Haja Vista

Histórias de um repórter com baixa visão

Haja Vista - Filipe Oliveira
Filipe Oliveira

O colar de girassol e as deficiências invisíveis

Acessório que ajuda na identificação de pessoas que podem precisar de prioridade, empatia e atenção ganha espaço na lei brasileira

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São Paulo

Diversas cidades e estados brasileiros incluíram em suas legislações nos últimos dois anos o reconhecimento e as regras de uso do colar de girassol.

O adereço, um cordão verde estampado com pequenas flores, tem por finalidade tornar visíveis deficiências que podem não ser percebidas de imediato.

Também chamadas de invisíveis ou ocultas, elas incluem o transtorno do espectro autista e o déficit de atenção e hiperatividade e a demência. Os termos também podem valer para alguém com uma prótese que fica sob a roupa ou outras condições que passam despercebidas.

O cordão surgiu no Aeroporto de Gatwick , em Londres, em 2016. Funcionários da unidade passaram a indicar com o acessório passageiros que precisavam de prioridade.

Mundo afora ele vem ganhando a função de agilizar o atendimento de quem precisa, mesmo que não aparente, e promover atenção especial, incluindo empatia, mais paciência, compreensão e explicações detalhadas.

Pode parecer estranho estampar no peito a deficiência. Mas a verdade é que isso pode trazer conforto.

Uma pessoa com autismo e que sente desconforto e pode passar por uma crise ao esperar em uma fila, por exemplo, certamente deve ficar constrangida ao ter de explicar sempre sua situação para atendentes ou demais pessoas que estão ali aguardando sua vez. E ainda deve recear não ser compreendida ou passar por mentirosa.

Ou pior, poderia ser questionada de forma rude ao ser vista junto com os mais velhos ou com deficiências evidentes na fila preferencial.

Entre os estados que já regulamentaram o uso do colar estão Espírito santo, Mato Grosso, Amapá, Sergipe e Rio de Janeiro.

Além disso, o Distrito Federal e as cidades de Belo Horizonte, Juiz de Fora (MG) Guarulhos, Jacareí e São Carlos (SP), já adotaram o colar, para citar algumas.

Uma ideia parecida já vem sendo difundida entre pessoas com deficiência visual: usar a cor da bengala para indicar quem tem cegueira, baixa visão ou surdocegueira.

Quem precisa da bengala para se locomover, mas ainda enxerga algo, tem a recomendação de usar uma bengala verde. Quem não enxerga nada fica com a branca e quem tem deficiência visual e auditiva fica com uma vermelha e branca.

Sendo um apessoa com baixa visão, penso que essas ideias são boas para dar segurança para nós que temos uma deficiência nem sempre compreendida.

Quando comecei a andar de bengala, por um lado me senti mais confortável, por não ficar mais constrangido quando alguém me cumprimentava dando a mão e eu não via ou quando precisava de ajuda e não sabia como abordar um desconhecido para pedir qualquer favor relacionado à visão.

Por outro lado, naquela época não existia esse padrão que dividia as bengalas por cores e o medo de alguém me ver de óculos e vir me confrontar por achar que eu estava fingindo cegueira para tirar vantagem era real.

Uma bengala da cor certa ou um colar que explique rapidamente a condição da pessoa pode evitar medos e constrangimentos do tipo.

Por outro lado, ainda são pouquíssimas as pessoas que entendem de imediato que não uso uma bengala verde só por ser palmeirense e amante da natureza.

As ideias são boas, o desafio é fazer com que a maioria das pessoas conheçam os sinais presentes nesses acessórios. Quando encontrar alguém com um colar bonito desses, lembre-se de que, Mais do que belos enfeites, são pedidos gentis de mais respeito e compreensão.

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