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É Logo Ali - Luiza Pastor
Luiza Pastor
Descrição de chapéu escalada

Paulista de 31 anos abre via para a boca de caverna mais alta do mundo

Felipe Camargo escalou pórtico da Casa de Pedra, no Petar, com 215 metros de altura

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Quando Felipe Camargo terminou o ensino médio, decidiu que não ia fazer faculdade alguma. Escalador desde os 10 anos de idade, resolveu fazer dos perrengues das paredes rochosas seu meio de vida. No último dia 23 de julho, aos 31 anos, esse paulista de Ribeirão Preto conquistou sua primeira grande façanha em solo nacional: ser o primeiro atleta a escalar e abrir uma via de acesso na maior boca de caverna do mundo, segundo o Guinness —o pórtico da gruta Casa de Pedra, no Petar (Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira) em Iporanga (SP), patrimônio natural da humanidade reconhecido pela UNESCO.

Felipe Camargo escala até o topo da gruta Casa de Pedra, no Petar (Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira), em São Paulo - Marcelo Maragni - 23.jul.22/Red Bull Content Pool

Foram, ao todo, três anos de planejamento, mais de 20 horas de escalada, 400 metros de cordas utilizadas e 500 movimentos de mãos até a conclusão das oito cordadas (cada cordada representa a distância entre dois pontos-chave de rota na escalada) que levam até o cume. Além disso, muito estudo, análise cuidadosa das rochas e preparação física e mental para abrir 280 metros de via e chegar aos cerca de 215 metros que separam a base da trilha do topo do pórtico da gruta. Na empreitada, para a qual conseguiu patrocínio da Red Bull, e que virou um documentário, "Gigante de Pedra - Por Felipe Camargo", que estreia nesta quarta-feira (19) na Red Bull TV, contou com o apoio dos também escaladores Ruddy Proença, Alexandre Fei, Ralf Cortês, Alex Mendes e Pedro Leite.

Felipe Camargo, na entrada da gruta Casa de Pedra - Marcelo Maragni - 23.jul.22/Red Bull Content Pool

De quebra, além da via de maior dificuldade técnica, Camargo deixou aberta uma via alternativa, mais fácil, que chamou de "Maluco Beleza", nome da canção de Raul Seixas pelo qual seu pai, grande incentivador de sua paixão pelo esporte, era apaixonado.

Enquanto se recupera de uma lesão em um cotovelo e aguarda pela estreia do documentário, Camargo falou de sua experiência ao blog.

1. Como é ser o primeiro a conseguir uma façanha como essa com tão pouca idade? É muito legal, era um sonho meu e foi uma sensação bem diferente, porque eu não sabia se seria possível, o que iria ter de encarar, de enfrentar. Sempre gostei de escalar em cavernas, paredes muito inclinadas, e em 2016 fui à China escalar uma das maiores cavernas do mundo, fizemos um documentário com patrocínio da North Face, e ao voltar ao Brasil muitos me falavam da Casa de Pedra, no Petar. Fui conferir e começamos a negociar com a Fundação Florestal, porque até então era proibido escalar as cavernas no parque.

2. O que foi mais difícil? Na verdade, tudo, desde abrir a via até a escalada em si, que é bem difícil. Levamos 20 horas da base ao topo, dormimos pendurados da pedra. Só para limpar a via e preparar o acesso, andávamos 10 quilômetros por dia todo dia, 5 quilômetros para ir e outros tantos para voltar. Levamos um mês limpando a via, o que deu mais ou menos 130 quilômetros percorridos só nesse processo.

3. Qual foi o maior perrengue do processo? Com certeza foi a sujeira da parede, que estava muito pior do que esperávamos, a parede é tão inclinada que a chuva não a molha, então havia poeira milenar que precisava ser vassourada ao longo dos 280 metros de subida para permitir a passagem.

4. E quais são seus planos para o futuro? Primeiro, preciso recuperar-me da lesão no cotovelo e daí planejar os próximos passos para 2023, buscando elevar o nível do que já fiz.

5. Tem gelo nesse horizonte? Não, meu negócio é escalar rocha, mesmo.

Um novo atrativo para o Petar

A nova via de escalada, segundo a gestora do Petar, Juliana Conrado, só deve ser liberada ao público no ano que vem, por ser algo totalmente novo na gestão da unidade. Hoje, o público só pode chegar até a entrada da gruta, mas não ao topo da pedra.

Mulher branca, agachada à entrada de gruta no Petar
Juliana Conrado, gestora do Petar, à entrada de uma das cavernas do parque estadual - Divulgação

"A possibilidade de receber escaladas aumenta os atrativos do parque, que nos últimos anos, antes da pandemia, recebia uma média de 40 mil visitantes por ano", explica Juliana. "Isso porque sempre trabalhamos com manejo de cavernas, mas não temos muita informação de como fazer esse manejo para escaladas, e criamos um grupo de trabalho junto com especialistas da Fundação Florestal para estudar em detalhes essa novidade", continua ela.

Atualmente, o Petar, que teve o processo de concessão suspenso em março deste ano, tem abertas à visitação pública apenas 12 das mais de 350 cavernas espalhadas pelos seus 35 mil hectares de Mata Atlântica. O parque, localizado entre as cidades paulistas de Apiaí e Iporanga, foi criado em 1958 pelo governo do estado. Seu acesso é controlado e é obrigatório contratar monitores credenciados para as visitas. Como a trilha mais longa do parque tem apenas 3,5 quilômetros, ainda não é permitido o pernoite na área. "Mas estamos em vias de abrir a trilha Transpetar, ligando dois núcleos em 24 quilômetros, e aí vai ser autorizado o pernoite, por isso estamos estudando as normas e as regras para sua utilização", conta a gestora.

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