Entretempos

Curadoria de obras e exposições daqui e dali, ensaios entre arte, literatura e afins

Entretempos - Cassiana Der Haroutiounian
Cassiana Der Haroutiounian

Quem mandou matar Marielle? Ensaio Palavra-Imagem

com Bianca Santana e Monika Wulfers

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Dando sequência ao nosso especial de Abril só com vozes femininas no Ensaio Palavra-Imagem, eu a Pat Ditolvo trazemos Bianca Santana acompanhada das obras luminosas da artista alemã Monika Wulfers. Doutora em ciência da informação e mestra em educação pela USP, com diversas publicações, Santana é jornalista, e joga luz sobre temas muitas vezes deixados na sombra. As obras de Wulfers, com fotografias, vídeos, instalações e pinturas, têm nas linhas unidades objetivas da realidade visual que não se encontram na Natureza. Suas configurações lineares formam obras únicas dentro de um corpo maior de possibilidades. As luzes de Monika com as sombras iluminadas de Bianca formam um encontro potente e preciso.

lâmpadas compridas em instalação com formas diferentes
instalação da artista Monika Wulfers - reprodução

A luz é sempre igual a uma outra luz.

Depois se modificou: de luz se tornou alvorada incerta,

(...) e a esperança teve uma nova luz.

Pasolini, a resistência e sua luz, 1961

Primeiro, desapareceram mesmo os vaga-lumes? Desapareceram todos? Emitem ainda - mas onde? - seus maravilhosos sinais intermitentes? Procuram-se ainda em algum lugar, falam-se, amam-se apesar de tudo, apesar do todo da máquina, apesar da escuridão da noite, apesar dos projetores ferozes? (Didi-Huberman, p. 45)

E eis então a reaparição, a descoberta encantada dos vaga-lumes: "Eles são uns vinte que se movimentam em torno das folhagens. Nós exclamamos (...) cada um conta onde e quando os viram (...)." Beleza inesperada, no entanto, tão modesta: "Outros dois voam um atrás do outro, um pouco mais longe, dois pequenos traços alternados de morse luminosos na parte inferior do talo." Beleza siderante que é a de "ver isso ao menos uma vez na vida". (Didi-Huberman, p.47)

lâmpadas compridas em instalação com formas diferentes
instalação da artista Monika Wulfers - exclusivo entretempos - reprodução

— Suba no palco comigo.

De vestido estampado, com amarelo predominante, cabelos crespos presos e um brinco dourado redondo, a mulher tranquila de estatura baixa olhou firme nos olhos de Anielle. Depois do abraço apertado, fez o convite.

Antes daquele encontro, em Bogotá, Francia Marquez já havia pedido justiça por Marielle nas ruas de diferentes cidades colombianas. Agora candidata à presidência da república, recebera a notícia de que a irmã de Marielle havia chegado do Brasil para prestigiar sua candidatura.

No palco, Anielle Franco de um lado. Do outro, uma mulher que perdera o marido, defensor de direitos humanos, 7 dias antes, assassinado a tiros na cozinha de casa enquanto ela conseguiu se esconder.

— Não suportamos mais essa política de morte, nem na Colômbia, nem no Brasil, nem em nenhuma parte. Precisamos interromper os conflitos armados. Precisamos de uma economia para a vida, de mulheres negras deslocadas da resistência para o centro do poder, criando uma política de vida.

Centenas de pessoas ocupavam o Auditorio Mayor, na calle 23, para ouvir uma saudação de Francia antes de irem às urnas. A expectativa não parecia ser a vitória. Não agora. Mas gerar o acúmulo necessário para que no futuro uma mulher negra feminista antirracista, camponesa, advogada, mãe solteira, lutadora possa ocupar o mais alto posto do poder executivo no país. Em uma política de vida.

Anielle imaginava como teria sido a campanha de sua irmã à presidência.​

lâmpadas compridas em instalação com formas diferentes
instalação da artista Monika Wulfers - exclusivo entretempos - reprodução

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