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De Grão em Grão - Michael Viriato
Michael Viriato
Descrição de chapéu Selic juros copom

Tesouro IPCA está negativo no ano e Stuhlberger da Verde vendeu; Você também deveria vender?

Gestores têm objetivos e horizontes de investimentos diferentes dos investidores

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Os movimentos na carteira de gestores são sempre divulgados na mídia e acompanhados por todos. Alguns destes gestores, pelo histórico de acertos, atraem não só pela curiosidade, mas também porque muitos querem repetir e tentar replicar seus resultados. Mas será que faz sentido copiar seus movimentos?

Luis Stuhlberger, gestor do fundo Verde. Foto: Anna Carolina Negri/Valor/Agência O Globo - Anna Carolina Negri/Valor/Agênc

Neste mês de maio, investidores se surpreenderam com o anúncio de que Stuhlberger, da Verde Asset, vendeu sua posição de títulos públicos referenciados ao IPCA. Muitos indagam sobre qual razão levaria um gestor a se desfazer de uma posição de renda fixa justamente quando as taxas de juros estão próximas do máximo observado na última década. Vamos entender a razão, mas antes, vou explicar quem é Stuhlberger.

A Verde é uma das gestoras mais antigas e conceituadas do país. O principal fundo multimercado que leva o nome da gestora de Luis Stuhlberger tem um histórico de rentabilidade que faz inveja até a Warren Buffett. Desde 1997, o Verde acumula uma rentabilidade de 24.575,8%. Isso equivale a um retorno de 790% do CDI. Quem aplicou R$ 100 mil em 1997 teria hoje um montante de R$ 24,7 milhões.

Entretanto, nos últimos cinco anos, o fundo Verde e a média dos fundos multimercados no Brasil não tiveram o mesmo brilho. O retorno do Verde nesse período foi de 47,55% e o do CDI, de 46,83%. A diferença foi muito pequena. A rentabilidade média dos fundos multimercados brasileiros foi ainda pior, acumulando 44,42% no mesmo período.

Com uma razoável volatilidade e quase nenhuma premiação em relação ao CDI, o grande histórico do Verde não tem sido suficiente para manter a fidelidade de investidores. Assim, a gestora tem perdido patrimônio por resgates nestes cinco anos. E todo gestor é sensível aos resgates.

Uma gestora é um negócio que depende de haver uma massa de recursos para administrar. Os resgates trazem uma incerteza sobre as receitas futuras do negócio de qualquer gestora. Os administradores precisam manter uma grande equipe de especialistas, e estes demandam salários generosos ou mudam de casa.

Além disso, os resgates trazem uma dificuldade adicional à vida de um gestor, pois ele tem de passar a manter caixa disponível no fundo e tem de administrar posições de longo prazo com cuidado para não ter de vender em momento desfavorável. Isso acaba dificultando a capacidade de um gestor de adicionar valor ao CDI.

Portanto, muitas vezes, um gestor tem de mudar sua posição apenas para acomodar a volatilidade e reduzir a propensão de investidores a resgatar.

Assim, é preciso compreender que os objetivos e o horizonte de investimento de um gestor são, na maioria das vezes, diferentes daqueles dos investidores. Portanto, apesar de suas atitudes deverem ser ouvidas, não necessariamente devem ser replicadas.

Neste ano de 2024, os títulos referenciados ao IPCA, conhecidos pelos investidores como Tesouro IPCA, apresentam, de forma geral, retorno negativo ou muito abaixo do CDI. Usualmente, o horizonte de investimento de uma pessoa física que investe em um desses títulos é o próprio vencimento do título. Com taxas superiores a IPCA+6% ao ano, é quase certo que esse título será um investimento muito superior ao CDI até o vencimento.

Portanto, investidores pessoas físicas não precisam se preocupar com o retorno negativo deste ano, pois podem esperar e ter a convicção de um bom resultado no longo prazo.

Entretanto, Stuhlberger e os gestores de fundos multimercado precisam entregar resultado já no próximo mês. Assim, eles não podem se dar ao luxo de esperar 5, 10 ou mais anos para que o resultado apareça. Ou seja, os gestores de fundos multimercado precisam se expor em ativos que possam produzir resultados mais rápidos ou podem sofrer com mais resgates.

Portanto, cuidado ao tomar decisões baseadas em movimentos de pessoas ou instituições que não possuem os mesmos objetivos e horizonte de investimento que o seu.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

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