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De Grão em Grão - Michael Viriato
Michael Viriato
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Desvendando o crédito privado: como investir com segurança e rentabilidade

Descubra como o crédito privado pode ser uma ferramenta poderosa para potencializar seus investimentos, combinando segurança e retorno em um mercado desafiador

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Em um mercado financeiro repleto de opções, alguns investimentos se destacam por sua capacidade de entregar retornos robustos, muitas vezes passando despercebidos por quem não conhece suas nuances. Dentre essas opções, o crédito privado vem ganhando cada vez mais atenção, especialmente entre investidores que buscam diversificação e rentabilidade sem abrir mão da segurança. Mas o que realmente diferencia essa classe de ativos? E o que faz com que ela se torne uma escolha cada vez mais estratégica em tempos de incerteza econômica?

Samer Serhan, sócio e responsável por Crédito Privado e Infra na JiveMauá.
Samer Serhan, sócio e responsável por Crédito Privado e Infra na JiveMauá. - Guilherme Oliveira

Para explorar essas questões, tivemos a oportunidade de conversar com Samer Serhan, sócio e um dos CIO’s da JiveMauá, onde lidera as áreas de Crédito Privado e Infraestrutura. Com uma carreira sólida, construída em instituições de renome como Credit Suisse e Santander, Samer é atualmente o gestor dos fundos de crédito privado high yield na JiveMauá, como o BossaNova e o Soul Previdência. Sua experiência e visão são fundamentais para entender como o crédito privado pode se tornar um pilar central na construção de uma carteira de investimentos.

Nesta entrevista, Samer compartilha não apenas as estratégias que adota para maximizar retornos, mas também revela os segredos por trás da gestão eficaz de fundos que combinam segurança com rentabilidade. Ele explica como a JiveMauá se diferencia no mercado, oferecendo produtos que atraem desde investidores mais cautelosos até aqueles que buscam por maiores ganhos, sempre com um foco claro na solidez e na qualidade dos ativos.

Se você já se perguntou como é possível alcançar retornos elevados sem abrir mão da segurança, ou como gestores experientes conseguem navegar pelos desafios do mercado de crédito privado, esta leitura promete esclarecer essas e outras questões. Prepare-se para descobrir o que torna o crédito privado uma opção tão atraente, e como bons gestores com a expertise de Samer Serhan e as equipes da JiveMauá podem fazer toda a diferença.

Frequentemente se ouve que investimentos em crédito privado rendem mais que os públicos. O que o investidor deveria esperar de retorno a mais?

Títulos públicos são ativos livres de risco de crédito devido à capacidade do Governo Federal, por meio do Banco Central, de emitir papel moeda e arcar com suas dívidas — os títulos públicos federais. Assim, o investidor em títulos públicos não tem risco de não receber o valor devido, mas tem outros riscos — como o de alteração da taxa de juros reais ou nominais, que podem fazer a rentabilidade desses investimentos diminuir. Esse é o principal risco dos títulos públicos.

Os títulos de crédito privado possuem, além do risco de taxa de juros assim como os títulos públicos, o risco de não pagamento do valor devido — popularmente conhecido como risco de calote. Como há o risco de calote nos títulos de crédito privado, o investidor exige um prêmio acima dos títulos públicos. No mercado de crédito privado, títulos de baixíssimo risco de crédito possuem uma taxa de retorno entre 50bps e 200bps, ou seja, 0,5% a 2% acima da SELIC ou acima dos títulos públicos. Para empresas com risco de calote entre baixo e médio, espera-se uma taxa de retorno entre 200bps e 300bps (2% e 3%). Retornos acima de 300bps (3%) são em empresas de médio risco de crédito, e acima de 1.000bps (10% a.a.) começamos a entrar no mundo das empresas em estresse financeiro.

Há um entendimento tradicional de que mais retorno significa mais risco. No entanto, os fundos e produtos de crédito privado oferecem menor volatilidade que outras alternativas de retorno comparável. O que dá a entender que teriam um menor risco, mas sabemos que nem sempre é verdade. Como avaliar o risco em um fundo ou produto de crédito privado?

Existem dois tipos principais de fundos de crédito privado no mercado. Um deles é o fundo de títulos de crédito originados por Bancos de Investimentos e Boutiques especializadas — comumente estes títulos são distribuídos para uma base grande de investidores, desde institucionais até pessoas físicas. As grandes empresas emissoras desse tipo de título são amplamente conhecidas pelo investidor geral (pessoa não especialista em economia e finanças). Estas empresas são favorecidas pelo seu grande alcance no mercado de capitais para captar a taxas e condições muito favoráveis. Para esse tipo de fundo, a meu ver, os melhores indicadores de risco são a diversificação de ativos e setores (quanto maior a diversificação de ativos e menor a concentração de setores, menor o risco), a correlação existente entre os ativos (quanto menor a correlação entre os ativos, menor o risco) e a liquidez dos ativos (quanto maior a liquidez, menor o risco).

O outro tipo de fundo de crédito privado é de títulos estruturados. Neste tipo de fundo, o risco deve ser medido principalmente pelo retorno adicional gerado em relação aos benchmarks (quanto maior o retorno adicional do portfólio sobre o benchmark, melhor para a proteção do investimento), a taxa de recuperação dos ativos em caso de calote (quanto maior a taxa de recuperação, menor o risco), e por último e mais importante, a capacidade de gestão dos ativos pelo time de investimentos. Nestes fundos de crédito estruturado, o fator "time, pessoas e experiência" (o famoso "track record") são os maiores mitigadores de risco.

Muitos investidores receiam o crédito privado por frequentemente ouvirem nas mídias sobre quebras de empresas. Esse medo é adequado quando o investidor aplica em um fundo de investimento bem administrado?

Quando o fundo e a gestora possuem times e processos com histórico longo de atividade em crédito, há uma maior probabilidade de gestão eficiente dos ativos de empresas que quebram, pedem recuperação judicial ou entram em algum outro tipo de renegociação de suas obrigações financeiras. O elemento humano e a experiência contam mais, nesses casos, do que uma análise de balanço por um engenheiro da NASA, pois o fator comportamental é o que faz a diferença. Saber negociar, manter a consistência no dia a dia até atingir um acordo, saber ceder e não ceder só é possível com experiência na prática. Claro que, junto ao fator comportamental, há o fato de que fundos especializados em crédito privado estruturado investem em ativos que possuem, intrinsecamente, uma taxa de recuperabilidade maior do que títulos tradicionais de mercados de capitais. O gestor é remunerado para estruturar operações mais fortes e para recuperá-los em cenários de quebras.

Qual é o trabalho da equipe de gestão em mitigar os riscos? Como é realizado o controle e acompanhamento para que problemas sejam evitados?

O trabalho de mitigação de riscos começa na diligência financeira e jurídica da empresa, seus executivos e acionistas. E sim, o processo de diligência precisa ser tanto nas pessoas jurídicas quanto físicas para a correta identificação de riscos de um crédito. Empresas são formadas por ativos, passivos e, principalmente, pessoas. Após o mapeamento completo dos riscos financeiros e jurídicos, são implementados mitigadores como garantias, obrigação das empresas em sanar os riscos, reportes periódicos e, por fim, amarras contratuais com penalidades severas para a Cia, executivos e acionistas caso os riscos se materializem. O processo de controle precisa ser feito por acompanhamento periódico dos riscos operacionais, financeiros e jurídicos. Maiores riscos devem ser acompanhados mensalmente e médios e pequenos, trimestralmente e semestralmente.

Quando se fala em renda fixa, há três indicadores de referência: índice de preços (IPCA), prefixado e pós-fixado. Qual o melhor indexador para se posicionar neste momento e por quê?

Índice de Preços e pós-fixado neste momento. Proteção contra inflação em um país com déficit fiscal relevante é fundamental, pois é difícil controlar a inflação de preços pelos altos gastos e investimentos do setor público, que não necessariamente se convertem em maior renda para a população. Investimento em pós-fixado protege o investidor contra expectativas de aumento da taxa básica de juros nominais (SELIC), que está elevada no momento. Ativos prefixados, a meu ver, devem ser geridos por gestores profissionais.

Existe um melhor momento para se investir em crédito privado? Como o cenário atual se qualifica como bom momento para investimento?

O investidor em geral pode investir paulatinamente em crédito privado de empresas conhecidas e em títulos com liquidez no mercado secundário. Quero dizer, tentar acertar o momento e fazer um grande investimento é comprovadamente mais arriscado do que comprar pouco a pouco esses papéis. No caso de gestores de fundos de crédito privado, dada a demanda das empresas por investimentos e capital de giro muito maior que a oferta, sempre é um bom momento para se investir em crédito privado. A dosimetria do gestor é agregar mais ou menos risco de crédito. Em momentos em que há maior liquidez no mercado de capitais e concessões de crédito, é uma boa conjuntura para o gestor aumentar a componente de risco. Em momentos de menor liquidez, é melhor o gestor buscar por preservação de capital e maior qualidade do risco de crédito.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

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