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Luiza Pastor

Carrapato, o vilão da temporada de inverno

Campanha e infectologista alertam para cuidados para evitar febre maculosa

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As recentes mortes por febre maculosa, confirmadas nos últimos dias, levantaram um alerta entre todos aqueles que amam os esportes de natureza, em especial os que buscam montanhas, trilhas e cachoeiras por esse Brasilzão afora. Não porque a doença e seu transmissor, o carrapato, sejam algo inédito, mas porque o fato de três pessoas terem se infectado em um único lugar em um evento realizado na área rural de Campinas, a pouco mais de uma hora de São Paulo, nos obriga a recordar que este é, sim, um perrengue dos mais sérios que temos que enfrentar, e ao qual em geral se dá pouca importância. Ledo engano.

Carrapato-estrela, principal causador da febre maculosa, e mais frequente nos períodos secos, especialmente entre maio e novembro - Keiny Andrade -25.nov.10/Folhapress

Para alertar os incautos a respeito dos riscos da febre maculosa, o CAB (Clube Alpino Brasileiro) está fazendo uma campanha de esclarecimento por suas redes sociais, a fim de alertar os montanhistas dos cuidados que devem ser tomados, como explica Ariane Stackfleth, responsável pelo conteúdo das redes sociais e eventos do clube. As precauções detalhadas serão apresentadas já nos cursos básicos de montanhismo, que são gratuitos, sobre Comportamento na Montanha.

Ariane Stackfleth, coordenadora de comunicação e eventos do Clube Alpino Brasileiro
Ariane Stackfleth, coordenadora de comunicação e eventos do Clube Alpino Brasileiro - Arquivo pessoal

E foi para saber mais sobre o que é e como evitar a febre maculosa que o blog foi conversar com Tânia Chaves, médica infectologista e Consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia, que ressaltou que, apesar da coincidência dos três casos terem ocorrido em um mesmo lugar e período, não se pode falar em surto ou expansão atípica da infecção.

"De acordo com os dados epidemiológicos do país no período entre 2007 e 2023, não observamos aumento alarmante das infecções, que somaram 574 óbitos nesses 16 anos", conta ela, lembrando que, "por se tratar de doença grave e de notificação compulsória, exige que estejamos todos em alerta, principalmente os viajantes que praticam trilhas ecológicas neste período do ano".

A infectologista Tania Chaves, conselheira da Sociedade Brasileira de Infectologia
A infectologista Tania Chaves, conselheira da Sociedade Brasileira de Infectologia - Arquivo pessoal

Ela lembra que a doença tem maior incidência nas regiões Sudeste e Sul e que desde a década de 1980 os primeiros casos foram descritos no estado de São Paulo, principalmente nas regiões de Campinas e Piracicaba. E que "é mais comum entre os meses de maio a novembro, período mais seco em que predominam as formas jovens do carrapato, conhecidas como micuins, que também transmitem a doença".

Então, como essa é justamente a época em que os montanhistas mais saem de suas tocas em busca de novos horizontes, a especialista dá alguns conselhos básicos que podem ser seguidos para evitar ao máximo o risco de contaminação.

  • Usar sempre calças compridas e blusas ou camisas de mangas longas, de preferência de cores claras, para identificar com mais facilidade o carrapato.
  • Usar botas, e, se possível, enfiar a base das calças dentro do calçado. Lacrar a barra das calças com uma fita adesiva também é uma boa ideia que atrapalha a viagem do carrapato pelo corpo do viajante, mesmo que não fique tão elegante na foto para sua rede social. Saúde acima de tudo, combinados?
  • Se possível, evite caminhar por áreas sinalizadas como de incidência de carrapatos. "Em geral, as áreas são marcadas com alertas de risco de febre maculosa e a presença de carrapatos e animais envolvidos na cadeia de transmissão, em especial cães e capivaras (sim, aqueles bichinhos simpáticos que passeiam tão à vontade até pelas marginais de São Paulo), e cavalos também estão envolvidos no ciclo de transmissão da doença.
  • Tente, a cada duas horas, verificar se algum carrapato burlou seus melhores esforços e se instalou em alguma parte da pele exposta (lembrando aqui que nem o rosto está livre de ser atacado por essa praga). "Quanto mais depressa ele for retirado, menores os riscos de infecção se instalar", ressalta a médica.
  • Use repelente que tenha princípio ativo contendo icaridina, aplicando na pele a cada quatro horas, a depender da concentração do repelente. "Alguns têm concentração para longa duração, tem que conferir na embalagem", lembra Tânia.
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    Placas de alerta para risco de febre maculosa colocadas no Parque Ecológico Monsenhor Emílio José Salim, em Campinas - Denny Cesare/Código 19/Folhapress

    Mas vamos supor que, mesmo com todos os cuidados, o viajante detecta o indesejado aracnídeo hematófago (fala sério, olha a descrição científica do bicho, se já não é para assustar!) em algum ponto de sua pele. Antes de entrar em pânico e sair arrancando o parasita de qualquer jeito, é importante atentar para mais algumas regrinhas básicas:

  • Nunca esmague o carrapato ao retirá-lo. Nesse processo, pode haver liberação das bactérias que têm capacidade de penetrar por pequenas lesões na pele, inclusive pelo próprio orifício feito pelo pequeno vilão.
  • Não force o carrapato a se soltar encostando uma agulha ou um palito de fósforo quente. O estresse provocado por esse processo, explica Tânia, "faz com que ele libere grande quantidade de saliva, aumentando as chances de transmissão das bactérias que provocam a doença".
  • O carrapato só deve ser retirado com muito cuidado, com uma pinça, fazendo uma leve torção para que a boca solte a pele —afinal, ele está lá em plena degustação de seu sangue, lembra? Após a retirada, é importante lavar a região atacada com água e sabão e higienizar o local com álcool a 70°. Vamos combinar que não custa tanto levar uma pequena garrafinha no sempre obrigatório kit de primeiros socorros.

OK, mas o viajante, apesar de todos os seus cuidados, deixou escapar um pequeno monstrinho desses e se contaminou. Como identificar a doença?

"Os primeiros sintomas podem ocorrer entre 2 a 14 dias após a picada do carrapato infectado, os sintomas iniciais são são febre alta, dores de cabeça e manchas vermelhas no corpo, por isso chamada febre maculosa. Outros sintomas, como cansaço, fraqueza, perda de apetite, náuseas, vômitos e diarreia podem se apresentar à medida que os dias passam", conta a infectologista.

"Os primeiros sintomas de febre maculosa são febre alta há mais de 24 horas, dores de cabeça e no corpo que começam de repente, manchas vermelhas no corpo, muito cansaço, fraqueza, perda de apetite e diarreia", conta a infectologista. Como nem todos os sintomas aparecem sempre e ao mesmo tempo, a melhor orientação é: na presença de febre alta por 12 a 24 horas, dores de cabeça e história de viagem a locais de mata Silvestre, beira de Lagos, fazendas, sítios, buscar imediatamente assistência médica e informar os profissionais de saúde que visitou recentemente estes locais. Isso contribuirá muito para o diagnóstico de febre maculosa ser lembrado e iniciar a investigação e o tratamento imediatamente.

E já que falamos de saúde, não custa repetir um alerta que a infectologista faz questão de deixar para todo viajante —seja ele trilheiro ou apenas turista de final de semana: "É importante sempre estar com as vacinas em dia, como a da febre amarela, como a da febre amarela, que apresenta risco de transmissão em todo o Brasil".

Além dessa, a antitetânica também ajuda a evitar problemas sérios ao tropeçar com aquele arame farpado enferrujado e escondido no meio da vegetação. Além dessas, a vacina contra a gripe e contra a famigerada Covid, também são valiosas aliadas que ajudam a evitar perder valiosos dias da temporada de montanhas. Porque é mais do que sabido que essas doenças têm o péssimo dom de aparecer sempre nos piores momentos, que poderiam ser desfrutados de forma muito melhor do que fungando no sofá de casa, na frente de uma chatíssima série de streaming, certo? Então, bora lá atualizar a carteirinha, que o Zé Gotinha está a nossa espera!

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