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De Grão em Grão - Michael Viriato
Michael Viriato
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Viver de renda com crédito privado é melhor do que com título público?

Títulos de crédito privado isentos de IR são mais eficientes que títulos públicos na proteção contra inflação

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Sempre afirmo a todos os investidores que não existe nada que seja sempre bom no mercado financeiro. Se você tem algum benefício, possivelmente há algum ônus ou "risco". No artigo de ontem, escrevi sobre como travar uma renda de R$ 5 mil por 60 anos. Alguns podem argumentar que não há qualquer risco em se aplicar em título público. Mas, sim há algumas desvantagens relativas. O crédito privado isento pode solucionar algumas destas desvantagens.

Títulos de crédito privado isentos de IR são mais eficientes que títulos públicos na proteção contra inflação - Spencer Platt/Getty Images via AFP

Recebi elogios e críticas sobre o artigo de ontem. Um e-mail do leitor Anderson me chamou a atenção, pois ele levantou alguns pontos que costumo alertar.

Ele disse: "Em relação ao risco de Imposto de Renda sobre inflação. Como falei acima, minha carteira de renda fixa é focada em títulos isentos, e isso tem um motivo que vejo pouco abordado. Na coluna de ontem (15/abril) você mostrou um modelo simples de aposentadoria usando títulos públicos. No entanto eu tenho um grande receio da explosão da inflação, e no final, ao considerar a aplicação do imposto de renda, ocorra uma perda do poder de compra. Considerando o cenário eternamente incerto do Brasil, não seria melhor reduzir esse risco da explosão de inflação alocando sempre em títulos isentos? Como seria possível se proteger deste risco do IR sobre principal corroer o ganho real?".

Ele levantou 3 dúvidas, mas hoje vou esclarecer duas delas e focar nesta acima.

Quem me segue aqui sabe que costumo falar bastante em crédito privado. Talvez Anderson seja um leitor recente ou eu que escreva com muita frequência e seja difícil acompanhar.

Embora meu receio com inflação seja muito menor que o de Anderson, também, prefiro o crédito privado ao público e uma das razões é a levantada por ele. No título isento de IR, você tem um benefício grande em relação ao título público.

Quando você tem uma taxa de juros real, ou seja, acima do IPCA, em um título público de 6% ao ano, o ganho líquido pode ser muito mais baixo. Isso ocorre, pois a inflação incide tanto sobre a taxa real quanto sobre a inflação.

Portanto, os títulos públicos, por serem tributados, oferecem uma proteção ineficiente contra a inflação. Isso ocorre, pois quanto maior a inflação, menor será seu ganho real líquido.

A tabela abaixo apresenta, para cada taxa de inflação futura, o juro real líquido de IR para uma aplicação que tem juro real bruto de IR de IPCA+6% ao ano.

Taxa real bruta de IR Inflação Taxa real líquida de IR
6,0% 3,0% 4,7%
6,0% 4,0% 4,5%
6,0% 5,0% 4,4%
6,0% 6,0% 4,3%
6,0% 10,0% 3,7%

Nos últimos 20 anos a inflação média anual medida pelo IPCA foi de 5,7% ao ano. Nos últimos 10 anos, a média foi de 5,8% ao ano. Hoje e no próximo ano ela deve se manter por volta de 4% ao ano, mas pensando em 20 anos, acho difícil que ela seja muito menor que 5% ao ano.

Logo, se considerarmos uma inflação de longo prazo de 5% ao ano, deveríamos esperar um retorno líquido de IR nos títulos públicos atuais de IPCA+4,4% ao ano.

Portanto, uma carteira de títulos de crédito privado isentos de IR com boa classificação de risco deve proporcionar uma renda mais significativa que a do título público.

Por serem isentos de IR, esses títulos oferecem uma forma mais eficiente de proteção contra a inflação. Diferente dos títulos públicos, nas debêntures isentas de IR o retorno real líquido não cai com o aumento da inflação.

Hoje, títulos de crédito corporativo de empresas de infraestrutura de boa qualidade remuneram entre IPCA+6,5% ao ano a IPCA+7% ao ano. Isso equivale a um título público rendendo entre IPCA+8% a IPCA+9% ao ano bruto de IR.

Embora tenha possibilidade de maior retorno, as debêntures isentas têm duas desvantagens. Primeiro, não há uma oferta grande de títulos privados de alta qualidade com prazo superior a 15 anos. Portanto, não seria possível travar um rendimento por 60 anos. Mas, este não deve ser um problema como argumento mais à frente.

Segundo, existe o risco de crédito e essa foi a primeira pergunta de Anderson. Ele estava preocupado com este risco e citou a Lojas Americanas. Normalmente, quando se fala em debêntures, CRI e CRAs de alta qualidade de crédito, logo vem à mente "e Lojas Americanas?".

De fato, esse foi um caso atípico. Com relação a isso, vou dar duas sugestões. Primeiro, concentre em empresas do setor de infraestrutura e não somente em títulos isentos. Também, evite ter mais que 2% do portfólio em um único emissor. Eventos de crédito em empresas de infra classificadas como AA e AAA não são comuns. Costumamos generalizar casos quando ocorre um evento extremo como o da Americanas.

Não acho que a Selic volte a 2% ao ano. Mas, mesmo quando a Selic estava a 6% ao ano, era possível aplicar em títulos de crédito isentos de IR a IPCA+4,5% ao ano que é similar ao que se consegue de retorno líquido hoje nos títulos públicos em um dos momentos de grande estresse do mercado em que a taxa está muito elevada.

Ou seja, é possível que frequentemente se consigam nas debêntures de infra taxas líquidas de IR próximas às que se consegue hoje nos títulos do tesouro quando eles estão estressados.

Por fim, há uma questão que acho de grande importância para a paz de espírito de investidores e que é uma vantagem dos títulos isentos. No crédito privado isento, o investidor pode optar por ter seus títulos marcados na curva de aquisição.

Já nos títulos da plataforma do Tesouro Direto, só é possível ter marcação a mercado. Essa marcação a mercado causa uma volatilidade tremenda no portfólio. Principalmente em títulos muito longos como os citados ontem. Muitos investidores não suportam tamanha oscilação que ocorre. Para se ter uma ideia, no prazo dos títulos mencionados ontem, a oscilação chega a ser maior que a de Bolsa.

Portanto, acho que a diversificação em títulos de crédito privado de infraestrutura e isentos de IR traz uma excepcional vantagem em relação aos títulos públicos por cobrir de forma mais eficiente o risco de inflação, produzir retornos maiores e a possibilidade de ter menor variabilidade no portfólio. Para isso, basta seguir as sugestões de segurança, ou seja, pulverizar ao máximo, restringindo a exposição por emissor e focar em empresas de alta qualidade e de setores que possuam maiores garantias.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

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