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Luiza Pastor

Serra Fina reabre trilhas para temporada 2023

Novidades da gestão privada incluem retomada do traçado original e limite de visitantes

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Neste sábado, 1° de abril, será reaberto o acesso às cobiçadas trilhas da Serra Fina, fechado desde 3 de outubro do ano passado. A retomada das atividades de montanhismo no local foi anunciada no sábado (25), em um evento que reuniu, além dos membros da APSF (Associação dos Proprietários da Serra Fina), representantes do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), pesquisadores, empresários de ecoturismo e moradores do entorno.

"Nossa avaliação deste primeiro ano de fechamento foi muito positivo", conta José Antônio Cintra, presidente da APSF. "Constatamos que foi muito bom para a natureza, porque o verão é época de reprodução de muitas espécies e vimos que foi muito importante o fechamento, vai continuar todo ano, seis meses para os montanhistas e seis para a natureza", acrescenta.

Travessia da Serra Fina - Hugo de Castro Pereira/Divulgação

O caso da Serra Fina —cadeia de montanhas localizada na tríplice divisa dos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, na Serra da Mantiqueira e que tem vários acessos por áreas particulares que aderiram à associação—. está sendo acompanhado de perto pelo ICMBio, que sabidamente não conta com braços ou recursos para administrar todas as unidades de conservação e proteção ambiental nos diferentes biomas do país. Na verdade, sob o governo Lula, o órgão sequer nomeou um presidente efetivo, cujo nome deve sair de uma lista tríplice que está sendo estudada por grupo de trabalho criado para levar os nomes à ministra de Meio Ambiente, Marina Silva, em um prazo de intermináveis 50 dias. A parceria com os proprietários das áreas de acesso à serra, assim, pode servir de exemplo para várias áreas de interesse do ecoturismo.

Entre as novidades que a Serra Fina traz para este ano, um dos destaques é a instalação da estação meteorológica na área do cume da Pedra da Mina, quarta mais alta montanha do país, com 2.798 metros de altitude. "Vai ser a estação mais alta do país", conta Cintra. Segundo ele, o equipamento, instalado em parceria com a empresa WS, vai permitir a medição não apenas dos níveis pluviométricos e de temperatura, como também a qualidade do ar na região e a incidência de raios. "A região sudeste do Brasil é reconhecida como a que mais recebe raios em todo o mundo, mas não há estudos detalhados sobre isso, e essa medição, por meio de sensores importados especialmente para esse fim, vai estar disponível no site da associação para o público e para pesquisadores", explica ele.

Três homens brancos, José Savio Monteiro e José Antônio Cintra, vice-presidente e presidente da Associação dos Proprietários da Serra Fina, e Fábio Farraco, chefe do Núcleo de Gestão Integrada da Mantiqueira
José Savio Monteiro e José Antônio Cintra, vice-presidente e presidente da Associação dos Proprietários da Serra Fina, e Fábio Faraco chefe do NGI (Núcleo de Gestão Integrada) ICMBio da Mantiqueira - Divulgação

Outra melhoria que começará a ser implantada nos próximos dias é a instalação, por parte de equipes especializadas dos bombeiros de São Paulo e Minas Gerais, de placas com QR Code para orientação de usuários que tenham qualquer tipo de emergência. "São 60 placas que os próprios bombeiros vão colocar nos locais que consideram de maior risco e que podem ajudar caso seja necessário resgate", acrescenta.

Embora oficialmente a temporada comece neste fim de semana, o excesso de chuvas dos últimos meses ainda compromete a procura da trilha nestes primeiros dias. "Temos para este ano uma cota de 40 visitantes por dia apenas, com descontos progressivos para quem vier fora de finais de semana e feriados", conta ele. Os preços para os visitantes variam de acordo com o tipo de trilha que se pretende seguir e o número de dias de permanência na região.

"Todo o valor arrecadado custeia a mão de obra que lida com portaria, manejo e cuidados", diz José Sávio Monteiro, vice-presidente da APSF e gestor da RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural) Pedra da Mina, área que dá acesso ao cume. No ano passado, entre junho e setembro, ele conta que 1.851 pessoas visitaram a serra, sendo 1.657 montanhistas em vários percursos e 194 guias, que são isentos de pagamento mediante cadastro no site da entidade. Além disso, moradores do entorno têm 70% de desconto na entrada, enquanto atletas que treinam corrida de montanha também são isentos de pagamento. "É uma forma de democratizar a Serra Fina sem comprometer sua manutenção", explica.

As opções oferecidas pela agência Ruah!, que administra e agenda os acessos, vão desde um bate-e-volta de um dia ao Capim Amarelo, com ingresso de R$ 25,20 por pessoa, até a travessia clássica, de 26 quilômetros em quatro dias e três noites, com diversos trechos acima dos 2.000 metros e que inclui os principais atrativos da serra, como Pedra da Mina, Capim Amarelo, Três Estados e Passos dos Anjos. Para este roteiro, é cobrado um valor máximo de R$ 350,00 por visitante, com direito a acampamento no Capim Amarelo, Pedra da Mina e Três Estados.

E, por falar em acampamento, Cintra ressalta que não é mais permitido montar barracas na área antigamente muito usada, chamada de Biloca da Mina. "Depois do fechamento, constatamos que o que era uma mina de água que enchia de barracas ao redor virou um lago, cheio de flores e sapinhos flamenguinhos, serpentes, parece um jardim, mostrando que a gente tem que deixar a serra respirar para ela dar as respostas", acrescenta.

Os montanhistas mais familiarizados com as trilhas da Serra Fina terão mais uma novidade, esta a partir de 2024: a travessia não mais passará pelo Vale do Ruah, nem pelo brejo da nascente do Rio Verde." Devemos fazer o manejo da trilha pelas cristas neste primeiro semestre e abrir para o público a partir de agosto, de forma alternativa, proibindo a passagem pelo Ruah já a partir da próxima temporada", diz Monteiro.

A retomada do traçado histórico pode surpreender montanhistas menos experientes, reconhecem os gestores da associação. "Resgatei alguns registros históricos e, falando com pessoas que faziam a travessia nos anos 1990, vimos que o Ruah não fazia parte do traçado, só acabou sendo incorporado por alguns que desciam lá para pegar água e, para facilitar a trilha, continuavam por lá, que era mais fácil", lembra Monteiro, acrescentando que a mudança, afinal de contas, "não deve assustar o verdadeiro montanhista, aquele que busca a aventura e não tem medo das dificuldades, gosta de um desafio".

Erramos: o texto foi alterado

Ao contrário do que foi publicado inicialmente, o acesso ao Vale do Ruah só será interrompido a partir da temporada de 2024.

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