O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) atravessou a Praça dos Três Poderes nesta segunda-feira (9). Caminhou com ministros, governadores e outras autoridades até a sede do Supremo Tribunal Federal. Ao lado da presidente do STF, Rosa Weber, e de outros membros da Corte foi ver as instalações destruídas pelo terrorismo bolsonarista.
A última vez que um presidente atravessou a pé a Praça dos Três Poderes para ir ao STF foi em maio de 2020. Na ocasião, o então presidente Jair Bolsonaro, alguns de seus ministros e um pequeno grupo de empresários fizeram visita de surpresa ao Supremo, para constrangimento do então presidente da corte, ministro Dias Toffoli.
Era um evento fake. Não estava na agenda dos dois presidentes.
Bolsonaro alegou que os empresários levaram ao STF "aflições" provocadas pelo coronavirus, como o desemprego e "a questão da economia não funcionar".
A caminhada improvisada do "mito", em 2020, foi vista como uma tentativa de fazer média com o empresariado e dividir com o STF o ônus dos efeitos da pandemia.
A caminhada organizada por Lula, em 2023, foi a manifestação das principais lideranças do país de repúdio ao golpismo plantado e alimentado por Bolsonaro.
Entre os dois atos, o Supremo foi palco de uma articulação militar para impulsionar a candidatura de Bolsonaro; viria a ser, depois, a principal barreira ao golpismo; hoje é a grande referência para a consolidação da democracia com base no entendimento e respeito às diferenças.
Um general na Corte Suprema
Quando o capitão atravessou a praça, esvaziou publicamente a pretensão de Toffoli, que aspirava o papel de interlocutor entre a toga e a farda.
Estava na comitiva de Bolsonaro o então ministro da Defesa, general Fernando Azevedo. Toffoli abriu as portas do STF aos militares quando convidou Azevedo para assessorá-lo em seu gabinete.
O então decano, Celso de Mello, foi o único membro do STF a criticar a presença de um general como assessor no Supremo.
Meses depois, Azevedo sobrevoaria de helicóptero uma manifestação contra o Judiciário, ao lado de Bolsonaro.
Azevedo foi indicado a Toffoli pelo general Eduardo Villas Bôas, então comandante do Exército, um bolsonarista a quem o capitão agradeceu publicamente pela eleição. Durante a campanha eleitoral, Azevedo integrou "um grupo de suporte" à chapa de Bolsonaro.
Consolidação da democracia
O primeiro presságio da militarização do país ocorreu em 1º de outubro de 2018, quando Toffoli fez a seguinte declaração: "Hoje, não me refiro nem mais a golpe nem a revolução. Me refiro a movimento de 1964".
Toffoli chegou a afirmar nunca ter visto da parte de Bolsonaro e de seus ministros "nenhuma atitude contra a democracia".
Toffoli nasceu três anos depois do golpe de 64. Foi duramente criticado por sua reinterpretação daquele período de trevas.
Ele estava presente na reunião convocada por Lula no gabinete blindado da Presidência da República, depois dos ataques bolsonaristas às sedes dos Três Poderes.
Supõe-se que a realidade tenha provado ao ministro a diferença entre movimento e golpe.
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