

Avião da Vasp no primeiro dia da ponte aérea Rio-São Paulo, em 06 de julho de 1959, em Congonhas - Folhapress

Uma importante marca do passado de Congonhas, cujo nome oficial é deputado Freitas Nobre, é o hangar de madeira erguido no fim dos anos 40, nos primórdios do aeroporto, e utilizado pela extinta Varig na década de 60. Atualmente é operado pela Gol.

Tombado em 2011 por ser considerado "um exemplar único de técnica construtiva não mais praticada na cidade de São Paulo", ele será transformado, até 2028, em uma sala de embarque de passageiros que serão levados de ônibus até as aeronaves. Erguido com madeira ele se destaca pelo arco triarticulado na fachada.

Saguão de embarque
Saguão principal de embarque do aeroporto de Congonhas - Vicente Vilardaga

Também está preservada por determinação do Conpresp a fachada do saguão central, onde está estampado o nome Aeroporto de Congonhas. Ela mantém as características originais do projeto em estilo art déco realizado pelos arquitetos Ernani do Val Penteado e Raymond A. Jehlen na década de 50.

Congonhas começou a funcionar nos anos 30 numa grande área descampada a 11 quilômetros do centro da cidade, que tinha cerca de um milhão de habitantes na época. O local foi escolhido porque não estava sujeito a enchentes, como acontecia no Campo de Marte, e por estar em uma região pouco adensada, muito diferente do que se vê hoje.

Outro fator que pesou na escolha foi a construção pela Companhia Auto-Estradas de uma via de acesso, a atual avenida Washington Luis, que fazia a ligação entre São Paulo e o então município de Santo Amaro.

Busto de Santos Dumont
Busto de Santos Dumont de autoria de Victor Brecheret - Vicente Vilardaga

Foi a mesma Companhia Auto-Estradas que comprou o terreno onde fica o aeroporto e instalou a pista de terra para pousos e decolagens, usada pela primeira vez em 12 de abril de 1936. Em julho foi construída uma segunda pista e Congonhas passou a ser utilizado em voos de aviação comercial. Meses depois, o governo adquiriu a área que passou a ser chamada de Aeroporto de São Paulo.

A partir do final dos anos 40 ele começou a ganhar a configuração atual e passou por sucessivas ampliações para acompanhar o crescimento da demanda. Em 1954, foi inaugurado o pavilhão das autoridades e, em 1955, o novo terminal de passageiros.

Pavilhão das autoridades
Pavilhão das autoridades, inaugurado em 1954 - Vicente Vilardaga

São dessa época e das décadas seguintes os outros bens tombados do aeroporto, como o busto de Santos Dumont, de autoria de Victor Brecheret, o painel de madeira com um mapa do Brasil e a rosa dos ventos, o piso quadriculado preto e branco, de 1968, e as escadarias e os corrimãos que dão acesso ao mezanino do saguão principal do terminal de embarque.

Há também o busto do comandante Sacadura Cabral, realizado por Luiz Morrone, um painel com placas de granito com desenhos em baixo relevo, o Monumento da Asa, de Galileo Emendabili e o pavilhão das autoridades, que mantém suas características originais.

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