É Logo Ali

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É Logo Ali - Luiza Pastor
Luiza Pastor
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Que tanto esse povo corre atrás de aventuras?

Desde a pandemia, aumentou a procura por atividades de risco, nem sempre observando a segurança

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Que durante a pandemia todos buscávamos a menor brecha para escapar das paredes a que nos tinham confinado as autoridades sanitárias não é novidade. Quem pôde, fugiu para algum canto paradisíaco do mato mais próximo, agarrado ao computador no home office e torcendo para a conexão do celular não dar um perdido. Mas, passado o perrengue pandêmico, a procura por atividades ao ar livre, de preferência com algum estímulo à adrenalina envolvido, não só não arrefeceu, mas aumentou em todo o planeta.

De acordo com a psicóloga clínica Larissa Bez, especialista na abordagem da terapia cognitivo comportamental, o bichinho da aventura se multiplicou pelo tecido da sociedade moderna porque as pessoas estão apresentando cada vez mais "uma maior abertura a novas experiências, encontrando assim, uma forma valiosa de introduzir emoção e prazer, enriquecendo suas vidas ao evitar a monotonia do cotidiano".

Na serra catarinense, aventureiros praticam salto com pêndulo, tirolesa e tirolesa com bicicleta
Na serra catarinense, aventureiros praticam salto com pêndulo, tirolesa e tirolesa com bicicleta a 120 metros de altura - Divulgação/Natural Extremo

Com essas experiências, aquelas pessoas que limitavam seus exercícios às quatro paredes de uma eventual academia ou ao futebol de domingo, descobrem que atividades de aventura permitem estimular uma série de recompensas químicas bem conhecidas do mundo médico: a adrenalina, a dopamina e a serotonina, substâncias neurotransmissoras que, liberadas no cérebro, formam a tríade do prazer.

O problema começa quando o candidato a aventureiro desconhece seus limites e busca ir cada vez mais longe (mais alto, mais fundo...) sem o necessário preparo. "Justamente pelo sistema de recompensa que nosso cérebro busca, estamos vivendo uma constante busca pelo prazer, e tem acontecido cada vez mais as pessoas procurarem atividades extremas, elas querem ir ao Everest, ao K2, e são convencidas por agências irresponsáveis de que hoje em dia qualquer um pode ir com preparo mínimo", adverte.

A psicóloga Larissa Bez
A psicóloga Larissa Bez - Divulgação/Natural Extremo

Deixar-se convencer de que o céu é o limite e que basta querer para escalar o Everest é comparado por Larissa com o vício em drogas. "Pessoas que têm um comportamento vicioso, ou compulsivo, como chamamos, saem da realidade por meio da aventura e querem cada vez mais, porque as substâncias que a aventura gera dão prazer", explica. Cabe então aos agentes avaliar o perfil daqueles que procuram seus serviços.

Um exemplo de prudência são as operadoras que levam excursões ao Pico da Neblina, no Amazonas. No site das operadoras e agências parceiras é alertado que se trata de uma trilha de alta dificuldade. Pessoas que estejam com mais de 10 kg acima do chamado "peso ideal" devem passar por uma entrevista antes de fechar o pacote e quem tem problemas de joelhos, coluna ou qualquer tipo de enfermidade crônica ou psicológica só pode fazer reserva com parecer médico, como contou Magno Souza, da Roraima Adventures, ao blog. "Não é exagero, é cuidado e responsabilidade, definiu Souza.

Divulgação
Magno Souza, da Roraima Adventures, em expedição ao Pico da Neblina - Divulgação/Divulgação

Outro bom exemplo de atenção vem da Natural Extremo, agência que nasceu da paixão de dois sócios praticantes de highline, modalidade de skyline na qual os praticantes cruzam (muito) altos vãos sobre fitas de poucos centímetros de largura. Como o highline não é tão difundido nem acessível ao comum dos mortais, a agência acabou se especializando em atividades como o salto de pêndulo, a tirolesa sobre o cânion e a tirolesa de bike. O ponto de partida fica a 120 metros de altura e o percurso, no caso da bicicleta (especialmente adaptada para não sair do cabo que a sustenta), é de 580 metros ida e volta.

Desenvolvidas em uma das mais lindas paisagens do país, em Urubici, na serra catarinense, as atividades da Natural tiveram um grande aumento da procura justamente no começo do afrouxamento das regras de isolamento da pandemia. "Nesse momento, era comum as pessoas voltarem dos saltos chorando e dizendo que havíamos ressignificado suas vidas", lembra Fernanda Dornelles, sócia e diretora de marketing da agência.

Fernanda Dornelles, sócia e diretora de marketing da Natural Extremo
Fernanda Dornelles, sócia e diretora de marketing da Natural Extremo - Luis Felipe Almeida/@Naturalextremo

Mas Fernanda alerta que não basta pagar para sair quicando pelo cânion da cascata do Avencal. "Embora não sejamos um esporte, mas uma atividade, quando as pessoas chegam ao site ou pessoalmente precisam assinar um termo de responsabilidade, pois sim, estamos suscetíveis a várias questões, inclusive machucados e eventualmente uma fatalidade, mesmo com todos os cuidados de manutenção de nossos equipamentos", explica ela.

Para se inscrever, o candidato precisa preencher um questionário respondendo se tem algum problema de coração, labirintite, pânico e várias outras realidades. "Se ela diz que sim a alguma dessas questões, não adianta, não vai fazer a atividade, é a nossa regra", garante Fernanda, que também é diretora da Abeta (Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura), que exige de seus associados uma série de normas de segurança —mas aí é conversa para outra semana.

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