Guia Negro

Afroturismo, cultura negra e movimentos

Guia Negro - Guilherme Soares Dias
Guilherme Soares Dias

Afropunk é quilombo ambulante onde pretos podem ser quem são sem medo

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Guilherme Soares Dias
Salvador

O que os pretos fariam se não tivessem que se preocupar com o racismo? Desfilariam com roupas dignas do reino de Wakanda, sorririam uns para os outros, dançariam, conectariam-se com novas referências, sem esquecer da ancestralidade vinda da diáspora africana. Neste fim de semana (25 e 26), depois de um longa espera, o Afropunk Bahia vai acontecer em sua plenitude, transformando-se num quilombo ambulante e do futuro, onde cada jovem preto ou preta pode ser mais um, sem medo de ser quem é, viabilizando toda a sua potência.

O festival começou no Brooklin, em Nova York, a partir de um documentário de 2003 dirigido por James Spooner, que conta a história de quatro afro-americanos que viviam o punk rock lifestyle no início dos anos 2000. Depois disso o festival teve edições em Atlanta, Paris, Londres e Johanesburgo. O namoro com o Brasil é de longa data, com interesse de ambas as partes. Em 2019, fui um dos organizadores de um jantar em São Paulo que reunia a comunidade afropunker brasileira. Naquele momento a preocupação era justamente se negros e negras brasileiras comprariam a ideia de um festival que, para além de música, reúne moda, empreendedorismo e talks sobre os temas mais urgentes e diversos.

Uma festa na Audio no mesmo 2019 lançou o festival, que garantiu ainda presença no Carnaval 2020 de Salvador em que reuniu Mano Brown, Afrocidade, Ilê Aiyê, Baiana System, Muzenza, entre outros. Com a pandemia, o festival criou uma versão digital em 2020. Em 2021, num primeiro arrefecimento do coronavírus, o Afropunk Bahia estreou numa versão para cerca de 3 mil pessoas no Centro de Convenções. O formato com feats entre cantoras como Luedji Luna, Margareth Menezes, Tássia Reis, pôr-do-sol e gente preta estilosa agradou.

Show de Tássia Reis com o Ilú Obá de Min
Show de Tássia Reis com o Ilú Obá de Min na primeira edição do Afropunk Bahia, no Centro de Convenções Salvador - Divulgação

Mesmo com longa estrada, não foi fácil atrair marcas para um evento fora do eixo Rio-São Paulo. As empresas consideravam o festival como ação regional. Até vir a TV Globo que vai transmitir os melhores momentos em TV aberta e garantir a visibilidade merecida. Entre as atrações de 2022 estão Ludmilla, Masego, Emicida, Liniker, Psirico, Dama do Pagode, entre outros, firmando o festival no calendário de grandes eventos do ano. São esperadas 20 mil pessoas e, nesse momento, há dezenas de grupos no Whatsapp que aquilombam jovens de várias partes do país que estarão no festival. A movimentação econômica é grande: lojas de roupa, de acessórios, restaurantes, hospedagem, outras festas e tours ligados a história e cultura negra estão bombando na capital baiana.

Em resumo, o Afropunk é um grande encontro de uma comunidade, com atitude, gosto por moda e música boa. É preciso lembrar que pessoas negras curtindo a vida juntas ainda é algo afrontoso e o festival é, portanto, uma militância futurista, que parece reunida só para assistir shows, mas celebra a existência, a história e a potência do povo preto. O extravasamento estético vai para além do impacto visual, possibilitando que uma comunidade inteira possa sentir-se incrível e potente e que todos nós queiramos estar na mesma roda. Neste fim de semana todas as pessoas pretas serão afropunkers.

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