Das 86 ações do Ibovespa apenas 8 ganham do CDI em 2024

Sabe aquele amigo que, nos encontros de fim de semana, sempre conta que está ganhando dinheiro com ações? Essa história está difícil de sustentar este ano de 2024. Das 86 ações que formam o índice mais acompanhado do mercado, apenas 8 ganham do CDI. Mas, se engana quem acha que são apenas os amadores que perdem.

Estamos próximo de encerrar a primeira metade do ano e tem muito profissional de mercado que gostaria que já fosse o fim do segundo semestre. Mas, não é porque o ano está bom e os bônus seriam gordos. Pelo contrário, o ano está muito mais difícil do que se esperava.

O ano de 2023 terminou com a grande promessa de que 2024 seria o ano da virada. Esperava-se que a taxa básica de juros americana caísse cerca de 1,5%, que a Selic encerrasse o primeiro semestre próxima de 9,5% ao ano, que o Real se valorizasse contra o dólar para R$ 4,7 e que o Ibovespa continuasse a forte alta observada nos últimos 2 meses de 2023. Esse cenário, no entanto, não se concretizou.

O reflexo no mercado acionário foi que menos de 10% das ações do índice subiram mais que a taxa de juros reconhecida como referência para os investidores, o CDI. Aplicações referenciadas ao CDI se valorizam este ano 4,76%, até esta sexta-feira (14/06).

As ações que subiram mais que o CDI no ano e suas respectivas valorizações foram:

O desempenho das ações não foi justificado apenas por aspectos macroeconômicos. Os lucros das empresas do primeiro trimestre de 2024 caíram pelo quinto trimestre consecutivo, segundo dados da Bloomberg.

O reflexo do mau humor não se restringe apenas ao mercado de ações, tampouco ao ano de 2024. As três principais classes de investimento de risco no Brasil também perdem do CDI nos últimos 5 anos. Estas três classes de investimentos que me refiro são: ações, fundos imobiliários e fundos multimercados.

A tabela acima apresenta o retorno médio ao ano do CDI, Ibovespa, IFIX (índice de fundos imobiliários da B3) e do IHFA (índice de fundos multimercados da Anbima) nos últimos 5 anos, assim como no último ano e nos últimos 2, 3 e 4 anos. Em todas estas janelas de retorno passado, os ativos de risco perderam do CDI. Lembro que o retorno acima já considera o reinvestimento dos dividendos.

Este resultado sinaliza uma percepção geral dos investidores: está cada vez mais difícil acreditar que há prêmio pelo risco em investimentos no Brasil. Ao mesmo tempo parece óbvio que as taxas de juros estão elevadas e que essa é a melhor oportunidade do momento. Ou seja, é onde está o prêmio com baixo risco.

Desta vez, que quem vai contar vantagem sobre retorno nos investimentos nos encontros deste fim de semana é quem tem renda fixa.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

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