Na próxima quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) deve manter a taxa básica da economia estável em 10,5% ao ano. Esta será a segunda reunião consecutiva do BC em 2024 sem alterar a taxa Selic. Apesar da estabilidade esperada, há uma distorção nos preços de mercado que pode ser aproveitada em seu benefício.
O gráfico abaixo mostra a trajetória da taxa Selic e do IPCA (inflação) desde 2000. É importante notar que os eixos de cada indicador são distintos no gráfico: o eixo da esquerda mede o IPCA e o da direita, a Selic.
Perceba que a linha branca (Selic) e a linha laranja (IPCA) andam em compasso semelhante. Quando o IPCA sobe, a Selic também sobe, e vice-versa. Portanto, só deveríamos esperar uma nova alta da taxa Selic se a inflação voltasse a subir.
No entanto, essa situação de IPCA mais alto não parece ser a mais provável neste momento. As últimas divulgações deste indicador e a projeção para o ano apontam para um IPCA ao redor de 4% em 2024. Este número é impressionante, pois no fim de 2023, o relatório Focus indicava que os economistas esperavam um IPCA de 3,9% para 2024, mas a tragédia ocorrida no Sul fez com que muitos revissem a estimativa para cima.
Para 2025, a expectativa no fim de 2023 era de que o IPCA seria de 3,5%, subindo levemente para 3,9% no último levantamento do relatório Focus, que aponta a média das expectativas dos economistas.
Uma inflação próxima de 4% ao ano está dentro da faixa objetivo do BC, que é de 3% ao ano, podendo variar mais ou menos 1,5%. Portanto, parece improvável que o BC precise subir a taxa Selic.
Entretanto, os contratos de taxas de juros negociados na B3, a Bolsa de Valores brasileira, indicam que as taxas de juros devem subir quase 2% nos próximos 12 meses. Ou seja, a Selic estaria em 12,5% em julho de 2025. No final do ano passado, esses mesmos contratos apontavam que a Selic estaria em 9% no mesmo momento.
O mercado costuma reagir de forma exagerada, tanto de maneira otimista quanto pessimista. Com um IPCA de 4% ao ano, é mais provável que movimentos futuros da taxa Selic sejam para baixo, e não para cima.
Esse movimento para baixo, entretanto, não deve ocorrer antes que o FED, o Banco Central americano, inicie o ciclo de redução da taxa básica americana, conhecida como Fed Funds. Espera-se que este movimento se inicie no quarto trimestre deste ano.
Neste momento, o estresse nas taxas de juros que mencionei acima fez com que os títulos prefixados e referenciados ao IPCA negociem com taxas mais elevadas do que quando a Selic estava no seu topo.
O gráfico acima mostra, na linha amarela, a taxa de juros referenciada ao IPCA de títulos públicos. Perceba que as taxas são tão elevadas quanto os máximos atingidos em 2015 e em 2023.
Portanto, o momento sugere que aumentar a exposição em títulos ou fundos de renda fixa referenciados ao IPCA e prefixados se mostra uma boa oportunidade para horizontes de médio e longo prazo.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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