Descrição de chapéu Olimpíadas 2024

Folha elege os destaques (sem Rebeca) e as decepções do Brasil em Paris-2024

Ginasta, com quatro medalhas em Paris, é hors-concurs; participaram da votação jornalistas na França e no Brasil

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São Paulo

Qual foi o principal destaque do Brasil nas Olimpíadas de Paris? E a maior decepção?

Jornalistas da Folha em Paris, São Paulo e Maceió, diretamente envolvidos na cobertura do maior evento multiesportivo do mundo nas últimas três semanas, responderam a essas perguntas.

Rebeca Andrade, considerada hors-concours, acabou vetada como opção de destaque, pois ganharia fácil, de zero.

A ginasta, com quatro medalhas em Paris-2024, totalizou seis nos Jogos Olímpicos (dois ouros, três pratas e um bronze) e se tornou o maior nome, independentemente de gênero, da história olímpica brasileira.

Conforme destaca José Henrique Mariante, um dos enviados da Folha à capital francesa, "Rebeca sai de Paris não só como a maior atleta da história do país, mas como uma das maiores do mundo".

Fábio Haddad, editor de Esporte da Folha, reforça que Rebeca "não ganhou medalhas ocasionais, ela se colocou ao lado de [Simone] Biles no topo do esporte, uma posição que raramente brasileiros ocupam".

Sem a concorrência de Rebeca, ficou com a judoca Beatriz Souza, a Bia, o posto de esportista mais destacado do Brasil na 30ª edição dos Jogos Olímpicos.

A paulista de Itariri, criada em Peruíbe (SP), recebeu dez votos dos 18 eleitores –houve quem escolheu mais de um destaque. Bia Souza, qualificada como imponente, carismática, espontânea e talentosa pelos votantes, ganhou o primeiro ouro (de um total de três) do Brasil em Paris.

Também foram mencionados Ana Patrícia/Duda (ouro no vôlei de praia, 2 votos), seleção feminina de futebol, prata, 2 votos), Isaquias Queiroz (prata na canoagem, 1 voto), Caio Bonfim (prata na marcha de 20 km, 1 voto), surfe (uma prata e um bronze, 1 voto), Augusto Akio (bronze no skate park, 1 voto) e "as mulheres" (três ouros, quatro pratas, cinco bronzes, 1 voto).

Darlan, oposto da seleção de vôlei, com as mãos na cabeça depois da derrota para os EUA nas quartas de final das Olimpíadas de Paris
Darlan, oposto da seleção de vôlei, depois da derrota para os EUA nas quartas de final das Olimpíadas de Paris - Annegret Hilse = 5.ago.2024/Reuters

A decepção-mor, de acordo com a enquete, é a seleção masculina de vôlei, que, com uma vitória em quatro partidas, caiu nas quartas de final diante dos EUA, na pior campanha desde Sydney-2000.

O time de Bernardinho teve seis votos e foi qualificado por jornalistas da Folha como "frágil", de "segunda linha" e executor de jogadas "café com leite".

Outros que se malograram em Paris são o arqueiro Marcus D’Almeida (sem medalha, 2 votos), natação (sem medalha, 2 votos), vela (sem medalha, 2 votos), Bia Haddad (sem medalha, 1 voto), Bia Ferreira (bronze, 1 voto), boxe (um bronze, 1 voto) e seleção feminina de vôlei (bronze, 1 voto).

QUEM FOI O DESTAQUE DO BRASIL EM PARIS-2024? (EXCETO REBECA ANDRADE)

Bia Souza (judô) - 10 votos

Ana Patrícia/Duda (vôlei de praia) - 2 votos

Seleção feminina de futebol - 2 votos

Mulheres do Time Brasil - 2 votos

Isaquias Queiroz (canoagem velocidade) - 1 voto

Caio Bomfim (marcha atlética de 20 km) - 1 voto

Augusto "Japinha" Akio (skate park) - 1 voto

Lorena (futebol) - 1 voto

Surfe - 1 voto

QUEM FOI A DECEPÇÃO DO BRASIL EM PARIS-2024?

Seleção masculina de vôlei - 6 votos

Marcus D’Almeida (tiro com arco) - 2 votos

Bia Ferreira (boxe) - 2 votos

Natação - 2 votos

Vela - 2 votos

Bia Haddad (tênis) - 1 voto

Boxe - 1 voto

Seleção feminina de vôlei - 1 voto

Ninguém - 1 voto

Saiba a seguir quem votou em quem e por quê.

Fábio Haddad (Editor)

Destaque: Bia Souza. É quase uma tradição no judô brasileiro que um atleta surpreenda e conquiste medalha nas Olimpíadas. Mas Bia fez mais do que isso: ela foi imponente, venceu com autoridade suas lutas, conquistou o ouro e foi importantíssima no bronze por equipes.

Decepção: Marcus D'Almeida. Esperava-se ao menos uma medalha do número 1 do mundo. Mas uma participação ruim na fase de ranqueamento o colocou no caminho da "Biles do tiro com arco" ainda nas fases iniciais. Ele avançar mais seria importante para a visibilidade do esporte.

*

Mônica Bergamo (Colunista, enviada a Paris)

Destaque: Bia Souza, do judô, Pela simplicidade e espontaneidade.

Decepção: Não tive. A disputa olímpica é linda, mas pode ser injusta, e todos se atiram de corpo e alma –ninguém mereceria perder.

*

José Henrique Mariante (Jornalista, ex-ombudsman da Folha, enviado a Paris)

Destaque: Paris viu um Brasil diverso, feminino, autoconfiante, e é preciso destacar a superioridade em suas disputas de brasileiras campeãs em Paris: Beatriz Souza no judô e Duda/Ana Patrícia no vôlei de praia.

Decepção: Seleção masculina de vôlei. Caiu nas quartas de final do torneio olímpico pela primeira vez desde Sydney-2000. O time de Bernardinho nunca chegou a ser favorito, mas o resultado mostrou que o país, referência no esporte há quase três décadas, perdeu o passo e ganhou a concorrência de diversos outros países.

Bernardinho, treinador da seleção masculina de vôlei, que perdeu para os EUA nas quartas de final das Olimpíadas de Paris, põe a mão esquerda na testa
Bernardinho, treinador da seleção masculina de vôlei, que perdeu para os EUA nas quartas de final das Olimpíadas de Paris - Annegret Hilse - 31.jul.2024/Reuters

*

Marcos Guedes (Editor-adjunto, enviado a Paris)

Destaque: O primeiro destaque do Brasil foi Rebeca Andrade, o segundo foi Rebeca Andrade, e o terceiro, você já sabe a esta altura, foi Rebeca Andrade. O fantástico quarto lugar é de Beatriz Souza, atleta cujo grande talento no judô fica proporcionalmente abaixo de seu incrível carisma.

Decepção: O conceito de decepção é obviamente ligado ao conceito de expectativa. Ninguém se decepciona com algo de que não esperava nada. Nesse sentido, o bronze de Beatriz Ferreira, favoritíssima ao ouro no boxe, é certamente um feito relevante, mas não o que ela buscava.

*

Mathilde Missioneiro (Repórter-fotográfica, enviada a Paris)

Destaque: O protagonismo das mulheres, e principalmente das mulheres negras. Beatriz Souza, Rebeca Andrade e a dupla Ana Patrícia e Duda levaram as três únicas medalhas de ouro do Brasil com muita determinação e emoção. Ganharam muito destaque e admiração em Paris e nas redes sociais, e acabaram levantando em plenos Jogos Olímpicos, talvez sem querer, pautas de gênero, raça e classe. E a imagem das americanas Simone Biles e Jordan Chiles reverenciando a Rebeca Andrade no pódio do solo da ginástica fica para a história.

Decepção: A maior decepção do Brasil foi a Marta não se despedir da seleção de futebol com uma medalha de ouro (ficou com a prata, o que já vale demais!), como merecia pela carreira. Teria sido um "au revoir" (adeus) em grande estilo, e um incentivo gigante para as próximas gerações futebolísticas. As jogadoras lutaram muito, contrariaram as previsões e mereciam o ouro.

*

André Fontenelle (Jornalista em Paris)

Destaque: Bia Souza, uma novidade. Não só pela vitória, mas pela personalidade que demonstrou diante da celebridade súbita. Que ela saiba lidar com isso e continue nos dando alegrias. Mas o grande destaque é coletivo –as mulheres negras, grandes campeãs do país nestes Jogos.

Decepção: Vela e natação, dois esportes de enorme tradição olímpica brasileira, passaram em branco em Paris pela primeira vez depois de muitas edições dos Jogos. É preciso refletir sobre as razões desse fracasso e tirar lições para Los Angeles (sede dos Jogos de 2028), Brisbane (sede dos Jogos de 2032) e além.

*

Sandro Macedo (Colunista da Folha, em Paris nas Olimpíadas)

Destaque: Elas. Os três ouros, quatro das sete pratas e metade dos bronzes foram delas. As mulheres ditaram o ritmo do Brasil em Paris. Se os homens chegassem perto, bateríamos o recorde histórico. E ainda tem aquele bronze dividido, da equipe mista de judô, cujo principal destaque do time foi Rafaela Silva. As mulheres (principalmente as negras) são a cara do Brasil nestas Olimpíadas.

Decepção: Parece injusto colocar toda a decepção na expectativa que se fazia sobre um resultado específico. No não ouro de Gabriel Medina, por exemplo, a decepção vai para a conta do Taiti, não do surfista. Esperava mais resultados do boxe, que chegou pimpão a Paris, com pinta de ser o carro-chefe no quadro de medalhas, e saiu só com um bronze (Bia Ferreira). Mas o 'troféu decepção' vai para a natação brasileira de modo geral, um dos esportes que distribuem mais medalhas e que traz resultados muito abaixo quando não tem um superatleta, como Cesar Cielo ou Gustavo Borges.

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Luciano Trindade (Editor/repórter)

Destaque: Bia Souza. Depois de fazer um ciclo olímpico bastante consistente e superar lesões, conquistou duas medalhas em Paris, incluindo o primeiro ouro do Brasil, o que ajudou a manter o judô como o esporte que mais rendeu medalhas olímpicas ao país na história.

Decepção: Seleção masculina de vôlei. Ainda que não tenha chegado a Paris com favoritismo, mostrou que não evoluiu desde a decepção em Tóquio-2020, sem encontrar alternativas para resgatar as principais características do vôlei brasileiro, mostrando-se novamente frágil ante a evolução de seus rivais.

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Bruno Lee (Editor)

Destaque: Isaquias Queiroz. Perto da metade da disputa pelo ouro na canoagem de velocidade, o comentarista da TV dizia que o baiano precisaria de um milagre para chegar ao pódio. Bom, ele entregou algo perto disso, em uma arrancada de manual. Com a prata, reafirma seu lugar entre os grandes.

Decepção: Marcus D'Almeida. Incensado por liderar o ranking mundial do tiro com arco, teve desempenho distante do posto que ocupa no cenário mundial da modalidade. A performance irregular nas primeiras fases do torneio resultou em cruzamento difícil nas oitavas. Caiu, longe do "quase".

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Beatriz Izumino (Editora-adjunta)

Destaque: Lorena (futebol). De carreira marcada por problemas físicos, a goleira encarou a dor e fez grandes defesas, mantendo uma seleção corajosa, mas desorganizada, no torneio por tempo o bastante para garantir uma medalha.

Decepção: Seleção de masculina de vôlei. Tudo bem que a equipe já vem de um ciclo descendente, mas sonhar com mais faz parte das Olimpíadas e o time masculino ficou para trás. Ainda bem que temos a seleção feminina.

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Beatriz Gatti (Repórter)

Destaque: Seleção feminina de futebol. Desbancou as donas da casa e as campeãs mundiais com Marta suspensa. Apesar da derrota amarga para os Estados Unidos, voltou ao pódio depois de quatro Olimpíadas, no primeiro grande resultado do time de Arthur Elias.

Decepção: Vôlei feminino. Difícil não comemorar uma medalha de bronze, mas por saber que a meta das meninas do vôlei era o ouro, ainda mais pela chance de Thaísa se tornar tricampeã olímpica, a derrota para os Estados Unidos foi decepcionante por interromper esse objetivo.

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Fabio Victor (Repórter especial)

Destaque: Empate triplo entre Bia Souza (por unir talento, frieza e regularidade), Ana Patrícia/Duda (por confirmarem com brilho o favoritismo, únicas que fizeram isso ao lado de Rebeca Andrade) e Caio Bonfim (pela perseverança em se manter crescendo num esporte subestimado no Brasil).

Decepção: Vôlei masculino. Apesar de ter estrutura/dinheiro e história/camisa/tradição, perdeu três de quatro jogos e caiu nas quartas de final como uma seleção de segunda linha. Indica a exigência de renovação estrutural.

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Luís Curro (Responsável pelo blog O Mundo É uma Bola)

Destaque: Augusto Akio, o Japinha. Bronze no skate park (conquistado de forma brilhante, na última volta na pista, com manobras incrivelmente radicais), deu show de ludicidade na entrevista pós-medalhas, indo do primeiro skate que ganhou ("era um skate de mercado, e eu adoreeei aquele presente, nossa, como eu adoreeei aquilo") ao uso de cola bastão para tentar grudar o tênis no skate, a fim de realizar movimentos arrrojados sem cair. Nada mais divertido, ri adoidado. De quebra, ele ainda entretém o público na competição com malabares (manda extremamente bem!). Impagável.

Usando chapéu de palha, Augusto Akio, o Japinha, medalhista de bronze no skate park em Paris-2024, exibe-se com malabares nas proximidades da Torre Eiffel
Augusto Akio, o Japinha, medalhista de bronze no skate park em Paris-2024, exibe-se com malabares nas proximidades da Torre Eiffel - Franck Fife - 8.ago.2024/AFP

Decepção: Várias, eu esperava muito mais ouros que a trinca em Paris. Elejo o boxe (um bronze solitário, com Bia Ferreira), único esporte em que o treinador sincerão escancarou aos jornalistas o que ele viu mais até do que todos que estavam vendo. "Eu não posso subir [no ringue] e atirar golpe pela equipe", disse Mateus Alves, que esperava no mínimo duas medalhas. "Não cumprimos a meta, foi um fracasso, uma bosta." Impagável.

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Vitória Macedo (Repórter)

Destaque: Bia Souza. Conquistou o primeiro ouro do país nas Olimpíadas, e a mensagem final passada pela atleta valeu muito: mulheres, negros, podem estar onde quiserem. Na disputa por equipes, o Brasil também conquistou medalha inédita de bronze, com a volta por cima de Rafaela Silva.

Decepção: Bia Haddad. Grande esperança de medalha, a tenista perdeu em simples na segunda fase e em duplas nas oitavas de final. Encerrou a campanha em Paris-2024, sua primeira em Olimpíadas, cedo demais para a atleta que é.

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Claudinei Queiroz (Repórter)

Destaque: Seleção feminina de futebol. Com técnico novo e desacreditada, a equipe conseguiu superar um início difícil e surpreender a favorita França e golear a atual campeã mundial, Espanha, na semifinal. Na decisão do ouro, acabou perdendo novamente para os Estados Unidos, como em Atenas-2004 e Pequim-2008, mas mostrou que está em evolução e chegará a Los Angeles-2028 com outro status.

Decepção: Seleção masculina de vôlei. O torneio masculino conta atualmente com muitas seleções num patamar muito alto de qualidade, mais que no passado. Por isso, o Brasil precisaria encontrar soluções para tentar superar a supremacia física dos rivais, mas não encontrou. Após a eliminação nas quartas de final, o pior resultado da carreira do técnico Bernardinho, o que ficou evidente é que o time joga bem, mas o café com leite, sem jogadas que surpreendam os adversários, como era comum nas gerações de Atenas-2004 ao Rio-2016, quando conquistou dois ouros e duas pratas. A renovação é necessária, e urgente.

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Lucas Bombana (Repórter)

Destaque: Bia Souza, pelo protagonismo que assumiu no judô brasileiro em sua estreia olímpica e mesmo sem aparecer entre as favoritas antes dos Jogos.

Decepção: Bia Ferreira. Chegou com grandes esperanças de ficar com o ouro pelas conquistas do título mundial amador e profissional, mas acabou eliminada nas semifinais pela algoz na final de Tóquio-2020, a irlandesa Kellie Harrington.

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O surfista Gabriel Medina parece estar suspenso no ar sobre o mar, ao lado de sua prancha, que também parece suspensa, em bateria das Olimpíadas de Paris, no Taiti
O surfista Gabriel Medina parece estar suspenso no ar sobre o mar, ao lado de sua prancha, que também parece suspensa, em bateria das Olimpíadas de Paris, no Taiti - Jerome Brouillet/AFP

Eduardo Marini (Repórter)

Destaque: Surfe. Manteve-se no pódio olímpico, e por pouco não foram dois ouros: Tatiana Weston-Webb superou adversárias que estavam acima dela no ranking, e Gabriel Medina foi responsável pelo grande momento do surfe olímpico até aqui (incluindo Tóquio-2020), a imagem em que aparece "suspenso sobre o mar".

Decepção: Vela. Pela primeira vez desde Barcelona-1992, o Brasil sai das Olimpíadas sem medalha no esporte.

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Josué Seixas (Repórter)

Destaque: Bia Souza. Foi um dos nomes surpreendentes dessa edição dos Jogos e conquistou o primeiro ouro do Brasil em Paris, algo que parecia quase inatingível depois de alguns dias de resultados ruins.

Decepção: Seleção masculina de vôlei. Apesar de sem grandes expectativas para a conquista do ouro, caiu muito cedo na disputa e não teve boas apresentações. De Tóquio para cá, só uma certeza: precisa de renovação.

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