Descrição de chapéu Coronavírus

Saúde quer ajuda de clínicas privadas para recuperar coberturas vacinais

Complemento na rede privada pode ajudar país a alavancar imunização e diminuir risco de doenças

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

As clínicas privadas de imunização do país devem atuar como aliadas do Ministério da Saúde na recuperação das coberturas vacinais.

De acordo com Eder Gatti, secretário do Departamento do Programa Nacional de Imunizações (DPNI), o governo não pode fechar os olhos às doses que são aplicadas na rede privada de vacinação.

Médico Eder Gatti participa de protesto no Instituto Emílio Ribas
Médico Eder Gatti participa de protesto no Instituto Emílio Ribas - Divulgação/Marina Busto/Simesp

"Quando o Ministério [da Saúde] faz o cálculo de cobertura vacinal de meningite meningocócica C [ofertada no SUS], não pode ignorar todas as crianças que são vacinadas na rede privada com a vacina meningocócica ACWY [que inclui os sorotipos A, W e Y, não disponíveis na rede pública]. Em outras palavras, para o Ministério da Saúde interessa saber qual a proporção da população protegida e da população suscetível porque essa é uma das vigilâncias que fazemos", disse Gatti.

A fala ocorreu na manhã da última quinta-feira (8), no 6° Congresso Nacional de Clínicas de Vacinas, em São Paulo.

As clínicas privadas de vacinação inseriam, até 2015, os dados de doses aplicadas em um sistema chamado SI-PNI Rotina, enquanto os dados de aplicação na rede pública eram inseridos no SI-PNI. Nos últimos anos, porém, a pasta da saúde tentou migrar os sistemas de inserção de dados de doses aplicadas, processo que foi acelerado durante a pandemia da Covid.

Agora, todos os dados de vacinação do PNI constam do sistema RNDS (Rede Nacional de Dados em Saúde). A ideia é que as clínicas privadas também tenham os dados migrados, através do SI-PNI e que, aos poucos, essa integração também seja feita com a RNDS.

De acordo com o secretário, o setor privado precisa aderir ao sistema de informação unificado, mas ele reconhece que há desafios, como a falta de padronização das informações e os sistemas que não eram integrados no passado.

"Existe sim um problema desde 2015 de queda da cobertura vacinal no país, mas esse problema é multifatorial, e um dos fatores é o erro de dado. Esse é um dos pontos que estamos tentando melhorar agora no DPNI", disse.

"No futuro, o indivíduo vai poder ter na sua carteira digital [ConecteSUS] dados de vacina que ele tomou no posto de saúde, na clínica privada, qual dose está em atraso. Esse vai ser um dado importante não só para fomentar as políticas públicas e estratégias de campanha, mas também para o próprio cidadão ou consumidor da ponta", afirmou.

No último dia 1°, o Ministério da Saúde publicou uma nota informativa conjunta (n° 4/2023) em que encerra o uso da plataforma SI-PNI definitivamente. Agora, todos os dados serão integrados com o CadÚnico, o cadastro do usuário no governo, e com a RNDS via ConecteSUS.

"No caso das clínicas de imunização privada, esse processo vai acontecer aos poucos, com primeiro a inserção do dado no SI-PNI. Mas é fundamental que a gente consiga as ferramentas para adequar os sistemas e melhorar o dado administrativo de cobertura vacinal", declara Gatti.

Existem hoje 3.000 clínicas particulares de imunização no país, que representam cerca de 10% do setor, de acordo com dados da ABCVac (Associação Brasileira das Clínicas de Vacinas). A maioria delas faz a complementação do calendário infantil de vacinas, preconizado no PNI.

Os dados mais recentes disponíveis mostram que foram aplicadas cerca de 900 mil doses nas clínicas privadas em 2023. Em 2022, foram cerca de 2,8 milhões de doses, número que Gatti considera ser subnotificado justamente pela falta de padronização nos registros.

Em alguns casos, as clínicas privadas oferecem também vacinas para públicos que não são contemplados nas campanhas de imunização nacionais, como a vacinação contra a gripe em pessoas na faixa etária mais jovem (18 a 40 anos) e que não são profissionais da saúde ou gestantes.

"É preciso parar de olhar para o mito de que a vacinação na rede pública é ruim e vacina na rede privada é melhor", disse Miriam Tendler, pesquisadora da Fiocruz e que também participou do 6° Congresso Nacional de Clínicas de Vacinas, na última quinta (8).

"A competitividade entre as indústrias farmacêuticas também é prejudicial. Precisamos trabalhar para que a vacinação seja algo buscado pelas pessoas", completou Gláucia Vespa, diretora médica de vacinas para América Latina do Grupo Adium, em parceria com a Moderna.

Desde janeiro de 2022, as vacinas da Covid podem ser encontradas em clínicas particulares no país. As baixas coberturas vacinais de reforços, porém, preocupam a pasta da saúde, uma vez que as novas cepas do vírus podem aproveitar o chamado decaimento de imunidade e provocar ondas da doença.

Outras vacinas, como a quadrivalente contra a gripe, lançada em março e chamada Efluelda, possui uma alta proteção principalmente nos idosos, sendo assim um complemento à imunização na campanha pública.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.