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Afroturismo, cultura negra e movimentos

Guia Negro - Guilherme Soares Dias
Guilherme Soares Dias

Ministério do Turismo precisa de técnicos, investimentos e diversidade

Atividade turística sofrecom a descontinuidade das políticas públicas

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Guilherme Soares Dias
Salvador

O anúncio de novos ministros do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva causou frescor e alívio para o eleitorado mais progressista que o elegeu. Mas nem todos os ministros eram aqueles que esperávamos. Para quem trabalha com turismo, ver o setor mais uma vez loteado na distribuição partidária, sendo destinado a acomodar uma representante de um partido de direita, para garantir votos no Congresso, foi uma decepção gigante.

O pior: a nova ministra Daniela Carneiro, ou Daniela do Waguinho, como é conhecida a deputada federal eleita pelo União Brasil no Rio de Janeiro, não tem histórico na área e ainda possui forte ligação com a milícia carioca, um contexto que parece dialogar com o governo anterior. Uma pressão na mídia se instaurou, mas a ministra se segurou em seus padrinhos políticos e não caiu.

Profissionais do setor, alunos de pós-graduação em Turismo e professores elaboraram um abaixo assinado pedindo que o ministério seja composto por "profissionais com perfil técnico, experiente e especializado, com ampla compreensão das dimensões sociais, ambientais, econômicas e culturais do turismo brasileiro". O documento lembra ainda que desde 2016 a atividade turística sofre com a descontinuidade das políticas públicas, impactando negativamente o setor.

Isso porque esse não é o primeiro governo a destinar o turismo para partidos que precisam apoiar o governo em troca de cargos. A necessidade de uma equipe técnica garante, segundos os representantes do setor, que o órgão federal "direcione ações, crie novos projetos, planos, programas e ajudar a reposicionar o Brasil enquanto destino turístico".

Um bom exemplo de país que leva o turismo a sério investindo, capacitando e reconhecendo a importância do setor para a economia do país é a África do Sul, que desde a Copa do Mundo de 2010 melhorou infraestrutura e trabalha para posicionar o país como destino turístico com diversas possibilidades.

Com tantas belezas naturais e cultura única, o Brasil precisa ainda fazer um longo trabalho para desenvolver o turismo e ver os resultados com a chegada de mais turistas internacionais. Antes da pandemia, o setor respondia por 8% do Produto Interno Bruto (PIB) e os investimentos podem garantir a ampliação desse percentual.

Foi Lula quem criou o Ministério do Turismo em 2003, a expectativa agora é de uma pasta mais atuante e próximo das entidades e empresas do setor. O primeiro desafio da ministra em sua gestão é o orçamento que sofreu redução de 74% em relação a 2022, ficando em R$ 19 milhões.

Para nós, que trabalhamos com afroturismo, o novo governo era a esperança de ver o setor finalmente sendo reconhecido e valorizado. A expectativa é de que o afroturismo esteja nos mapeamentos promovidos pelo ministério, receba investimentos na formação dos profissionais da área, nas políticas públicas e, com a inclusão da pauta racial e valorização da cultura negra. Ou seja, esperamos que o Ministério do Turismo volte as suas origens, com fomento de segmentos turísticos, com novas possibilidades de aumentar a diversidade, desenvolvendo um turismo antirracista em todas as instâncias do setor. E, então ministra, bora conversar?

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