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É Logo Ali - Luiza Pastor
Luiza Pastor

Encontro de montanhismo ultraleve terá degustação de comidinhas que não pesam (na mochila)

Evento no Parque Nacional do Itatiaia reunirá montanhistas com dicas para não carregar peso desnecessário

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O projeto foi amadurecido ao longo de vários anos, mas finalmente vai sair do papel —isto é, se a nova gestão do Parque Nacional do Itatiaia, a ser anunciada em algum momento dos próximos dias (?), com a exoneração de Luiz Aragão da chefia do parque, não mudar de ideia. Então, se as Fúrias burocráticas não atrapalharem, será realizado entre os dias 21 e 23 de abril, no Auditório EcoArtes, sede histórica do PNI, na parte baixa da unidade, o Encontro Brasileiro de Montanhismo Ultraleve, com inscrições abertas e gratuitas.

Como o nome indica, o evento quer reunir montanhistas que têm o dom de buscar sempre reduzir de forma inteligente o peso da bagagem que precisam levar às costas em cada trilha. Gente como o idealizador do encontro, o médico Rodrigo Rodriguez, que há anos faz desse tema um tópico dos mais relevantes nos fóruns de discussão do meio perrenguista.

O médico e montanhista Rodrigo Rodriguez, em Torres del Paine, no Chile - Arquivo pessoal

"Será um evento pequeno, a comunidade que discute montanhismo ultraleve no Brasil é pequena, não mais de 300 pessoas, então esperamos de 25 a 30 participantes que poderão utilizar a área de camping, liberada pelo gestor, bem como o salão de conferências, que à noite poderá ser utilizado para abrigar os inscritos, além de algumas poucas vagas em alojamento", conta Rodriguez.

Sobre a importância do tema, ele explica que, quando se fala em viajar leve, o principal erro na hora de arrumar a bagagem pode ser resolvido sem custos, deixando os equipamentos extras cujo uso não é estritamente necessário. Como, por exemplo, uma penca de saquinhos plásticos para organizar as tralhas. "Não é mais lógico mudar a técnica de encher a mochila deixando-a organizada, do que carregar 1,5 quilo de bolsas e sacos?", alfineta ele esta blogueira sabidamente adepta de acondicionar cada coisa em um saquinho...

"O segundo postulado do montanhismo leve é trocar equipamentos por técnica, trocar coisas por conhecimento e não carregar seus medos, evitar encher a mochila com objetos que aparentemente vão garantir conforto, mas que em compensação vão adicionar peso extra a sua jornada", acrescenta.

Duas pessoas carregam mochilas, uma mais leve e outra entupida
A diferença entre uma mochila organizada e mais leve e outra carregada até o máximo de sua capacidade pode ser chegar ao destino ou parar no meio do caminho com dores provocadas pelo excesso de peso - Arquivo pessoal

Claro que, para um perfil de montanhista que se considera raiz, esse negócio de aliviar o peso às costas pode parecer frescura, já que muitos se orgulham de suas mochilas cargueiras abarrotadas e explodindo nos 50 ou 60 quilos ao lombo. Mas, para o comum dos mortais, cujas lombares lhe lembram constantemente que faltou demais às aulas de musculação ou que sua certidão de nascimento anda meio amarelada, cada grama a menos nas pirambeiras da vida é uma bênção dos deuses da montanha. Ou dos especialistas no tema.

O encontro terá palestras com temas técnicos, mas de nomes divertidos como "Flutue como borboleta, ferroe como abelha!", "O céu que nos proteja" e "Pequenas Mochilas, Grandes Aventuras", mas incluirá um tópico que cada vez desperta mais interesse entre montanhistas de todos os perfis: a culinária específica para se degustar depois de um longo e pesado dia de jornada pelas trilhas da vida sem entupir a mochila de latas.

E é assim que, por primeira vez na história deste blog, vamos dar uma palhinha do que poderá ser saboreado no encontro, na receita favorita do próprio Rodriguez, que passa horas de suas folgas na cozinha bolando as melhores —e mais leves, claro, ao menos no quesito peso líquido, já que ninguém conta calorias depois de um dia pesado batendo pernas pelo mato— possibilidades nutricionais que agradem também ao paladar. Pensam que só o colega blogueiro Marcão, lá da Cozinha Bruta, desperta água na boca? Sigamos.

"O que sempre recomendo a quem está começando, porque é simples e saboroso, é minha receita de couscous marroquino com amêndoas e bacon", conta Rodriguez, para quem a vida sem bacon simplesmente não existe. A receita é inspirada no método chamado de "Freezer Bag Cooking", ou cozinhando no saco, em tradução literal, algo bem diferente do indefectível macarrão na panela sobre o fogareiro. Por ser hidratado apenas com água fervente dentro de um saco plástico (que, por favor, deve ser levado embora ao final da refeição, combinados?), elimina o peso da panela. Uma simples caneca que possa ir ao fogo basta para preparar seu jantar.

Vamos, pois ao acepipe montanhista:

Ingredientes para uma porção

150 gramas de couscous marroquino
Linguiça bem frita em rodelas finas a gosto
Bacon frito a gosto (atenção, tanto o bacon como a linguiça devem ser fritas em casa antes do início da jornada, para ficarem ainda mais leves e darem menos trabalho na hora de preparar)
Amêndoas torradas e defumadas
Duas pitadas de caldo de carne
Temperos de ervas secas a gosto
Passas (se você é da turma que odeia passas, paciência, pode deixar para lá, mas posso garantir que fica bem gostoso com as pobres injustiçadas)
Saco ziploc daqueles que podem ir ao microondas, onde será colocada a mistura de todos os ingredientes acima
Um cozy pot —que nada mais é que um recipiente de espuma de polietileno expandido aluminizado, que pode ser feito em casa e pesa menos de 300 gramas, mantendo o calor da água fervente por mais tempo e segurando o saquinho com a comida enquanto o vento ao redor do acampamento gela os ossos.

Preparo

Ferva 300ml de água, adicione ao conteúdo do saco e despeje no cozy pot por 4 minutos até a mistura hidratar.

Pronto, pode degustar! Se tiver uma garrafa de vinho à mão, fica melhor ainda, mas se falamos de não carregar mais peso que o estritamente necessário, é o caso de avaliar a sua relação custo/benefício pessoal. Esta que vos escreve fez questão de levar na mochila um honesto chileno tinto, que devidamente gelado nas águas da cachoeira mais próxima, ao lado de nosso abrigo, fez bonito na combinação. E, apesar do peso extra, Rodriguez e seus amigos, dessa vez, não torceram o nariz.

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