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Afroturismo, cultura negra e movimentos

Guia Negro - Guilherme Soares Dias
Guilherme Soares Dias

10 dicas para conhecer a Belo Horizonte negra

Guia Negro reuniu dicas do que fazer na cidade ligadas a cultura e história negra

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Guilherme Soares Dias

Belo Horizonte surpreendente é o slogan da prefeitura da capital mineira que faz jus a todas às descobertas que os visitantes vão fazendo em sua estadia na cidade. BH, como é chamada carinhosamente, possui cultura e histórias negras pulsantes e o Guia Negro reuniu dicas do que fazer na cidade.

Belo Horizonte foi construída após o fim do período da escravização (tornou-se cidade em 1897) e não teve lugares como pelourinho, largo da forca, cemitério dedicado a pessoas negras e mercado de escravizados, como as cidades mais antigas brasileiras.

É capital de um estado que recebeu uma grande mão de obra negra para extrair ouro das minas, que levaram não apenas força física, mas conhecimentos, como o da extração de materiais preciosos, além da cultura, religiosidade e línguas, que deixaram uma contribuição inegável para a identidade brasileira e também mineira.

Cerca de 65% da população da região metropolitana de BH se identifica como negra, segundo o censo de 2010 do IBGE (os dados de 2022 ainda não foram divulgados) e essa africanidade está por toda parte.

Confira 10 dicas de cultura e história negra de BH:

1 – Festival de Arte Negra (FAN)

A cada dois anos o festival traz diversas manifestações culturais como shows, teatro, performances, dança, debate e muito mais para a capital mineira. A edição de 2023 ocorre entre 23 e 29 de outubro e traz na programação apresentações de Chico César, Virgínia Rodrigues, MV Bill, além de uma roda de conversa com a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco. A trança será o símbolo desse ano, que terá como tema: passado, presente e futuro. Em 2019, estive no festival e assisti à apresentação da Orkestra Rumpilezz, com o maestro Letieres Leite, musicando o livro "Um defeito de cor", de Ana Maria Gonçalves, entre outros momentos memoráveis. Vale se programar.

2 – Viaduto Santa Tereza

A parte de baixo do viaduto foi ocupada pela juventude negra. Por ali, há pista de skate, batalhas de rap, além do samba da meia noite que ocorre na última quinta de cada mês. Já o Teatro Espanca recebe programações como o Mercado Negro, uma feira de afroempreendedores, com bate-papo e apresentação musical. E o 2 Black Beer oferece cerveja gelada e atrações culturais para quem passa por ali. Sem falar que ao atravessar o viaduto, chegamos a Rua Sapucaí, uma espécie de orla da cidade, onde de um lado ficam bares e restaurantes hipsters e de outro lado a mureta, onde jovens confraternizam com o belo horizonte dos grafites e da estação de trem central ao fundo.

3 – Estátua de Iemanjá

Na lagoa da Pampulha, um dos cartões-postais da cidade, além igreja projetada por Oscar Niemeyer e da pista de caminhada, há uma (pequena) estátua de Iemanjá, orixá considerada a rainha do mar, que é representada negra e bastante visitada por pessoas de religiões de matriz africana. Entre os cerca de 150 monumentos da cidade, esse é um dos três que reverenciam pessoas negras. Há ainda um preto velho, no bairro Silveira, e Zumbi dos Palmares, no bairro de Santa Efigênia. Andar pelo entorno da lagoa é sempre um programa recomendado pelos mineiros, que costumam ir depois nos bares da região, destaques para o Bolão Esplanada Mineirão e Alaide Botequim.

4 – Sambas e Adriana Araújo

Os sambas têm se fortalecido em Belo Horizonte. A cidade tem um carnaval famoso por atrair todos os públicos em blocos nas ruas, com fantasia, diversão e um toque de questões políticas. Muitos blocos fazem ensaios ao longo do ano, que esquentam no pré-carnaval. Entre os sambas está o 3 Pretos Bar, Samba do Cacá e aos domingos o No Morro. Um dos destaques da cena é a cantora Adriana Araújo, que se apresenta em várias casas e tem aquela voz de arrepiar. Vale acompanhar a agenda e segui-la. A cidade recebe ainda o Poeira Pura, roda de samba que sai do Rio uma vez por mês para agitar a capital de Minas.

5 – Lagoinha

O bairro na região central é considerado o marco zero da cidade e também do samba. Por lá fica o Viva Lagoinha, um movimento de resistência que trabalha pela requalificação do bairro ao mesmo tempo que luta contra sua gentrificação. Além de agitador cultural, o fundador do Viva Lagoinha, Filipe Thales, organiza o Rolezin Lagoinha, um tour que passa pelos lugares importantes e apresenta os personagens do local. O Quintal do Degas serve o famoso torremo croc croc. E a casa de eventos Aquilombar será inaugurada em novembro trazendo shows e mais cultura para a região chamada também de Pequena África. Aliás, o copo chamado de americano é batizado de Lagoinha na cidade pelo fato de o bairro ter sido o primeiro ponto de venda e de popularização do objeto entre os boêmios.

6 – Grafites

Mural da artista Criola, feito durante o festival Cura, é um dos destaques da arte urbana na cidade (Foto: Área de Serviço/Divulgação) - Área de Serviço/Divulgação

O projeto de grafites em prédios da região central transformou a cidade em uma galeria à céu aberto. Há obras como a de Robinho Santana, que retratam o afeto negro e que causou polêmica por trazer a pixação para a principal avenida da cidade, a Afonso Pena, onde ocorre a feira hippie aos domingos. São murais gigantes espalhados pela região central e em alguns bairros. A Rua Américo Scott, no Bairro Serra, tem se tornado um ponto turístico por reunir trabalhos de importantes nomes da arte urbana de BH. As empenas trazem desenhos de Thiago Mazza, Criola e Priscila Amoni, além de artistas da cidade como Clara Valente, João Gabriel dos Santos Araújo e Gabriel Dias.

7 – Caminhada Belos Horizontes Negros

Turistas em frente a antiga Igreja Rosário dos Pretos
Caminhada Belos Horizontes Negros percorre lugares históricos da capital mineira - Heitor Salatiel

O roteiro feito a pé, uma vez por mês, mostra as histórias com cultura e história negra do centro. Revela personagens como Maria do Arraial, que viveu no local onde hoje é o Palácio da Liberdade e no qual começa o tour. Passa pelas narrativas dos primeiros trabalhadores e construção da cidade, chegando aos dias atuais com elementos da cultura negra como as batalhas de rima e as congadas. O tour realizado pela Sensações Turismo, em parceria com o Guia Negro, contempla ainda o local onde ficava o Largo do Rosário e a antiga Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, que teve seus vestígios recém-descobertos e mostra a importância da união do povo preto. O trajeto termina no Mercado Novo, local de encontros e expoente da culinária mineira.

8 – Comida

Pamonhas da Dona Doceira
Pamonhas são feitas de milho e enroladas na palha, como comidas dos países africanos - Casa Florália/Divulgação

A comida servida em BH bebe bastante das fontes da africanidade. O frango com quiabo e o angu são pratos similares com comidas servidas no continente-mãe. As semelhanças da culinária mineira e a comida servida no Oeste Africano vai desde os ingredientes quanto em modos de fazer. A pamonha, por exemplo, é feita com milho verde ralado, leite de coco e açúcar, envolto em palha de milho e cozido. A origem tem tradições indígenas, mas tem influência africana, uma vez que é uma variação de um bolinho chamado acaçá, também feito de milho e servido na palha. Já o famoso tutu vem do quimbundo ki’tutu — idioma banto de Angola —, e também pode ser chamado de ungui. É a diáspora africana em Minas.

9 – Muquifu

O Museu dos Quilombos e Favelas Urbanos (Muquifu) foi criado em 2012 com a missão de garantir o reconhecimento e a salvaguarda das favelas que denomina de "os verdadeiros quilombos urbanos do Brasil". O local reúne acervo de fotografias, objetos, imagens de festas, danças, celebrações, tradições e histórias que representam a tradição e a vida cultural dos moradores das diversas favelas e quilombos urbanos mineiros. O Muquifu é considerado um ponto de representatividade pelos moradores das comunidades do Papagaio e Barragem. Localizado na Rua Santo Antônio do Monte, 708, Santo Antônio, abre as terças e quintas-feiras, das 13h às 17h. A entrada é gratuita.

10 – Congadas

As congadas com suas guardas (ou ternos) de moçambique, congo, caboclo, marinheiro, vilão e catopé reapresentam nas ruas a história da retirada de Nossa Senhora do Rosário do mar pelos negros escravizados. Os reinados estavam na região antes do surgimento de BH, nas fazendas escravagistas que integravam a antiga vila de Curral Del Rey. A tradição também migrou com a mão de obra operária vinda do interior para construir a nova capital. Hoje, há dezenas de congados nas periferias da cidade que se apresentam, principalmente, no mês de junho. O Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico considera essa "a manifestação cultural de maior destaque no estado, existente há mais de 300 anos".

E, você, quais as suas dicas da Belo Horizonte Negra?

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